Descontos chegam a 50%: vale a pena comprar máquinas agrícolas usadas?

Os descontos em máquinas agrícolas seminovas podem ser ótimos, mas antes de fechar negócio o agricultor deve prestar atenção e tomar vários cuidados para não se arrepender e ter problemas no futuro.

Equipamentos utilizados no campo usados são muito vendidos no Brasil, em especial tratores. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), foram comercializadas no varejo brasileiro 60. 981 máquinas agrícolas em 2023, 13,2% a menos que no ano anterior (70.262). Mesmo com a redução, foi a segunda melhor marca do segmento.

Onde comprar? Qual o desconto?

Os descontos costumam ser calculados com o tempo de uso das máquinas, em média. Por exemplo, nos dois primeiros anos, o preço fica 10% mais barato, depois disso chega a 5%, e, passados dez anos, 50% do valor.

Além do desconto, as máquinas usadas têm disponibilidade imediata. Já as grandes fábricas trabalham com prazos de três a quatro meses, com entrega programada. Não trabalham com estoque e, sim, com demanda puxada. Além disso, alguns fabricantes estão optando por fabricar menos, devido à retração do mercado e falta de componentes no pós-pandemia.

Há sites de compra e venda como Usadão e MF Rural. Mas os produtores preferem fazer a compra pessoalmente ou com a concessionária da sua região, verificando o equipamento in loco, já que as máquinas são tão caras.

Nos sites, os preços também podem ter diferenças grandes. A mesma máquina, do mesmo ano, pode ser comercializada com diferenças bem grandes de valores. Ou seja, os produtores preferem uma relação comercial local.

Quais as máquinas que mais valem a pena? E quais é melhor não comprar?

Os mais recomendados por especialistas na hora da compra são aqueles voltados para as necessidades dos pequenos e médios produtores, com potência de 100 cv. É mais fácil conseguir linhas de crédito e outros subsídios do governo. Como por exemplo benefícios do Pronaf com juro zero e até 10 anos para pagar. Estes equipamentos atendem às necessidades da agricultura familiar.

O sinal vermelho é dado para plantadeiras com tempo de uso acima de 15 anos, e as colheitadeiras, acima de 25 anos. "Neste caso, elas já estão sucateadas, ultrapassadas e costumam ser de difícil manutenção. Algumas saíram de linha e pararam de ser produzidas", diz o empresário Eder Faccin, dono da empresa de mesmo nome, responsável pela venda de máquinas agrícolas semi-usadas na cidade de Santa Maria (RS).

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O que olhar antes de fechar negócio

Nunca feche negócio sem antes saber se a manutenção está em dia e qual o nível de desgaste dos componentes. Sem esses parâmetros, não dá para dizer se a compra vale a pena ou não.

"Sempre que possível, o produtor deverá levar na hora da compra um mecânico ou técnico especializado, de confiança, para a inspeção", afirma Faccin.

Dê preferência para máquinas de fabricação nacional. Caso contrário, fica difícil substituir peças danificadas e fazer a manutenção, diz o especialista. O mesmo vale para os equipamentos que já saíram de linha de produção

Outro cuidado é saber a origem da empresa que está comercializando as máquinas. Em primeiro lugar, é preciso checar para ver se existe um site com nome, endereço da sede, telefone, etc. Preste atenção aos anúncios, incluindo qual a procedência do produto, a identidade do vendedor e outras referências.

"Hoje em dia, existem marketplaces voltados à venda onde os administradores copiam fotos de sites e publicam com valor atrativo, às vezes, com a metade do preço. Na realidade, podem ser equipamentos alienados e com financiamentos em atraso. Solicitam um valor como sinal de negócio e simplesmente somem. Imagina o prejuízo", diz o empresário.

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Desconfie de valores muito baixos, fora da realidade. Fique atento também para produtos colocados na internet e que deverão ser adquiridos em locais mais distantes da sua propriedade. "Conheço pessoas que viajaram para outros estados para fechar negócio e acabaram caindo em golpes. Pelos primeiros contatos telefônicos, é possível identificar se tem algo de errado, pois, quando perguntados, segundo relatos, os vendedores sequer sabem onde estavam as máquinas", diz Faccin.

Atenção também para máquinas da região Sul, que podem ter se danificado com enchentes. Com as enchentes é preciso verificar se não há resquícios de água, sujeira e areia no motor e na parte eletrônica. Cuidado para não queimar as placas.

Cuidado com a documentação. Ao finalizar a compra, o agricultor precisa ter em mãos não somente a nota fiscal, mas a documentação negativa de ônus e de penhora no cartório de títulos. Esses documentos devem ser obtidos no cartório local e, de preferência, da cidade de origem da máquina. O trator ou a colheitadeira podem ter tido vários donos, em diferentes cidades e regiões, e podem ter servido de garantia para empréstimos e outras negociações, por isso é importante verificar a situação do equipamento em diversas cidades.

Vender máquina parada é bom negócio

O que o agricultor precisa ter em mente é que o trator acaba se pagando, pois ele ajuda a gerar renda. "Não espere a máquina ficar velha demais para vender. A tecnologia vai ficando ultrapassada. Isto evita que o produtor tenha de colocar mais dinheiro na troca por um equipamento mais novo", diz o especialista.

Com períodos cada vez menores de plantio, pulverização e colheita, as máquinas precisam ser mais eficientes. "O trator mais caro é aquele que está parado", declara Faccin.

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