'Qualquer pessoa tem direito a um tratamento', diz presidente da Roche

Em entrevista ao "UOL Líderes", videocast do UOL Economia que entrevista líderes do mundo empresarial, Lorice Scalise, 52, presidente da Roche Farma Brasil, afirmou que "qualquer pessoa, tendo a necessidade de um tratamento, existindo um tratamento disponível, tem o direito de ter essa possibilidade".

Uma das linhas de tratamento da Roche são as doenças raras. "A gente tem buscado algumas doenças específicas que são órfãs, ou seja, que não têm tratamentos disponíveis. Temos desenvolvido pesquisa e desenvolvimento, sim, nessa área", disse.

Segundo ela, a empresa está lançando uma medicação para uma doença que chama neuromielite óptica. "A neuromielite óptica é uma doença neurodegenerativa que acontece por surtos. É uma doença órfã que acomete normalmente mulheres em idade produtiva e, majoritariamente, não caucasianas, ou seja, mulheres afrodescendentes ou de outras etnias que não mulheres brancas", disse ela.

A Roche, por muito tempo, teve um investimento muito forte, muito do seu portfólio ancorado na oncologia, e continua sendo um pilar estratégico para Roche. Na pesquisa de oncologia, a gente continua perseguindo a cura para o câncer. Mas, além dessa área, existem outras áreas que a gente entende que existe uma necessidade.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil

A Roche é uma empresa global, pioneira em produtos farmacêuticos e de diagnóstico. Fundada em 1896, tem sede na Basileia (Suíça) e atua em mais de 100 países, entre eles o Brasil. Mais de 30 medicamentos desenvolvidos pela Roche estão incluídos na lista de medicamentos essenciais da OMS (Organização Mundial da Saúde), entre eles antibióticos, antimaláricos e medicamentos contra o câncer.

Alto custo dos medicamentos de doenças raras

Todos têm direito à saúde e à vida. "Eu acredito, profundamente, que qualquer pessoa, tendo a necessidade de um tratamento, existindo um tratamento disponível, tem o direito de ter essa possibilidade", declarou Lorice, na entrevista.

Os custos de medicamentos de doenças raras são altos. Lorice disse que o investimento nessas doenças massivas (como hipertensão, obesidade, doenças cardiometabólicas) é "altíssimo". "Mas ele se justifica pelo número [porque existem muitas pessoas com essas doenças]", declarou. Já em relação às doenças raras, não são tantas pessoas. "Que bom que não são tantas pessoas. Mas aquela pessoa que necessita precisa daquela medicação", afirmou.

Deve haver investimento em infraestrutura básica, diz Lorice. "Quais são todos os custos que hoje estão sobrecarregando o orçamento da saúde e que não deveriam estar aí? Ou que estão consumindo um orçamento que poderia beneficiar uma pessoa de uma doença rara, mas que estão sendo usados, por quê? Porque não há investimento adequado em infraestrutura, não há água potável, daí, eu gero uma pessoa com uma doença que ela tem que ser tratada também. 'Ah, mas ela custa barato'. Sim, mas são muitas pessoas, e esse é um dinheiro que a gente não precisaria estar investindo aí se eu tivesse investido em infraestrutura básica", afirmou.

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Se eu tivesse uma população educada, que se alimentasse bem, eu tiro uma sobrecarga do orçamento do sistema de saúde várias questões como diabetes, obesidade ou hipertensão.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil

Quando a gente coloca esse juízo de valor sobre o custo, eu convido a uma discussão mais profunda. Porque, claro, o cobertor é curto quando as ações não são na causa-raiz. Então, o cobertor vai ficar cada vez mais curto. Por quê? Porque eu estou gerando, o tempo inteiro, mais e mais doentes.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil

Se eu não cuidar da educação, se eu não cuidar da infraestrutura, se eu não cuidar do transporte, se as pessoas não têm descanso, o número de pessoas doentes que vão aparecer dentro do sistema é enorme. E o orçamento da saúde nunca vai ser suficiente.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil

Para doenças raras, o custo individual do tratamento é caro. "Mas se você pensar que esse paciente toma uma dose deste medicamento, enquanto outro paciente toma a vida inteira muitas doses de outros medicamentos, qual seria a comparação adequada disso?", declarou ela.

Transformação digital na área da saúde

Lorice disse que um dos desafios do sistema de saúde é a transformação digital. Disse ainda que é preciso abordar a saúde de uma forma mais ampla e investir em tecnologia. Para ela, investir em dados e transformação digital reduziria custos e ineficiências na saúde.

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A gente tem que remover a barreira e conseguir fazer uma transformação digital profunda e importante, para que a gente tenha os dados disponíveis, entenda o sistema e possa ganhar eficiência.
Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil

Diversidade e inclusão

Na entrevista, Lorice disse que a companhia investe em diversidade e inclusão. "Na Roche, a gente tem um esforço enorme sobre a diversidade, a equidade e a inclusão. A gente acredita profundamente que isso enriquece o ambiente, as discussões ampliam", declarou.

Na Roche, há seis frentes de diversidade. Segundo Lorice, os grupos são de mulheres/igualdade de gênero, homens, LGBTQIA+, PcDs (pessoas com deficiência), afrodescendentes e gerações (grupo voltado à pauta do etarismo). "Eles estão todos dentro de uma governança. Eles estão todos alinhados à nossa estratégia. Como a gente convive com todas as diferenças e todas as gerações", declarou.

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