Por que o dólar superou os R$ 5? Entenda os motivos desse aumento

O dólar voltou a ultrapassar a barreira dos R$ 5 após meses abaixo deste patamar. No pregão de ontem, a moeda encerrou o dia cotada a R$ 5,02. Entenda o que explica o aumento.

O que aconteceu

Amanhã é dia de Superquarta. O Fomc (Federal Open Market Committee), do Fed, e o Copom (Comitê de Política Monetária Banco Central), do Banco Central, se reúnem para discutir política monetária, definir e então divulgar as taxas de juros dos Estados Unidos e Brasil, respectivamente.

O mercado espera que o Fed mantenha os juros no atual patamar (entre 5,25% e 5,5%). Os mais recentes dados de inflação (CPI e o PPI de fevereiro) indicam que o aperto monetário deve continuar no país. A atual taxa de juros é a mais alta para o país em 22 anos.

No Brasil, por outro lado, a expectativa é de um corte de mais 0,5 ponto percentual, e uma Selic em 10,75%. O mercado acompanha e aguarda as decisões, o que influencia diretamente o câmbio.

O dólar não ficava acima dos R$ 5 desde outubro do ano passado. O último Boletim Focus, divulgado hoje, indica que a expectativa é que o câmbio encerre o ano em R$ 4,95 (levemente acima das últimas projeções, que eram de R$ 4,93).

Um dos principais motivos que explicam o aumento do dólar é que a inflação dos EUA está pressionando a curva de juros no país. Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed, explica a expectativa de cortes de juros aqui no Brasil ao longo de 2024 e a incerteza sobre o cenário dos juros lá fora diminuem a vantagem do chamado carry trade (tomar dinheiro em uma determinada taxa de juros e aplicá-lo em outra moeda — neste caso, tomar dívida em dólar e aplicar em juros, em real, no Brasil).

Luan Aral, trader e especialista em dólar da Genial Investimentos, ainda cita o aumento da taxa de juros no Japão como um dos motivos para a alta. O BoJ (Bando do Japão) anunciou hoje que abandonou sua política de juros negativos e elevou taxa de depósitos de -0,1% para faixa de 0% a 0,1%. Foi a primeira alta em 17 anos, o que também fez o dólar subir em praticamente todos os países emergentes.

O dólar está subindo contra a libra, o dólar está subindo contra o euro, o dólar está subindo contra o dólar canadense, o dólar australiano e principalmente o dólar está muito forte contra o iene do Japão. Então, o fato de o Banco Central japonês ter aumentado a taxa de juros por lá também retira liquidez aqui do Brasil e naturalmente acaba atraindo liquidez para o Japão.
Luan Aral, trader e especialista em dólar da Genial Investimentos

A saída de capital estrangeiro do país também influencia o câmbio diretamente. Dados da B3 mostram que desde o início de 2024, estrangeiros têm retirado dinheiro no país: no acumulado ano, o déficit supera os R$ 20 bilhões. O dólar é uma commodity financeira, então, via de regra, tem seu preço diretamente influenciado pela oferta e demanda. Se há menos dólares disponíveis no mercado, a cotação aumenta.

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O que esperar para 2024?

O dólar deve se fortalecer ainda mais em relação as outras moedas se a sinalização do Fed for mais hawkish (agressiva), explica Leandro. Em tese, é o que o mercado está esperando: que o Fed mantenha os juros mais altos (entre 5,25 e 5,5%) sem sinalização de cortes tão cedo.

Alguns pontos pedem atenção. O diferencial de juros entre as taxas de Brasil e Estados Unidos: quanto menor for, maiores são as chances de o dólar subir contra o real. Idem no sentido contrário. Se o cenário interno se deteriorar, podemos ver uma elevação da saída de capital estrangeiro do país, fortalecendo o dólar. Mantido um cenário mediano (não tão positivo, nem tão negativo), podemos ver o dólar comportado, como vimos nos últimos meses, entre R$ 4,85 e R$ 5,15. Se piorar, podemos ver o dólar voltando para o patamar das máximas atingido em 2022, por volta dos R$ 5,50.
Leandro Petrokas, diretor de research, mestre em finanças e sócio da Quantzed

Glauber Mota, CEO da fintech Revolut, avalia que o mercado pode esperar uma certa volatilidade. Uma série de fatores permitiram um alívio momentâneo e temporário na pressão sobre o dólar nos últimos meses, como a expectativa de redução de juros nos EUA, gastos mais controlados no cenário doméstico, e a aprovação de reformas importantes no Brasil, que deram um pouco mais de previsibilidade sobre a economia local.

O executivo também cita a melhora sobre a percepção de risco sobre o país. As agências especializadas elevaram o rating do Brasil nos últimos meses (S&P elevou para BB, Austin Ratings elevou para BB+), o que também criou a expectativa de que mais capital estrangeiro seria atraído.

Ele avalia que houve uma certa "frustração" dessas expectativas positivas. Não há sinalização de uma queda na taxa de juros dos EUA tão cedo (visto que a inflação persiste) e o aumento de gastos do governo no Brasil pode demandar uma revisão fiscal para este ano e para os próximos.

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Glauber acredita que o dólar deve ficar entre R$ 4,85 e R$ 5,15 ao longo de 2024. "Mas tem aquele ditado, que diz que quando o dólar vai subir, pode subir de elevador e, na hora de cair, ele cai e desce de escada. Então eu diria que tem mais pressão do lado da subida do que do lado da queda", diz.

Nesse cenário, onde a pressão para cima pode ser muito maior do que a pressão para baixo, a nossa recomendação para quem tem algum tipo de comprometimento, ou pretende viajar no futuro, seria ir comprando aos poucos, fazendo um preço médio durante a subida, porque se cair, pode ter uma oportunidade, você acelera as compras, se subir, você já tinha comprado alguma coisa, você não perde tanto assim. O melhor é ir comprando de forma periódica, de pouco em pouco.
Glauber Mota, CEO da fintech Revolut

*Com Reuters e Estadão Conteúdo

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