PANORAMA 2- Reeleição de Dilma faz dólar subir às máximas desde 2008 e Bovespa cai forte
SÃO PAULO, 27 Out (Reuters) - A reeleição de Dilma Rousseff (PT) gerava reações pessimistas nos mercados domésticos nesta segunda-feira, enquanto investidores aguardavam mais notícias sobre como será o próximo governo.
O dólar subia às máximas desde 2008 e a Bovespa recuava forte, pressionada por papéis de estatais e de bancos, enquanto a curva de juros futuros voltava a ter inclinação positiva.
A eleição brasileira também ajudava a elevar os preços dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com uma maior aversão a ativos de maior risco.
Veja como estavam os principais mercados financeiros pouco depois das 14h00 desta segunda-feira:
CÂMBIO
O dólar disparava cerca de 3 por cento nesta segunda-feira, indo acima de 2,50 reais e voltando às máximas desde 2008, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) deixar os investidores apreensivos com o futuro da política econômica do país.
Na máxima, chegou a avançar 4,21 por cento, a 2,5605 reais, maior nível intradia desde 5 de dezembro de 2008, quando atingiu 2,6190 reais.
Segundo operadores, as elevadas cotações desta sessão atraíram fluxo de exportadores no fim desta manhã, levando o dólar a reduzir em parte a alta.
Na sexta-feira, a divisa norte-americana havia caído 2,26 por cento em meio a rumores de que o desempenho nas urnas do candidato Aécio Neves (PSDB), derrotado por Dilma no domingo, seria melhor.
"O mercado está operando no escuro", afirmou o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira. "Nós sabemos quem é o presidente, mas agora queremos saber quem é o ministro da Fazenda e como de fato vai ser esse próximo governo. Só aí vai dar para saber onde o dólar vai se acomodar".
Dilma, cuja política econômica é alvo de críticas nos mercados financeiros, foi reeleita no domingo com o eleitorado mais dividido desde a redemocratização do país.
Apesar de a presidente ter acenado com o diálogo, investidores mostravam-se céticos. Segundo analistas, os mercados financeiros devem continuar voláteis até que ela dê sinais concretos de que está disposta a mudar a política econômica.
Em seu discurso após a reeleição na noite passada, a presidente disse que faria "ações locais, em especial na economia, para retomar o nosso ritmo de crescimento".
De acordo com analistas, o mercado já havia parcialmente precificado a vitória de Dilma ao levar o dólar da casa de 2,20 a 2,50 reais de setembro para cá, e que a divisa deve continuar por volta de 2,55 reais até que fique mais claro como será o próximo governo.
"Se houver um ministro menos favorável ao mercado, o real vai se desvalorizar ainda mais. E se o ministro agradar o mercado, o câmbio pode se acomodar", afirmou o operador de câmbio de um importante banco nacional.
Segundo publicou a Reuters na véspera, Dilma quer manter Alexandre Tombini à frente do Banco Central e deve convidar o empresário Josué Gomes para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No ministério da Fazenda, os nomes que ela trabalha são do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ex-secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa.
Operadores consultados pela Reuters preferem Barbosa a Mercadante e querem saber, também, se o atual secretário do Tesouro, Arno Augustin, será substituído.
"Está muito cedo. O mercado tem que aguardar as próximas notícias e as próximas sinalizações, mas, por enquanto, está pessimista", afirmou o operador da corretora B&T Marcos Trabbold, que acredita que o BC pode fazer leilões adicionais de swaps cambiais se a volatilidade ficar excessiva.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, pelas atuações diárias. Foram vendidos 3,1 mil contratos para 1º de junho e 900 contratos para 1º de setembro de 2015, com volume equivalente a 197,2 milhões de dólares.
O BC também vendeu a oferta total de até 8 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 3 de novembro. Ao todo, a autoridade monetária já rolou cerca de 85 por cento do lote total, equivalente a 8,84 bilhões de dólares.
O contrato de dólar futuro para novembro subia cerca de 1,75 por cento nesta sessão. Segundo analistas, o movimento era mais fraco, frente ao mercado à vista, porque o derivativo já havia reduzido as perdas após o fechamento do dólar pronto na sexta-feira e pela aproximação do vencimento do contrato futuro.
BOVESPA
A Bovespa recuava na manhã desta segunda-feira após a reeleição da presidente Dilma Rousseff no domingo, com investidores preferindo a ponta vendedora enquanto aguardam novidades sobre como a petista vai lidar com desafios relevantes no campo econômico em seu segundo mandato.
O Ibovespa era pressionado pelas ações da Petrobras e de bancos. Na mínima, o principal índice da bolsa brasileira chegou a 50.653 pontos.
De acordo com profissionais do mercado, o Ibovespa abandonou a mínima diante da avaliação de alguns investidores de que o Ibovespa em dólar estaria em um patamar barato. No ano, em dólar, o índice acumula um declínio superior a 10 por cento, considerando também o desempenho desta segunda.
O volume financeiro nesta sessão alcançava 7 bilhões de reais.
"Houve um ajuste na semana passada, mas a correção ainda deve continuar. A economia está muito mal, o quadro fiscal é péssimo e o mercado externo tem um risco crescendo, fora o risco de racionamento (de energia) no ano que vem", disse o gestor Eduardo Roche, da Canepa Asset Management.
Em outubro até o dia 24, última sessão antes da votação do segundo turno, o Ibovespa acumulava declínio de 4 por cento.
Dilma venceu com 51,6 por cento dos votos válidos, contra 48,4 por cento do candidato do PSDB, Aécio Neves. O placar foi mais apertado até do que o da eleição de 1989, quando Fernando Collor de Mello (PRN) derrotou Lula por 53,03 a 46,97 por cento.
O analista Marco Aurélio Barbosa, da CM Capital Markets, disse que há vários pontos na agenda econômica (política fiscal e monetária) e política (reforma política e combate à corrupção) que devem nortear as ações do governo nessa virada de mandato, e podem ser decisivos para o mercado financeiro.
"Se o governo agir rápido, pode retomar um certo nível de confiança reduzindo a volatilidade e abrido espaço para a retomada dos investimentos", escreveu ele em nota a clientes.
Roche, da Canepa, avalia, porém, que "o benefício da dúvida é certamente contra o atual governo". Ele prevê "tempos difíceis" pela frente e risco de a bolsa ficar "de lado" após quedas expressivas ao longo de outubro.
Entre as ações a pressionar o índice neste pregão, a queda dos papéis da Petrobras PETR4.SA PETR3.SA ultrapassava os dois dígitos, assim como os de outra estatal, a Eletrobras ELET6.SA ELET3.SA.
Muitas outras ações também sofreram com a visão mais pessimista traçada por economistas para o país no curto prazo, como as dos bancos privados Itaú ITUB4.SA e Bradesco BBDC4.SA e de empresas do setor imobiliário.
A alta do dólar decorrente da aversão amparava ganhos de empresas como Fibira FIBR3.SA, Suzando SUZB5.SA e Braskem BRKM5.SA, que têm as receitas influenciadas por exportações.
Da safra de balanços, Hypermarcas HYPE3.SA reportou na sexta-feira à noite lucro líquido de 118,8 milhões de reais no terceiro trimestre, alta de 48,1 por cento na comparação anual.
Tractebel Energia TBLE3.SA, maior geradora privada de energia do país, divulgou na sexta-feira, também após o fechamento do mercado, alta de 34 por cento no lucro do terceiro trimestre, resultado bem acima do esperado pelo mercado.
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