Brasil está entrando na rede global de inovação, diz líder do South Summit

Em três dias de março, Porto Alegre (RS) se tornou a capital da inovação na América Latina. A cidade sediou pelo terceiro ano consecutivo o South Summit, edição regional do fórum empresarial de mesmo nome fundado em 2012 em Madri, na Espanha, para revitalizar o ambiente de negócios do país depois da crise financeira global de 2008.

Alameda do South Summit no Cais Mauá, às margens do rio Guaíba, em Porto Alegre (RS)
Alameda do South Summit no Cais Mauá, às margens do rio Guaíba, em Porto Alegre (RS) Imagem: Divulgação/South Summit

Nos últimos anos, o evento passou a ter foco na inovação, reunindo empreendedores, financiadores, especialistas e agentes de governo para discutir ideias de negócio em palestras e encontros — marcados ou fortuitos. A capital gaúcha recebeu, de 20 a 22 de março, 23,5 mil pessoas de 55 países, sendo 900 investidores, 140 fundos de investimento — com um total de US$ 213 bilhões (R$ 1,08 trilhão pelo câmbio atual) sob gestão — e três mil startups, muitas das quais participam de uma competição.

Assim, o Brasil está se inserindo cada vez mais no ecossistema global de inovação, segundo o empresário José Renato Hopf, 55, um dos responsáveis por trazer o South Summit para o país. A próxima edição já está confirmada para 9, 10 e 11 de abril de 2025. Leia a seguir trechos da entrevista exclusiva que ele concedeu ao UOL.

Quem é

Gaúcho, Hopf foi um dos fundadores da empresa de pagamentos eletrônicos Getnet, vendida para o Santander Brasil em 2014. Apaixonado por empreendedorismo e tecnologia, é conselheiro de empresas e dirige o Grupo Four, que cria e administra negócios digitais.

Por que o South Summit é realizado em Porto Alegre?

Sempre me engajei em ações que pudessem mudar o ecossistema de inovação do Brasil. Em uma dessas ações, acabei articulando com o governo do estado do Rio Grande do Sul para colocar o país na rota dos grandes eventos globais de inovação. O Brasil era muito fechado em relação a isso. Os fundos que vinham para o Brasil acabavam vindo dentro de um processo que ficava muito concentrado em São Paulo. Trazer para Porto Alegre descentralizaria esse processo, né? Analisamos oito grandes eventos no mundo que atuavam como catalisadores nas suas cidades para mudar o ambiente de negócios, apostando no local. Acabamos encontrando no South Summit, em Madrid, um match, quando conhecemos a fundadora do evento, a Maria Benjumea. Ela tem uma energia fantástica, queria provocar impacto. O evento surgiu logo após uma grande crise na Espanha e ela disse: "Pela inovação, vamos mudar o país". Falei para a Maria que esse também é o nosso sonho. Não é um negócio, é um evento de impacto, a gente quer atrair fundos [de investimento], a gente quer fazer conexões para que as nossas startups conheçam o mundo e o mundo conheça as nossas startups. Atuamos com muita colaboração. Acho que se tem uma palavra que pode explicar o nosso evento é colaboração, é co-construção. É um evento feito por innovation doers [fazedores de inovação, do inglês] para innovation doers.

Como podemos definir o South Summit?

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O evento é todo feito como uma plataforma de conexões para que as pessoas possam se encontrar e trocar ideias. A gente gera conteúdo, a gente tem startups, a gente tem empresas desenvolvidas, a gente tem fundos desenvolvidos. Fazemos um evento para poder trabalhar muito a questão testemunhal. Os nossos conteúdos têm muito mais a ver com o processo de um grande empreendedor, uma grande empreendedora que vem aqui contar como é que ralou, como é que conseguiu, como é que fez acontecer. Temos uma grande plataforma de conexão para antes, durante e depois do evento. Pelo aplicativo, possibilitamos o agendamento de reuniões. No ano passado, acho que tivemos mais de 40 mil conexões pelo aplicativo.

Como vocês acompanham os negócios que surgem a partir das conexões geradas no evento?

Temos vários casos que gostamos de contar. Teve uma pessoa que estava vindo para o evento, encontrou um fundo no avião e fechou uma captação. Teve uma startup que entrou na competição para poder participar do evento, porque não tinha dinheiro para comprar o ingresso, e acabou ganhando uma das categorias da competição. Em muitos eventos, as pessoas ficam inacessíveis, mas aqui não. Tem bilionário passando ao seu lado. O evento provoca a circulação para as pessoas se encontrarem.

Qual é o estado da inovação no Brasil hoje?

Tem alguns desafios importantes de competitividade. O brasileiro é da criatividade. E é corajoso. Mas, por natureza, o brasileiro planeja pouco. É menos organizado. É preciso ter um sonho grande, mas com um bom plano. Vejo que o Brasil vive um momento de ampliação da sua conexão global. O país está começando a se inserir de forma consistente no ecossistema global de inovação. As universidades estão entendendo o que são os parques tecnológicos. As startups estão pujantes. Os fundos estão atuando de maneira importante. Uma coisa é achar legal a inovação; outra, é viver a inovação. Acho que a gente está começando a viver a inovação nas empresas. Antes, inovação era uma coisa da área de tecnologia. Hoje, já não é mais assim.

Qual é o papel dos governos em ajudar a fomentar esse ecossistema?

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O nosso principal parceiro no evento é o governo estadual. O próprio governador, Eduardo Leite [PSDB/RS], sobe ao palco do evento. A prefeitura também ajuda muito. E, agora, passamos a ter o apoio muito importante do governo federal. Todo mundo que impulsiona inovação no governo federal também está começando agora a estar próximo [do fórum]. A gente trabalhou bastante para conseguir isso, que não aconteceu nas outras duas edições. Para nós, é muito importante, porque, se a gente quer realmente gerar impacto, precisa estar com todos os players que são importantes para o ecossistema de inovação. Precisa estar realmente próximo e atuando em conjunto.

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