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ENTREVISTA-Novos projetos de geração de energia podem ter hiato de 2 anos no Brasil, diz CPFL

30/03/2017 13h40

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Investidores em geração de energia deverão enfrentar um longo intervalo sem novos projetos no Brasil, o que forçará empresas interessadas em crescer no segmento a apostar em aquisições ou em licitações de projetos existentes, disse à Reuters o presidente da unidade de geração da CPFL, maior elétrica privada do país.

O Brasil viu a demanda por eletricidade cair nos últimos dois anos, o que não acontecia desde 2009, quando o país foi afetado pela crise financeira global, mas ao mesmo tempo um volume recorde de novas usinas entrou em operação, o que deixou o país em um cenário de sobreoferta.

"Não estou enxergando muitos projetos de geração novos. Ainda vai levar uns dois anos, sendo otimista, porque depende da recuperação da economia", disse à Reuters o diretor-presidente da CPFL Geração, Fernando Mano.

A última década viu um grande volume de contratações de usinas em leilões públicos. Entre 2005 e 2016, o Brasil contratou 69 mil megawatts em novas usinas que representam cerca de 198,5 bilhões de reais em investimentos estimados, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Atualmente, o país tem cerca de 150 mil megawatts em capacidade instalada.

"A gente torce para que os leilões (para contratação de novas usinas de energia) voltem, mas tem um ponto importante, que é essa situação de sobreoferta", avaliou.

Ele ressaltou, no entanto, que a CPFL Geração ainda não definiu sua estratégia para os próximos anos, que tem sido discutida junto a executivos da chinesa State Grid, maior elétrica do mundo, que neste ano concluiu a compra do bloco de controle da CPFL Energia por 14,2 bilhões de reais.

"Estamos hoje discutindo com o acionista o plano estratégico, a gente tem discutido muito com eles... eles têm sinalizado um processo suave de continuidade, de forma nenhuma uma ruptura", disse.

As discussões envolvem os volumes de aporte e as fontes de energia que serão priorizadas pela CPFL, bem como o ritmo de expansão da companhia sob o comando dos chineses.

O executivo comentou ainda que o atual cenário de menos oportunidades em geração deve favorecer uma licitação que o governo federal prepara para oferecer a concessão de hidrelétricas em operação, cujos contratos já venceram.

O governo tem falado em arrecadar cerca de 10 bilhões de reais para o Tesouro com esse leilão por meio da cobrança de bônus de outorga junto às elétricas.

"O sucesso desses leilões está muito associado ao preço das outorgas... mas essa sensibilidade acho que o governo está tendo", disse Mano, que lembrou os bons resultados da última licitação realizada pelo governo no setor elétrico, com concessões de linhas de transmissão de energia.

A CPFL Geração administra usinas que somam cerca de 2,2 mil megawatts em capacidade, com hidrelétricas e termelétricas. A CPFL possui ainda cerca de 1,8 mil megawatts em operação na subsidiária CPFL Renováveis, de usinas eólicas, à biomassa e pequenas hidrelétricas.

MUDANÇAS NO SETOR

O presidente da CPFL Geração também disse que a empresa está otimista com mudanças no setor elétrico do Brasil devido à nova equipe do Ministério de Minas e Energia, que tem prometido solucionar problemas regulatórios no setor para atrair mais investidores.

Segundo Mano, as autoridades do setor têm sinalizado que tentarão promover reformas mesmo após um projeto de pesquisa proposto pelas elétricas para rever a regulamentação do setor ter sido arquivado nesta semana pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

"A gente sente interesse do governo e dos agentes. Independente disso (arquivamento da proposta), as mudanças vão acontecer... a forma de se fazer é que vai ser diferente", apostou.

Entre as potenciais novidades para o setor, Mano acredita que as principais podem ser a separação entre leilões para contratar novas usinas, ou capacidade, e a comercialização de energia, ou lastro, um tema que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já admitiu estar em avaliação.

A expansão do mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores podem negociar contratos diretamente com geradores e comercializadoras, também é um tema que a CPFL acredita que está no radar do governo.