Empresas do agro mostram potencial de exportação do Brasil na Agrishow

Com mais de 50 países presentes na edição 2024, a Agrishow atraiu atrai novos expositores estrangeiros e abre mercado global para fabricantes e importadores nacionais. Ao mesmo tempo, empresas exportadoras demonstram o potencial do setor de máquinas para melhorar a produtividade, essencial para a agricultura e alimentação no mundo.

Até a Lia, a assistente virtual da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo (Setur-SP), foi preparada para a internacionalização da feira. A tecnologia é estreante na Agrishow 2024, que acontece em Ribeirão Preto (SP). Com recursos de áudio, texto e vídeo, a inteligência artificial oferece informações sobre as 47 regiões turísticas paulistas e centenas de atrativos em seis línguas: português, inglês, espanhol, francês, alemão e italiano.

A "embaixadora" poliglota é só um exemplo do universo que a maior feira de tecnologia agrícola em parque aberto do mundo (e a maior da América Latina) têm a oferecer. O evento, segundo a organização, conta com expositores vindos de mais de 50 países de origem asiática, latino-americana, africana e europeia.

Empresas exportam para diversos países

Um exemplo é a Roj, empresa de maquinários com sede no Brasil e na Itália. Instalada no Pavilhão Italiano, composto apenas por empresas multinacionais com operações na Itália, a companhia participa da Agrishow desde 2013 e fornece equipamentos e mudas para os cinco continentes.

Arthur Paratelle, CEO da Roj Brasil, afirma que, apesar da crise atual na agricultura, a empresa aproveita a feira para receber pessoalmente seus clientes na América Latinam, em especial os da Argentina. "No nosso caso, o pessoal procura mais tecnologia, procura meios para ter uma produtividade superior", destaca Paratelle.

A TMA, indústria nacional de maquinários, atende clientes em 19 países. Durante a Agrishow, recebeu visitantes do Peru, Guatemala e Colômbia. Segundo a empresa, a maior parte tem interesse na compra de produtos para plantio e colheita de cana, tecnologias nas quais o Brasil se destaca.

A YTO Tratores, principal fabricante de máquinas agrícolas da China, esteve pela primeira vez na feira, sendo representada pela BDG Máquinas. A importadora brasileira e a fabricante chinesa veem potencial no mercado do Brasil e querem ampliar sua atuação no país. A estratégia foi trazer um portfólio diversificado da YOT para atender produtores de todos os portes e segmentos com manutenção simplificada e baixo custo, incluindo lançamentos.

Desafios

Brasil está exportando menos. O relatório do primeiro trimestre de 2024 divulgado na Agrishow pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostrou queda nas exportações e crescimento das importações. O setor de máquinas para agricultura encolheu 23% e máquinas para logística e construção civil, 15%. Juntos, os dois segmentos representam mais de 40% do total exportado pela indústria brasileira do setor.

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As importações no mês de março, por sua vez, registraram crescimento. Foram importados US$ 2,4 bilhões em maquinários, contra US$ 2,1 bi em fevereiro. No acumulado do ano, as importações somaram US$ 6,9 bilhões, alta de 6,1% em relação ao primeiro trimestre de 2023.

Mas Brasil precisa aumentar as exportações de alimentos. Para tanto, o relatório reforça que o país teria "que aumentar cerca de 25% a 30% a área plantada", o que demanda "mais investimentos em máquinas." O documento aponta que a "conjuntura está ruim, mas estruturalmente, tanto o Ministério da Agricultura, quanto a Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) e o FDA (Food and Drug Administration)", órgão norte-americano, apontam "que o Brasil teria que aumentar de 25% a 30% as exportações de alimentos" na próxima década.

Empresas presentes na feira podem ajudar nisso. A especialista Cristiane Fais, CEO da empresa Accrom consultoria em Logística Internacional, atua com diversos países presentes na Agrishow, como Índia, Itália, Alemanha, China, Korea, EUA, Tailândia, Japão e países das Américas Latina e Central. Para Fais, estas empresas compreendem a importância do Brasil no cenário agrícola e pecuário para o mundo, e a feira é um espaço para mostrar a capacidade única dos brasileiros de inovar e aumentar a produtividade no campo.

"Além do mundo vir comprar nossa expertise, muitos países vêm em busca de parcerias para vender insumos para estas empresas. O Brasil não é um grande exportador apenas de commodities, mas também um país essencial para alimentação do mundo, seja através da agricultura ou de nossa expertise em maquinários em geral", afirma a CEO.

A flutuação do câmbio e a falta de mais profissionais nos órgãos regulatórios como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Receita Federal, entretanto, são gargalos desse potencial. De acordo com Faiz, essas duas variáveis somadas às constantes greves destes órgãos e problemas de acesso aos portos são situações que atrapalham tanto a importação quanto a exportação.

Outros pontos a melhorar seriam os regimes especiais de incentivo à exportação. "Muitas vezes não funcionam realmente ou demoram muito para serem aprovados, como o 'Drawback Integrado' (antigo 'Verde e Amarelo'), que promete desonerar toda a cadeia produtiva das empresas exportadoras", diz Fais.

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Já na importação, além dos itens acima, destaca-se a necessidade de melhorar a guerra fiscal entre os estados brasileiros. "Os importadores sofrem muito com a sobrecarga de impostos, dumping [prática comercial maliciosa de vender abaixo do preço de custo], fruto muitas vezes de lobby de grandes empresas que monopolizam o mercado nacional", alerta a especialista.

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