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Nível de dívida e não pagamento de dividendos pela Petrobras frustram analistas

PAULO WHITAKER
Imagem: PAULO WHITAKER

23/04/2015 12h27

SÃO PAULO (Reuters) - O nível de endividamento da Petrobras e a informação de que a companhia não pagará dividendos referentes a 2014, segundo os balanços auditados divulgados pela empresa na noite de quarta-feira, decepcionaram analistas de mercado.

A estatal teve um prejuízo de 21,6 bilhões de reais no ano passado, após contabilizar perdas de 6,2 bilhões de reais por corrupção e reduzir em mais de 44 bilhões de reais o valor de seus ativos. A empresa, no centro da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, não pagará dividendos referentes ao exercício de 2014 para preservar caixa, mesmo tendo mais de 100 bilhões de reais em reservas de lucros no fim de dezembro.

"Tudo isso nos deixa com a impressão de que a Petrobras irá continuar a ser 'mais do mesmo': fará apenas o necessário para garantir liquidez e recursos para executar investimentos, mas sem nenhuma urgência para alcançar fluxo de caixa livre positivo ou retornos elevados", escreveram os analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu, do Credit Suisse, em relatório a clientes.

O BTG Pactual destacou que a companhia não pagará dividendos, mesmo tendo pago participação nos lucros aos funcionários. "À primeira vista, os números realmente fracos ficaram muito abaixo do que esperávamos", disseram os analistas do BTG Gustavo Gattass, Andres Cardona e Julia Ozenda.

O UBS salientou que o não pagamento de dividendos é muito negativo para as ações preferenciais da Petrobras, mas positivo para as ordinárias.

"Isso, no entanto, já está mais do que refletido na diferença de preços entre preferenciais e ordinárias", disse a analista Lilyanna Yang, do UBS, em nota a clientes.

Já o Itaú BBA disse que a divulgação dos resultados auditados é um "alívio", mas que agora virá a parte mais difícil para a petroleira, que é atacar sua alta alavancagem.

A relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado alcançou quase 4,8 vezes ao fim de 2014. Segundo o Itaú BBA, presumindo preços de diesel e gasolina estáveis até o encerramento de 2016 e um dólar a 3,4 reais, a alavancagem da Petrobras pode atingir 6,1 vezes até o fim do próximo ano.

"O investimento previsto é maior que os números que temos em nosso modelo, enquanto a produção sobe apenas 3 por cento até 2016: nós esperamos que o mercado leia isso negativamente", disse a analista Paula Kovarsky, do Itaú.

O Goldman Sachs, em relatório, disse que a volatilidade nos preços das ações da companhia deve continuar, uma vez que é difícil estabelecer se a pressão baixista ou altista prevalecerá.

"Acreditamos que as ações continuam dependentes do preço do petróleo e dos movimentos de câmbio, da conclusão das atuais investigações e da execução de alternativas para melhorar a liquidez no curto prazo, todos fatores que apontam para razoável incerteza", disse a área de pesquisa do banco.

As ações ordinárias da Petrobras abriram em queda nesta quinta-feira na bolsa paulista, mas anularam a baixa e subiam 0,38 por cento às 12h20, a 13,36 reais.

Já as preferenciais chegaram a cair quase 10 por cento, mas reduziram perdas e eram negociadas em baixa de 4,65 por cento no mesmo horário, cotadas a 12,51 reais.

O índice Bovespa tinha alta de 0,54 por cento.

PONTOS POSITIVOS

Alguns analistas também apontaram pontos positivos no balanço divulgado pela Petrobras.

O Bank of America (BofA) Merrill Lynch afirmou que o tom geral dos comunicados da Petrobras aponta para um futuro promissor, mas reconheceu que sua confiança e recomendação de "compra" para as ações da companhia diferem do consenso do mercado.

"Embora muitos fiquem tentados a vender com a notícia da divulgação, acreditamos que há pontos suficientes para limitar a fraqueza no curto prazo", disse o BofA.

O banco disse que há um tom positivo nos principais pontos relacionados ao crescimento futuro e o retorno da companhia, além de uma avaliação de preço relativamente atraente na comparação com outras empresas do setor.

O sócio da gestora de investimentos Humaitá, Frederico Mesnik, avaliou que "considerando que a (auditoria) PwC assinou embaixo destes resultados, a percepção do mercado é de que não há mais surpresas à frente".

(Por Gustavo Bonato; Com reportagem adicional de Paula Arend Laier, Silvio Cascione e Asher Levine)