Campos Neto: divisão de votos no Copom gerou ruído, mas decisão é técnica
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que entende que a divisão entre os membros do Copom na última reunião gerou ruídos, mas que a decisão é técnica. Campos Neto participou de um almoço com empresários em São Paulo nesta segunda-feira (27).
O que aconteceu
A decisão de baixar os juros de 10,75% para 10,5% ao ano no começo de maio não foi unânime. Dos nove membros, cinco votaram pela redução de 0,25 ponto percentual, e quatro votaram por 0,5 ponto percentual. Campos Neto votou pela redução de 0,25. Houve uma discussão se a decisão foi política, já que os quatro que votaram pela queda maior da taxa foram indicados pelo presidente Lula, que já falou diversas vezes sobre a necessidade de reduzir a taxa de juros.
Campos Neto diz que o entendimento de que houve uma mudança no cenário foi unânime. Já a decisão pela queda da taxa não foi, segundo ele, houve uma discussão sobre se valeria a pena tomar uma decisão diferente do que havia sido anunciado na reunião anterior. Em março, o BC comunicou que promoveria um corte de 0,5 ponto percentual, mas decidiu por 0,25 em maio.
Entendemos que a divisão gerou ruido. O que temos que fazer é comunicar que foi técnica. O comitê pesou o custo e beneficio de se manter um guidance que tinha sido comunicado na reunião anterior e entendemos que existia espaço para mudar o guidance [diante da mudança de cenário].
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Tem uma tentativa de politizar as decisões. Não foi isso que aconteceu, é só mais um momento que temos que manter a serenidade, falar que foi técnico. O tempo é o melhor remédio, acho que as nossas decisões vão mostrar que são técnicas.
Roberto Campos Neto, presidente do BC
Cenário brasileiro
Campos Neto diz que há um aumento de anomalias climáticas em todo mundo e que isto dificulta o trabalho do BC. O presidente do órgão afirma que este tipo de acontecimento impacta diretamente as decisões monetárias, já que questões no clima podem encarecer o preço dos alimentos e de energia elétrica, por exemplo.
Campos Neto comentou sobre os pisos de saúde e educação. Existe uma proposta de desvincular os pisos de saúde e educação do salário mínimo em relação à previdência e benefícios. Segundo a colunista do UOL Mariana Londres, a Constituição de 1988 prevê que gastos com saúde e educação correspondem a um percentual mínimo das receitas públicas, ou seja, o piso é vinculado à receita, a chamada vinculação). Quando as receitas aumentam, os gastos com saúde e educação crescem na mesma proporção. Para Campos Neto, a desvinculação seria positiva.