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Com Brasil em crise, fundos de pensão abrem 2016 com melhor rentabilidade em 5 anos

30/05/2016 12h34

Por Aluísio Alves

SÃO PAULO (Reuters) - Na contramão da crise econômica do país, os fundos de pensão fechados no Brasil estão tendo em 2016 a melhor rentabilidade em mais de cinco anos, refletindo a combinação de juros altos e a disparada recente das ações brasileiras.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), a rentabilidade média do setor estimada no primeiro trimestre foi de 5,24 por cento, o melhor desempenho trimestral desde o quarto trimestre de 2010.

Com patrimônio de cerca de 730 bilhões de reais no fim de 2015 e com quase sete milhões de associados, as entidades do setor avaliam que, se o resultado não for revertido nos próximos meses, podem ter resultado acima da meta atuarial - valorização mínima necessária para o fundos conseguirem pagar os benefícios dos associados de forma sustentada no longo prazo - o que não acontece desde 2013.

"Fomos beneficiados com a melhora de expectativas de China e Estados Unidos, que repercutiram nos mercados, em simultâneo com o processo de impeachment (da hoje presidente afastada Dilma Rousseff) no Brasil", disse à Reuters Jorge Simino, diretor de investimentos e patrimônio do Funcesp.

Maior fundo de pensão patrocinado por empresas privadas do país, com 15 patrocinadoras, o Funcesp teve rentabilidade de 10,7 por cento de janeiro a abril, mais que o dobro da meta atuarial, de 5,2 por cento para o período.

Embora acompanhado com intensidades distintas no setor, o movimento é um alívio especialmente para fundos que nos últimos anos acumularam sucessivos déficits, quando o patrimônio de um plano fica menor do que os compromissos com pagamentos atuais e futuros. É o caso de fundos de funcionários de grandes estatais, como Petros (Petrobras), Funcef (Caixa Econômica Federal). Postalis (Correios) e Previ (Banco do Brasil).

De janeiro a março, a carteira do Petros teve rentabilidade de 5,09 por cento, acima da meta atuarial de 4,05 por cento. No principal fundo do Funcef, o retorno de ativos que respondem por cerca de 60 por cento do total, ficou ao redor de 4,5 por cento, ante meta de 4,34 por cento. No Previ, a valorização foi de 5,75 por cento, ante meta atuarial de 4,19 por cento.

O desempenho é explicado majoritariamente pelos juros mais altos oferecidos por papéis do governo --a Selic, referência para títulos pós-fixados, desde julho está em 14,25 por cento ao ano, o pico desde 2006-- e pela disparada das ações brasileiras, com o Ibovespa subindo 15,5 por cento no primeiro trimestre.

Em alguns casos, a expectativa é de rentabilidade consolidada do começo do ano ainda maior, uma vez que a precificação de ações e papéis privados em suas carteiras acontece apenas no final do ano. No Funcef, por exemplo, papéis da Vale, da Invepar e da Norte Energia representam cerca de um terço do portfólio da carteira principal.

"A gente espera superar meta atuarial de cerca de 13 por cento", disse à Reuters o diretor de investimento da Funcef, Mauricio Marcelini. "A pressão nos passivos diminui um pouco."

Funcef, Petros, Postalis gerem alguns dos 108 fundos que apresentaram déficit no ano passado, segundo a Abrapp. Das 307 entidades avaliadas pelo órgão, estima-se que cerca de 150 terão que fazer equacionamento de déficits ao órgão regulador Previc, por terem acumulado déficits por vários anos seguidos.

Os três fundos, além da Previ, são alvos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga indícios de fraude e má gestão de fundos de previdência que causaram prejuízos a funcionários de estatais e servidores públicos entre 2003 e 2015. No mês passado, o relator da CPI, deputado Sergio Souza (PMDB-PR), pediu 146 indiciamentos.

Com desempenho relativo superior aos dos demais fundos de estatais, o Previ projeta para 2016 um resultado melhor do que o do ano passado. O fundo também tem participações conjunta relevante na carteira de papéis de Vale, Invepar, Neoenergia.

"No ano passado, tivemos efeito negativo de marcação a marcado sobre alguns (ativos), o que talvez não aconteça agora", disse o diretor de investimento do Previ, Marcus Almeida. "A conjunção negativa do ano passado deve se revertida."

Para os gestores dos fundos, no entanto, a China, diante de forte desaceleração econômica e alvo permanente do temor de estouro de uma bolha de crédito, e Estados Unidos, às vésperas de uma retomada do ciclo de aumento de juros, são os maiores riscos de a gordura acumulada no começo do ano seja queimada nos próximos meses.

"E a situação no Brasil aparenta ter melhorado, mas ainda é grave e sujeita a percalços", diz Simino, do Funcesp.