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Calmaria do mercado pode continuar mesmo sem reforma da Previdência, diz Luiz Fernando Figueiredo

Por Luiz Guilherme Gerbelli

30/08/2017 15h32

SÃO PAULO (Reuters) - A calmaria que domina o mercado financeiro brasileiro nos últimos meses pode continuar até o fim do governo do presidente Michel Temer em 2018, mesmo se a reforma da Previdêncianão for aprovada até lá, sustentada pela força do balanço de pagamentos brasileiro, sem sinais de retirada de dólares.

A avaliação é do fundador e sócio da gestora Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo. Mas ele ressalta que a tranquilidade que prevê no futuro está condicionada ao tom reformista dos próximos candidatos a presidente e ao cenário internacional, que já tem beneficiado economias emergentes como a brasileira.

"Se os candidatos com maior probabilidade (de vencerem a eleição presidencial) falarem de uma agenda razoável, esse processo positivo deve continuar", afirmou Figueiredo em entrevista à agência de notícias Reuters. "Para o próximo governo, dá tempo (de fazer a reforma da Previdência)", acrescentou.

Apesar de toda a incerteza política e a lenta recuperação da atividade econômica, o Brasil tem colhido bons resultados no setor externo, sobretudo com a balança comercial, que tem registrado sucessivos saldos positivos, e os investimentos produtivos vindos de fora.

Entre janeiro e julho, último dado disponível, o rombo nas transações correntes estava em US$ 2,696 bilhões e largamente coberto pelos investimentos estrangeiros produtivos, que atingiram US$ 40,364 bilhões. No mesmo período de 2016, o rombo na conta corrente foi de US$ 12,438 bilhões.

O bom resultado do balanço de pagamentos indica que há baixo risco de saída de dólares do Brasil, evitando forte valorização da moeda norte-americana e de outras variáveis, como dos juros.

"Como o Brasil tem um balanço de pagamentos saudável, dá um certo teto na piora dos ativos. Se o câmbio não deprecia muito, não tem razão para a curva de juros subir e para o mercado acionário sofrer", afirmou ele, que ficou no primeiro escalão do BC de 1999 a 2003.

Desde que Temer assumiu a Presidência, em maio do ano passado, o dólar recuou de R$ 4 para a faixa de R$ 3,15 e tem se mantido nesse patamar. A Bolsa de Valores subiu de 50 mil pontos para a faixa de 70 mil pontos, voltando ao maior nível desde o início de 2011.

Figueiredo também vê sinais claros de que a economia brasileira está se recuperando após dois anos seguidos de recessão. Para 2017, estima avanço de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de tudo o que é produzido pelo país) e, em 2018, de 2%, acima da sua previsão inicial de 1,5%.

"A dúvida ainda é se a recuperação será muito lenta ou não, mas a economia brasileira dá mais sinais positivos do que se pensava", disse.

Os indícios da recuperação, afirma ele, estão começando a se espalhar mais, com a melhora da confiança, na área de crédito e nas vendas do varejo.

A queda da taxa básica de juros também deve ser mais um fator a contribuir para a melhora da atividade, uma vez que barateia os custos dos empréstimos e estimula o consumo e os investimentos.

Na projeção de Figueiredo, a Selic deve encerrar este ano a 6,75%, nova mínima histórica, e permanecer neste patamar pelo próximo ano. Atualmente, ela está em 9,25%.