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Estoques de café do Brasil caem para o menor nível desde 2012; exportador diverge

12/07/2017 18h05

SÃO PAULO (Reuters) - Os estoques privados de café do Brasil totalizaram 9,86 milhões de sacas de 60 kg em 31 de março de 2017, queda de 27,4 por cento em relação ao apontado em igual data de 2016 e o menor volume desde 2012, informou nesta quarta-feira a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Os dados deram margem para questionamentos da indústria e exportadores após um ciclo 2016/17 de produção recorde, impulsionada pela grande safra de arábica, que mais do que compensou a quebra de colheita de grãos do tipo robusta pela severa seca.

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), Nelson Carvalhaes, por exemplo, afirmou que os números estão subdimensionados e deveriam apontar reservas maiores.

Pelos cálculos do dirigente do Cecafé, de março até agora foram consumidas 5,25 milhões de sacas de café internamente e exportadas em torno de 7 milhões de sacas, totalizando 12,25 milhões de sacas. Assim, estariam "faltando" cerca de 2,4 milhões de sacas nos números divulgados pela Conab.

O segundo trimestre concentra o período de entressafra de café, com produção reduzida do grão, e os estoques de março são, portanto, um importante balizador sobre o suprimento até o início da nova safra.

"O que me chamou a atenção nesses números foi que, se somarmos, não chegamos aos números que eles (Conab) acusam", disse Carvalhaes nesta quarta-feira a jornalistas na sede da entidade, em São Paulo.

"Achamos importante que haja investimento nessa área de estatística, pois isso é de suma importância para todos nós", concluiu.

Já para o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, os dados da Conab comprovaram o sentimento de disponibilidade restrita no mercado.

"A indústria passou um 2016 muito crítico, porque no segundo semestre houve uma escassez (de produto) como não se via há décadas, com falta de conilon após dois anos de problemas (na produção nacional)", disse ele à Reuters, por telefone.

"Conjunturávamos um cenário de oferta muito apertada, e (com o levantamento da Conab) foi quase uma confirmação dessa conjuntura. Foi um número muito mais próximo ao que ouvíamos no mercado."

As torrefadoras utilizam o conilon, ou robusta, para o blend (mistura) com o arábica e foram afetadas pela disparada dos preços da variedade após a estiagem nos cafezais do Espírito Santo. A escassez motivou pedidos da indústria de liberação de importação de café verde, o que acabou não se confirmando.

Contudo, Herszkowicz reconhece que a pesquisa da Conab permite questionamentos. "Um levantamento que parte de uma informação voluntária sempre gera dúvida. Mas o mais importante é que ele indica uma tendência", frisou.

Procurada, a Conab disse que o resultado do levantamento parte de dados informados pelos próprios armazenadores, mas que o preenchimento dos formulários sobre as reservas "não é obrigatório".

"Ao todo foram pesquisados 931 armazenadores, com o envio de 1.495 boletins. Desse total, foram preenchidos 575", informou a Conab.

(Por José Roberto Gomes e Roberto Samora)