De óculos a molho de pimenta: Chilli Beans investe R$ 1 mi em licenciamento

A Chilli Beans está indo muito além dos óculos. Uma área especializada em licenciamentos já anunciou o uso da marca em drinks em lata prontos para beber, caixas de som e fones de ouvidos e molhos de pimenta. O fundador da Chilli Beans, Caito Maia, afirma que o objetivo é que a nova frente do negócio represente 10% do faturamento total da companhia em cinco anos.

Investimento

Maia afirma que a marca investiu cerca de R$ 1 milhão para colocar o projeto de pé. O dinheiro foi usado para contratar profissionais e criar um departamento especializado em licenciamentos dentro da Chilli Beans, e na construção de um style guide, que é um documento entregue para os parceiros depois do fechamento do contrato que diz o que pode e o que não pode ser feito na parceria.

O objetivo é que os licenciamentos representem 10% do negócio em cinco anos. Caito reforça que o negócio principal continua sendo os óculos de grau, de sol e os relógios. Quando uma marca é licenciada, ela permite que a parceira use o seu nome para produtos específicos e, em troca, recebe um pagamento por isso (os chamados royalties).

A empresa busca fortalecer ainda mais sua imagem com os novos produtos. Até o momento foram anunciados molhos de pimenta, caixas de som, fones de ouvido e drinks. Os molhos de pimenta devem chegar aos consumidores ainda em agosto, em parceria com a Knorr. Outras duas categorias estão previstas para chegar ao mercado em setembro deste ano e foram licenciadas por marcas white label (ou seja, não há identificação da marca que produz). Maia afirma que o consumidor pode esperar licenciamentos ligados ao mercado de carros e de tênis.

Os licenciamentos têm como objetivo fazer com que a marca seja vista em lugares menos tradicionais. Maia afirma que encontrar a Chilli Beans no mercado em um molho de pimenta, por exemplo, é uma "confusão saudável" e que isso vai conseguir a atenção de públicos diferentes do que já estão acostumados.

Esse cross de marca, de público, é uma coisa que interessa bastante para gente e para os parceiros que estão vindo atrás de nós.
Caito Maia, fundador da Chilli Beans

Projetos maiores em espera

Apesar de o documento ser um norte, todo o processo de criação do novo produto tem envolvimento da Chilli Beans. Maia afirma que um licenciamento mal-feito pode "destruir a marca". O departamento especializado da empresa tem como função, além de fazer novas parcerias, acompanhar e dar direcionamento para que tudo seja bem executado nos parâmetros da companhia.

A escolha dos licenciamentos tem alguns critérios. Um deles é que a empresa que busca o licenciamento tenha um projeto bem feito, com plano de execução e desenvolvimento da marca, com informações sobre as vendas, canais de distribuição e posicionamento, uma empresa que tenha experiência no segmento que atua. Outro é a Chilli Beans a avaliar internamente que tem capacidade e experiência para aceitar ou não determinada parceria.

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Há licenciamentos aguardando para serem lançados pela escala e pelo custo dos produtos. Maia não abriu quais os produtos que estão nesta lista de espera, mas afirmou que a empresa quer fortalecer as parcerias atuais para aquirir a experiência necessária para lançar projetos maiores, com tíquetes médios e distribuição mais altos.

Deixamos em stand-by alguns projetos muito maiores, porque percebemos que precisamos ter um pouco mais de quilômetro rodado para ter experiência.
Caio Maia, fundador da Chilli Beans

Metas para 2024

Caito Maia, fundador da Chilli Beans
Caito Maia, fundador da Chilli Beans Imagem: Divulgação/ Chilli Beans/ Claudio Gatti

A meta da companhia é crescer 15% e abrir 180 lojas em 2024. Maia afirma que os dados já mostram um crescimento de 16% até agora, com 100 lojas abertas, e que está otimista de que será possível chegar ao resultado esperado. Hoje a Chilli Beans tem 25% de participação no mercado brasileiro, segundo o executivo. Dados da Euromonitor apontam que a empresa está no top 5 no mercado brasileiro de óculos (tanto de grau quanto de sol).

O aumento da participação tem relação com o preço dos produtos. Maia afirma que nos últimos quatro anos a empresa optou por não repassar o aumento dos preços dos produtos ao consumidor final, compensando as perdas com aumento no número de vendas. Ele cita o aumento do dólar como um dos motivos que deixou o custo de produção dos produtos mais caros para a companhia.

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A Chilli Beans é conhecida por fazer collabs com outras marcas. Maia afirma que a primeira foi feita há 20 anos e que, nestes casos, a Chilli Beans compra os direitos para fazer determinadas coleções. Algumas linhas feitas em parcerias foram os óculos do DJ Alok e dos filmes Harry Potter e Star Wars.

Sucesso ou cilada?

O investimento da Chilli Beans na diversificação é uma boa estratégia. É o que diz Caline Migliato, professora de marketing digital da ESPM. Para Migliato, o projeto faz sentido, porque a Chilli Beans tem uma imagem consolidada e forte no segmento de óculos de sol e relógios e está investindo em parcerias que fazem sentido com a marca.

Este tipo de movimento tem como objetivo atingir novos públicos. Migliato afirma que a única forma de a companhia crescer ainda mais, sem aumento de lojas, é expandindo os negócios — mesmo que para segmentos que parecem muito diferentes do foco principal da marca.

No caso da Chilli Beans, o posicionamento sempre foi mais irreverente, ousado, tem uma pegada mais cool [descolada]. Como tem o objetivo de expandir principalmente para novos públicos, para que outros conheçam a marca Chilli Beans, eles acabam indo para produtos diferentes.
Caline Migliato, professora de marketing da ESPM

Inovação e irreverência são pontos de destaque da Chilli Beans no mercado. É a opinião de Cecília Rapassi, sócia-diretora da Gouvêa Fashion Business. Para Rapassi, o licenciamento da marca faz sentido e vê como uma oportunidade de aumentar o número de clientes da companhia, atingindo clientes de nichos diferentes, que talvez não conhecessem o negócio.

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A Chilli Beans atua com público de massa e se posiciona bem, segundo Rapassi. Apesar de haver pontos de cuidado, os ganhos são mais altos. "É disruptivo, mas como todo negócio, tem riscos. A chance de aumentar a base é mais positiva do que o risco", afirma Rapassi.

O movimento pode inclusive aumentar as vendas de óculos, na visão de Migliato. Uma pessoa que talvez conheça a Chilli Beans pelas parcerias pode se interessar pelos óculos de sol ou relógios. "A escolha dos produtos que serão licenciados jamais é aleatória. Tem a ver com o posicionamento, a comunicação da marca, tem a ver com o ecossistema", afirma Migliato.

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