Sem plano de cortes, Lula ataca isenção: 'Rico tomou conta do orçamento'
O presidente Lula (PT) reclamou hoje do volume de renúncia fiscal no Brasil, apresentado para ele ontem (17) pela equipe econômica. Segundo ele, o governo está avaliando as contas e apresentará uma nova proposta ao Congresso em 22 dias.
Ricos se apoderaram do orçamento
Lula se disse "perplexo" e afirmou que os ricos se apoderaram do orçamento.
A equipe econômica mostrou que os subsídios chegaram a 6% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023. Ao todo, segundo Simone Tebet (Planejamento), são R$ 646 bilhões somando renúncia fiscal tributária, renúncias de benefícios financeiros e creditícios.
As mesmas pessoas que falam que é preciso parar de gastar são as pessoas que têm R$ 546 (sic) bilhões em isenção, desoneração de folha. São os ricos que se apoderam de uma parte do orçamento do país e eles se queixam com o que está gastando com o povo pobre.
Lula, em entrevista à CBN.
Estou disposto a discutir, mas que a gente faça para que o povo mais humilde não seja o mais prejudicado.
O problema do Brasil é que a parte mais rica tomou conta do orçamento. É muita isenção sem que haja reciprocidade.
Críticas a Campos Neto
Lula classificou o comandante do Banco Central como "a única coisa desajustada" do Brasil. Ele defendeu que a inflação está "totalmente controlada" e pode proporcionar novas quedas dos juros.
O presidente classificou como "muito tristes" as previsões de fim do ciclo de queda da Selic. Lula afirmou que todas as conversas com agentes do mercado financeiro demonstram otimismo com o mercado brasileiro e refirmou que o cenário não abre caminho para novos cortes da taxa Selic, atualmente em 10,5% ao ano.
O presidente avalia que as posições de Campos Neto vão contra a autonomia da autoridade monetária.
Só temos uma coisa desajustada no país. O comportamento do Banco Central. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político, e que na minha opinião trabalha muito mais para atrapalhar do que para ajudar o país. Porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que está.
Queremos atrair mais investimentos e que o Banco Central se comporte na perspectiva de atrair mais investimentos para o Brasil, não de atrapalhar
O Brasil não pode continuar com uma taxa de juros proibitiva de investimentos no setor produtivo. Como você vai convencer o empresário a investir se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda?
Discussão sobre cortes de gastos
Debate com Tebet e Haddad sobre as contas do governo. O presidente se reuniu ontem Tebet e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ontem na primeira reunião da JEO (Junta de Execução Orçamentária) com o presidente, com o objetivo de debater o equilíbrio das contas do governo, em meio a pressões por corte de gastos e impasses com o Congresso.
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Quero receberGoverno ainda não sabe onde cortar gastos e tem sofrido pressão por parte do mercado. Lula criticou as pessoas jogam a responsabilidade dos gastos públicos nas políticas sociais.
A equipe econômica tem que me apresentar a necessidade de corte. Ontem, quando vi, disse que fiquei perplexo, a gente discutindo corte de R$ 15 bilhões e dai descobre que tem R$ 546 bilhões de benefício para os ricos desse país.
Aprendi com uma mulher analfabeta, que era minha mãe, você não pode gastar o que você não tem. Você só pode gastar o que você ganha.
Segundo os ministros, as possibilidades de corte estão sendo analisadas e uma nova proposta será entregue em 22 dias. "Nós estamos investigando se tem casos exagerados em alguns programas sociais, se tem abuso, sem tem gente recebendo o que não deveria", disse.
Ele destacou que o governo faz um estudo "muito sério" para o Orçamento de 2025. Segundo o presidente, a necessidade de discussão envolve o bom desempenho econômico do país, marcado pela melhora do mercado de trabalho.
A economia vai continuar crescendo, o emprego vai continuar crescendo e a inflação vai permanecer contorlada.
Desoneração
Em valor, o volume de incentivos concedidos no terceiro mandato de Lula é o maior desde 2016. A renúncia fiscal de 2023 superou a do ano anterior em 8,2%. Em 2023, foram instituídas 32 novas desonerações tributárias, com impacto de R$ 68 bilhões na arrecadação no União, de acordo com o TCU.
O TCU foi unânime em condenar o volume total de isenções. O órgão sugeriu que não sejam aprovados novos benefícios fiscais e que sejam estabelecidas contrapartidas das empresas.
Haddad tentou emplacar uma MP para mudar o uso de crédito do PIS/Cofins, mas ela foi devolvida pelo Congresso. A decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), veio após duras críticas dos principais setores afetados pela proposta, sobretudo o agronegócio.
Lula também deixou clara a insatisfação com o embate no Congresso. O Legislativo derrubou os vetos do presidente à desoneração de 17 setores da indústria e, na última semana, devolveu a proposta de mudança para o uso de crédito do PIS/Cofins, proposta pelo governo.
Taxa das blusinhas
Lula disse que veto ao imposto para comprar de até US$ 50 foi "consideração com o povo mais humilde". Para o presidente, o tema faz parte de "uma briga muito esquisita" e pune aqueles que compram produtos de baixo valor.
Após um acordo, o Congresso aprovou a taxação para compras de até US$ 20. Ao criticar a taxa, Lula lembrou da isenção de até R$ 1.000 para viajantes que vão ao exterior. "Por que taxar o pobre e não taxar o cara que vai no freeshop e gasta US$ 1.000?", questionou Lula.
O presidente afirma que as compras internacionais não prejudicam o varejo nacional. "As coisas que são vendidas por até US$ 50 normalmente não estão nas lojas que estão se queixando". Diante das críticas, ele disse que conversou com ministros para que as queixas de alguns setores sejam levadas mais a sério.
Tem que provar que tem prejuízo, mas eles vão diretamente até um deputado e pedem para fazer uma emenda. Essa emenda das blusinhas entrou no programa Mover, que não tinha nada a ver com isso. Foi um jabuti colocado no Congresso Nacional. Isso me deixou profundamente irritado.
Lula
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