Mercados locais devem ter frenesi momentâneo após Câmara aprovar impeachment
SÃO PAULO (Reuters) - Os mercados financeiros devem abrir eufóricos nesta segunda-feira após a Câmara dos Deputados aprovar o pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, apostando que a sanção do Senado Federal e o afastamento da presidente são só uma questão de tempo.
Passado o frenesi inicial, porém, profissionais do mercado consultados pela agência de notícias Reuters não descartam a possibilidade de que investidores embolsem os lucros, revertendo parte desse otimismo, e a cautela tome conta de investidores.
Isso porque o foco deve passar aos nomes que formariam a equipe econômica de um eventual futuro governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
"Inicialmente, os pormenores serão ignorados e a irracionalidade prevalecerá por um, dois dias. Depois, voltaremos a olhar para o cenário técnico, para a política monetária, para os nomes da política econômica", afirmou o operador Thiago Castellan Castro, da corretora Renascença.
Para ele, o dólar pode chegar a R$ 3,40 já na segunda-feira, após fechar a R$ 3,524 na última sexta-feira.
Nesse cenário, os juros futuros médios e longos desabariam, com o DI para janeiro de 2021 recuando a 12,50%, contra 13,04% no fechamento de sexta-feira, estimou Castro.
No fim do domingo, a Câmara aprovou o pedido de impeachment de Dilma.
Se a decisão dos deputados for ratificada no Senado, Dilma será afastada por até 180 dias e Temer será seu substituto enquanto é decidido o destino da presidente.
Apostas ortodoxas
De maneira geral, operadores apostam que um eventual governo Temer terá orientação mais ortodoxa, sobretudo no campo fiscal. Mas até isso se confirmar, o que pode demorar algum tempo, os mercados financeiros no país tenderão a caminhar com mais cautela, sem grandes apostas.
Sobretudo nas últimas semanas, os ativos brasileiros reagiram com força às crescentes expectativas de afastamento de Dilma. Operadores e agentes econômicos culpam a presidente pelo cenário de forte recessão e estragos nas contas públicas do país.
A moeda norte-americana, após renovar sua máxima histórica em meados de janeiro, acima de R$ 4,16 no fechamento, vem numa trajetória descendente. No ano até o fechamento de 15 de abril, o dólar recuou quase 11% ante o real, mesmo diante da forte atuação recente do Banco Central no sentido de segurar a desvalorização da divisa dos Estados Unidos.
O Ibovespa, índice que reúne as principais ações brasileiras na bolsa de valores, renovou as máximas desde meados de 2015, acima dos 53 mil pontos, acumulando até o momento ganho de mais de 20% neste ano.
No caso do mercado acionário, o gestor Alexandre Póvoa, sócio na Canepa Asset Management, avalia que a continuidade do movimento de alta dependerá de uma série de fatores, mas avaliou, em recente carta a clientes, que há espaço para avanço adicional de mais 10% do Ibovespa.
Ele ressaltou, no entanto, que o mercado poderá sofrer uma realização de lucros a partir de maio, "à medida que for ficando claro que a grave situação econômica brasileira não será aplacada por medidas apenas tópicas".
Equipe
Os nomes que circularam na imprensa em uma possível equipe econômica de Temer têm agradado o mercado, como os dos ex-presidentes do BC Henrique Meirelles e Armínio Fraga e o ex-diretor de Política Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo.
Com um nome forte, acreditam especialistas, o novo governo teria maior confiança de agentes econômicos e maior chance para adotar medidas de ajuste fiscal. Dilma chegou a buscar ações de austeridade fiscal, mas enfrentou dificuldades para aprová-las no Congresso.
Se essas expectativas de política econômica mais ortodoxa e melhor governabilidade se confirmarem, profissionais do mercado afirmaram ver espaço para mais quedas do dólar e dos DIs.
Para o tesoureiro-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira, a moeda norte-americana tende a se equilibrar por volta de R$ 3,30, mas pode até beirar os R$ 3 em nova onda de otimismo.
Por outro lado, se parecer que o novo governo não terá espaço ou disposição para implementar as medidas necessárias para reequilibrar as contas públicas e trazer de volta a confiança no país, a correção dos preços aconteceria.
"Se não conseguirmos visualizar uma solução da crise até o meio do ano, certamente o mercado vai se deteriorar bastante no segundo semestre", disse o sócio-diretor da Jive Asset Management, Leonardo Monoli.
(Reportagem adicional de Paula Arend Laier)
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