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Comercializadoras de energia ampliam ganhos após chuva fraca elevar preços, diz Bolt

18/04/2017 15h57

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Empresas que comercializam eletricidade devem conseguir elevar os ganhos neste ano devido a uma disparada nos preços da energia causada por chuvas abaixo da média entre janeiro e este início de abril, disse nesta terça-feira um executivo da comercializadora Bolt Energias.

Gerida pelo fundo de investimentos Ático Geração, da Ático Investimentos, a própria Bolt trabalha com a perspectiva de dobrar seu lucro líquido com a comercialização de contratos de energia neste ano ante os cerca de 30 milhões de reais de ganhos em 2016.

O gestor da Bolt Energias, Gustavo Ayala, disse à Reuters que a empresa e outras comercializadoras se prepararam e guardaram energia para vender entre maio e dezembro, um período para o qual espera-se agora um novo salto nos preços.

"Acredito que a maioria do mercado está aproveitando, entre as comercializadoras... uma ou outra pode ter uma visão diferente, e pode estar tendo prejuízo... mas essa estratégia de médio prazo, de maio a dezembro, tenho observado que a maioria das comercializadoras foi vencedora aí, a maioria do mercado está nessa tendência", disse.

Os principais clientes neste momento são hidrelétricas que precisam cumprir suas posições no mercado, diante das perspectivas de menor geração por conta do déficit hídrico, que por sua vez está por trás da alta nos preços da eletricidade.

O preço spot da energia elétrica, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), utilizado em negociações de curto prazo com energia, mas com influência sobre contratos mais longos, está em cerca de 356 reais por megawatt-hora, alta de mais de 150 por cento desde o início do ano.

Segundo Ayala, o PLD deverá seguir em alta após maio, com "grandes chances" de em alguns meses bater os 533,82 reais --teto estabelecido pela regulação do setor.

"Em abril ainda tem uma chuva considerável... depois, vai entrar no período seco... se vier chuva abaixo da média ainda, aí realmente o preço pode chegar no teto facilmente", afirmou.

O executivo avalia que o custo de operação do sistema pode até ultrapassar os 610 reais, ponto que dispara o acionamento da bandeira vermelha nível 2 nas contas de luz, gerando uma cobrança extra de 3,50 reais a cada 100 kwh consumidos para clientes atendidos pelas distribuidoras de energia.

As tarifas estão atualmente em bandeira vermelha nível 1, com adicional de 3 reais a cada 100 kwh. A bandeira vermelha não era acionada desde fevereiro de 2016.

HIDRELÉTRICAS COMPRADORAS

Em meio a uma recessão que ainda limita a atividade industrial, a Bolt Energias tem sentido forte demanda por compra de energia principalmente por parte de empresas que são operadoras de hidrelétricas, que cada vez mais temem enfrentar um forte déficit de geração neste ano.

Quando produzem menos energia do que venderam em contratos, as usinas hídricas têm que comprar energia de outras fontes para compensar a produção menor.

Mas, com os preços em alta, os geradores hídricos têm corrido para evitar ter que repor a energia quando as cotações estiveram mais elevadas, no segundo semestre.

"Tem muita demanda para contratos de maio a dezembro... é muito por conta das geradoras hidrelétricas, que querem fazer um hedge para encarar o GSF (nome técnico para o déficit de geração hídrica)", disse Ayala.

A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estimou no final de maio que o déficit hídrico deverá gerar um impacto financeiro de cerca de 21 bilhões de reais sobre o mercado de energia elétrica em 2017.