Ibovespa alcança maior valor em 2024, mas dólar sobe

O Ibovespa alcança o maior valor em 2024 com 134.153,42 pontos. O dólar subiu.

A Bolsa de Valores de São Paulo teve nesta quinta-feira (15) alta de 0,63%. Durante o dia, o Ibovespa bateu um recorde histórico: por volta das 13h12, chegou a 134.516,88 pontos, patamar nunca atingido desde a criação do índice em 1968. A pontuação mais alta anterior havia sido de 134.392 pontos, durante o pregão de 27 de dezembro de 2023, conforme dados da Economatica.

Mas no fechamento, por pouco outro recorde não foi batido. Faltaram 41 pontos para passar o fechamento mais alto até hoje, de 134.194 pontos, também no dia 27 de dezembro. Durante a tarde, o Ibovespa desacelerou, mas fechou com alta de 0,63%, aos 134.153,42 pontos, um ganho de 835,76 pontos.

O dólar sofreu interferências e teve um dia de altas e baixas, terminando a quinta-feira subindo 0,27%, indo a R$ 5,483. O turismo chegou a R$ 5,691 (venda).

O que aconteceu

O índice subiu com força depois que dados mostram que a inflação americana está arrefecendo. Os gastos do consumidor americano tiveram alta de 1% em julho, de acordo com números ajustados pela sazonalidade, mas não pela inflação. Foi o que informou o Departamento de Comércio nesta quinta-feira.

O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) veio melhor que o esperado, já que as pressões inflacionárias mostraram mais sinais de alívio. O mercado esperava aumento de 0,3%. As vendas de junho foram revisadas para um declínio de 0,2% após inicialmente serem relatadas como estáveis.

Boas notícias também no mercado de trabalho. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego para a semana que terminou em 10 de agosto totalizaram 227 mil, uma redução de 7 mil em relação à semana anterior e menor do que a estimativa de 235 mil.

Por que esses dados importam?

Inflação americana desacelerando é o que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) precisa para baixar os juros. O banco central americano deve, conforme expectativa, fazer cortes no início de setembro. Essa baixa de juros tem sido esperada desde o ano passado. A expectativa inicial era de um primeiro corte em março deste ano. Mas a inflação americana não cedeu. Assim, a Bolsa brasileira chegou a cair mais de 10% este ano, no pior momento, na segunda quinzena de junho.

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Com a taxa americana caindo, como se espera, o dinheiro volta a circular pelo mundo. Dólares saem do Tesouro Americano para ir a outras Bolsas, como a brasileira. Mais capital entrando significa maior investimento, não só em aplicações financeiras, mas também em empresas (ações). Conjuntamente ajuda o dólar a cair e a inflação brasileira também diminui o passo.

Alta de 30% em um dia

A ação que mais subiu no dia foi a da empresa de resseguros IRB Brasil (IRBR3). O papel teve uma alta surpreendente de 30,41%, indo a R$ 42,41, conforme dados preliminares. Quatro anos após a descoberta de fraudes que fizeram a ação perder mais de 90% do valor, a resseguradora viu seu lucro mais do que triplicar no segundo trimestre, chegando a R$ 65,2 milhões.

Os resultados, divulgados na noite de quarta-feira (14) surpreendem os analistas. "À primeira vista, parece que a pressão de sinistros por enchentes (no Rio Grande do Sul) foi compensada pelo desempenho no rural (doméstico) com baixo índice de sinistralidade", publicou o JPMorgan.

Mas afinal, o que são os pontos do Ibovespa?

Os pontos representam a variação das ações, ponderando o peso de cada uma. "São as percentagens de alta ou baixa das ações que integram o índice em pontos, por suas respectivas ponderações (pesos respectivos), em função dos volumes negociados", explica Alvaro Bandeira, coordenador da comissão de economia da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil (Apimec Brasil). Mas é errado dizer que cada ponto vale R$ 1.

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O Ibovespa tem 86 ações que representam 80% dos papéis negociados em Bolsa. Três empresas têm o maior peso: Petrobras, com PETR3 e PETR4, Vale (VALE3) e Itaú (ITUB4).

Quando o Ibovespa foi criado, em janeiro de 1968, atribuiu-se a ele o número 100, aleatoriamente. A ideia era dar aos investidores um parâmetro de evolução das ações por ele representadas. Mas, em 56 anos, a pontuação foi modificada 11 vezes, por conta da valorização dos ativos e das mudanças de moeda no Brasil.

A Bolsa vai subir mais?

É difícil cravar isso. Mas tudo indica que sim, diz Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos. "A gente ainda tem espaço para crescer mais, uma vez que a discussão agora não é quando os Estados Unidos vão cortar os juros — mas quanto vão cortar", diz ele.

O especialista acredita que, em breve, a taxa brasileira também poderá ter cortes. "A Selic normalmente acompanha a taxa americana", afirma. Com menores taxas de juros, os investidores procuram melhores rendimentos aplicando em ações. Isso ajuda no crescimento das companhias listadas.

E por que o dólar subiu?

Os dados americanos contribuíram para que o dólar perdesse valor em partes do dia. A certeza de que o primeiro corte de juros acontecerá em setembro já impera no mercado, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio. "Os dados mostraram que a economia americana continua forte sem perigo iminente de recessão. Com o corte nos juros por lá, o real se beneficia junto com as moedas de outros pares emergentes."

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Mas a pressão de alta ganhou no fim da jornada por conta dos dados do mercado de trabalho dos EUA. Mesmo com uma redução de 7 mil pedidos de auxílio-desemprego em relação ao intervalo anterior, muitos acharam o número alto. É o que diz Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais.

Outros fatores domésticos puxaram a cotação do real para baixo. Ruídos políticos de gastos públicos voltaram a ser produzidos com a volta do recesso parlamentar, segundo Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank.

Mas teve problemas com a China também. Durante a madrugada, foi divulgado no país oriental que as vendas de novas moradias na China sofreram queda de 25,9% em valor entre janeiro e julho ante igual período do ano passado. "O Brasil, sendo um grande exportador para o mercado chinês, sofre com isso", afirma Davi Lelis especialista e sócio da Valor Investimentos.

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