iFood precisará reconstruir todo o negócio nos próximos anos, diz CEO

Para o CEO do iFood, todas as companhias — principalmente o iFood — precisam estar preparadas para mudanças com inteligência artifical. Fabricio Bloisi diz que a empresa precisa estar pronta para reconstruir todo o negócio nos próximos anos, caso contrário, perderá espaço. A empresa tem diversas iniciativas para testar novas possibilidades de negócios. Ele também falou que, desde que o iFood começou a atuar com entrega, suas frentes de negócio cresceram - a ausência da plataforma na negociação sobre a regularização do trabalho de entregadores foi recentemente criticada pelo governo.

O empresário participou neste sábado (6) da Brazil Conference em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos. Ele falou no painel "Do Brasil para o mundo: construindo uma empresa global" com publicitário Nizan Guanaes. O executivo destacou a ampliação dos negócios do iFood e como a inteligência artificial vai liderar a próxima grande revolução tecnológica.

O que aconteceu

Segundo Bloisi, a empresa tem uma das maiores operações de delivery do mundo e movimenta pouco mais de 0,5% do PIB brasileiro. A ideia é pensar em 1% para os próximos anos.

Há quatro anos, a empresa não realizava entregas. Apenas conectava os entregadores dos restaurantes às plataformas. São cerca de 350 mil entregadores cadastrados na plataforma, 350 mil restaurantes parceiros e 100 milhões de pedidos realizados por mês. No entanto, 60% das entregas ainda são realizadas por motoboys próprios dos restaurantes, não do iFood. "Mas é importante que a gente continue entregando, porque para os restaurantes é muito difícil gerenciar a entrega", diz o executivo.

Desde o início do delivery com entregadores próprios, o número de frentes do negócio cresceu. "O iFood começou com comida, depois começou a fazer entrega, depois mercado. Agora a gente está fazendo vale-refeição e banco do restaurante. Então a gente empresta dinheiro para os restaurantes também".

Bloisi reiterou a importância do iFood ser uma empresa que lida diariamente com inovação. Como startup, o iFood tem as chamadas jet skis — entre 20 e 30 pequenas startups dentro da empresa, formadas por cinco a dez pessoas, que testam diariamente novos projetos (que podem, inclusive, dar errado). "O objetivo é aprender, andar rápido, descobrir o que tem de novo. Testar de novo. Ajustar o mais rápido possível. E ao mesmo tempo a gente tem uma disciplina grande. Aumentar a barra o tempo inteiro. Mas ter a paixão de inovar".

A empresa tem hoje três grandes negócios: entregas, mercado e fintech. Os dois últimos têm apenas dois anos, mas ele acredita que ambos podem se tornar tão grandes quanto o core business do iFood, que é a parte de delivery.

Outros cinco ou seis negócios estão sendo desenvolvidos atualmente. "Aqui a gente tem aquela curva em S de 'nasceu, criatividade, testa mil ideias, crescimento rápido, maturidade'. Antes de chegar na fase de maturidade, a gente está testando 10 negócios para que a gente comece uma nova curva de crescimento antes de ficar maduro. Então o iFood é muito bom de estar testando muitas ideias novas".

Inteligência artificial guiando os próximos passos

A inteligência artificial é a próxima grande revolução de inovação tecnológica, diz o CEO. Ele pondera, no entanto, que o Brasil é um país que consegue perder sistematicamente grandes ciclos tecnológicos. "É super triste ver como nos últimos ciclos a gente fica para trás e tendo que comprar do mundo inteiro, tendo que depois se lamentar porque a gente é um país pobre e pouco produtivo. A hora de reverter isso é agora. A gente tem um novo ciclo começando agora".

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Enquanto outros países avançam, o Brasil fica para trás debatendo a importância do tema, ou se é possível fazer, avalia Bloisi. Ele reitera que o mundo vai mudar, e que tudo vai passar por um processo de disrupção por mais tecnologia, inovação. "Inteligência artificial é só uma área. A gente tem também biologia sintética, robótica, carros autônomos, sustentabilidade, novos tipos de energia, espaço. O melhor de inovação está à frente e vai ser maior e mais rápido", diz.

Para isso, todas as companhias — principalmente o iFood — precisam estar preparadas para essas mudanças. O executivo diz que a empresa precisa estar pronta para reconstruir todo o negócio nos próximos anos, caso contrário, perderá espaço.

Ele afirma que não se trata apenas de pensar nas empresas, mas que o crescimento gera valor para o Brasil e, consequentemente, impacta na distribuição dessa riqueza. "Por isso a gente precisa ser ambidestro, ou seja, não ser só uma empresa eficiente, que entrega, que é disciplinada, mas ser uma empresa que inova muito o tempo inteiro. É condição de existir";

O iFood fazia 20 mil pedidos por mês há 10 anos. Hoje faz bem pertinho de 100 milhões de pedidos por mês. Essa é uma área que passou para uma disrupção de tecnologia. Vão ter mais 20 áreas e muitas oportunidades de criar enormes empresas de tecnologia no Brasil. Óbvio que o iFood é um exemplo, mas tem muitos outros. A gente tem o Nubank, que hoje é uma das melhores empresas de finanças do mundo. A gente tem o Mercado Livre, uma das melhores empresas de e-commerce do mundo. Vão ter outras. Ou, se não tiverem outras, a gente vai perder espaço para empresas globais, quando a gente deveria estar gerando esse tipo de valor no Brasil.

O executivo diz acreditar no capitalismo consciente. "Eu acho que eu tenho a obrigação de devolver algo bom para sociedade. Devolver, seja com dinheiro, com investimento, com educação, que é uma área que a iFood só existe por causa da educação, devolver com tecnologia. A gente tem um monte de projetos ligados à tecnologia, porque como a iFood é um centro de tecnologia no Brasil, distribuir isso para áreas públicas em volta alavanca o Brasil numa área que é fundamental pra gente".

No mês passado, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, criticou a rede iFood ao divulgar a regulamentação do trabalho em aplicativos de transporte no Brasil. A proposta apresentada pelo governo Lula apenas os motoristas que atuam no transporte de passageiros em veículos de quatro rodas.

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