Dólar fecha acima de R$2,92 pela 1ª vez em mais de dez anos
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou acima de 2,92 reais pela primeira vez em mais de dez anos nesta terça-feira, reagindo a persistentes preocupações com os fundamentos da economia brasileira e com investidores testando a tolerância do Banco Central ao fortalecimento da moeda norte-americana.
Na reta final da sessão, a moeda norte-americana ampliou os ganhos, em meio a especulações sobre a lista preparada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com os políticos envolvidos na operação Lava-Jato a ser enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A divisa dos Estados Unidos subiu 1,14 por cento, a 2,9280 reais na venda, a máxima da sessão e o maior nível de fechamento desde 2 de setembro de 2004, quando foi a 2,940 reais. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,4 bilhão de dólares.
Segundo o operador da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa, qualquer "alívio sobre o real tende a ser pontual, já que a situação econômica e política do Brasil gera muita insegurança entre os investidores locais e estrangeiros, com potencial de uma reversão de trajetória e volatilidade nos mercados internos".
Ele ressaltou ainda que a comunicação recente do governo tem levantado dúvidas sobre o futuro das intervenções diárias no câmbio, marcadas para durar pelo menos até o fim deste mês. Nesse contexto, investidores elevavam as cotações do dólar para buscar mais pistas sobre qual será a postura do Banco Central.
Investidores têm mostrado menor apetite por ativos brasileiros diante da perspectiva de que, mesmo se o ajuste for bem-sucedido em resgatar a credibilidade da política fiscal, a inflação no Brasil deve fechar 2015 acima de 7 por cento e o país deve mostrar contração econômica.
O escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato também contribuiu para o menor apetite por ativos brasileiros. A previsão é que a PGR enviará ao STF pedidos de abertura de inquérito ou denúncias contra políticos envolvidos na operação entre terça e quarta-feira.
"O mercado não tem informações novas, mas há muita especulação", disse o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos.
No caso do câmbio, essa pressão tem sido corroborada ainda por ruídos sobre a intervenção do BC. A autoridade monetária sinalizou que deve rolar perto de 80 por cento do lote de swaps cambiais que vencem em 1º de abril, equivalente a uma posição vendida de 9,964 bilhões de dólares. Nos últimos meses, o BC vinha fazendo rolagens integrais.
Contando com o leilão de swaps para rolagem desta sessão, em que a autoridade monetária vendeu a oferta integral, cerca de 7 por cento do lote de abril já foram rolados.
Segundo analistas, à medida que o mês se aproximar do fim, investidores devem pressionar cada vez mais a autoridade monetária a se posicionar sobre o futuro do programa de ofertas diárias.
"Já tem gente se preparando para (a cotação de) 3 reais", disse o operador de um importante banco nacional.
Nesta manhã, o BC também deu continuidade às intervenções diárias vendendo a oferta total de até 2 mil swaps, com volume correspondente a 98,3 milhões de dólares. Foram vendidos 1.400 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 600 para 1º de fevereiro de 2016.
(Por Bruno Federowski)
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