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Inflação de serviços cresce e ganha poder para limitar queda da taxa Selic

Imagem: TON MOLINA/ESTADÃO CONTEÚDO

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo

17/06/2024 04h00

A trajetória de queda da taxa básica de juros está comprometida pelo avanço da inflação de serviços, que acumula alta de 5,09% nos últimos 12 meses. O movimento é avaliado por parte da diretoria do Copom (Comitê de Política Monetária) como um ponto de atenção para o fim do ciclo que reduziu a Selic em 3,25 ponto percentual nos últimos meses, de 13,75% para 10,5% ao ano.

O que aconteceu

Inflação dos serviços prestados às famílias subiu 0,4% em maio. O avanço divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) representa um ganho de força em relação ao aumento de 0,05% apurada em abril. Com a taxa, o índice acumula alta de 5,09% nos últimos 12 meses.

Variação acumulada supera o teto da meta. Após três meses de desaceleração, a inflação anual de serviços voltou a ser maior do que a apurada no mês anterior e figura no mesmo patamar de março. Assim, a taxa aparece acima do limite de 4,5% definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o IPCA (Índice de Preços ao Consumido Amplo) deste ano.

Preço dos serviços preocupa diretores do BC. Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que reduziu a taxa Selic a 10,5% ao ano, alguns diretores classificaram a inflação do segmento como um dos fatores de risco para o futuro do IPCA. A avaliação considera que o índice dos serviços está "acima do nível compatível com o cumprimento da meta".

Alguns membros mostraram maior preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, enquanto outros seguiram enfatizando o papel da inflação de serviços.
Ata da última reunião do Copom

Risco considera juros mais baixos como impulso para a inflação. Principal ferramenta monetária para limitar o avanço dos preços, a taxa básica estabelece o patamar das linhas de crédito de determinada economia. Ao serem reduzidas, taxas como a Selic facilitam o consumo das famílias e, consequentemente, abrem caminho para mais inflação com o aumento da procura por bens e serviços. O cenário oposto ocorre em movimentos de alta.

Preços de bens e serviços têm movimentações distintas. Rachel Sá, chefe de economia da Rico, afirma que a aceleração da inflação de serviços "acende uma luz amarela" para a definição da Selic. Ela explica que o sinal de alerta envolve a menor sensibilidade do setor em eventuais choques de oferta. O fenômeno é mais perceptível na produção de bens, que evidenciam primeiro as decisões sobre as taxas de juros.

O cabeleireiro não aumenta o preço dos seus serviços com a inflação do tomate ou do minério de ferro. Não existe uma sensibilidade tão grande e ele vai basear sua tabela de preços na procura pelos cortes. O custo de vida pessoal vai ser impactado, mas se ele reajustar muito os preços e a demanda não estiver alta, ele pode perder clientes.
Rachel Sá, chefe de economia da Rico

Futuro incerto

Rumo da taxa Selic é imprevisível. Com a inflação dos serviços como um dos focos, o movimento de cortes dos juros básicos teve a intensidade reduzida para 0,25 ponto percentual no último encontro do Copom. A decisão dividiu os 11 diretores da autoridade monetária e deixou em aberto os próximos passos do colegiado.

Mercado prevê corte de igual magnitude. Para os analistas consultados semanalmente pelo BC, a taxa básica de juros cairá a 10,25% ao ano na próxima quarta-feira (19). Conforme as expectativas, a baixa será a última deste ano. É esperado que os juros básicos recuem mais 1 ponto percentual, para 9,25% ao ano, em 2025.

Previsão de redução não é unânime. Segundo o sistema de estimativas utilizado para a composição do relatório Focus, as projeções individuais para taxa Selic na próxima reunião variam entre queda de 0,5 ponto percentual, a 10% ao ano, e a manutenção no patamar atual. "Entendemos que não há mais espaço para cortes adicionais de juros", pontua Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, em relatório divulgado nesta semana.

Cenários interno e externo podem determinar o veredito. Além da inflação dos serviços em alta, a recente valorização do dólar ante o real, a taxa de juros dos Estados Unidos e as incertezas a respeito do compromisso de zerar as contas públicas pesam contra a manutenção do ciclo de cortes da Selic.

Todo esse quadro é ruim para a trajetória de taxa de juros, então acho muito difícil que a gente tenha novas quedas. Por enquanto, o cenário não é de alta de taxa de juros, mas se a situação continuar a se deteriorar, até é possível que isso venha a acontecer.
José Ronaldo de Castro Souza Júnior, professor de economia do Ibmec- RJ

Setor segue aquecido

O avanço dos serviços prestados justifica inflação. O principal setor da economia nacional segue pujante e opera em patamar 12,9% acima do nível pré-pandemia, segundo dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) referentes a abril. No mês, o ramo cresceu 0,5% ante março e tem alta de 5,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

Consumo puxou alta do PIB no primeiro trimestre. O crescimento de 0,8% da soma de bens e serviços finais produzidos no Brasil nos três primeiros meses de 2024 foi impulsionado pelo salto de 3% do comércio varejista. A atividade está atrelada ao setor de serviços, que avançou 1,4% no período.

Desempenho positivo do mercado de trabalho é determinante. O avanço da inflação de serviços é auxiliado pelo aumento da renda e a redução da taxa de desemprego, conforme mostram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). "A inflação de serviços parece estar pressionada pelo mercado de trabalho bastante aquecido", avalia Castro.

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