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Palocci diz que Lula tinha uma conta de propinas com a Odebrecht e que sabia da corrupção na Petrobras

06/09/2017 20h34

Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - A Odebrecht estabeleceu uma conta de 300 milhões de reais para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT para manter uma boa relação com o governo durante o mandato de Dilma Roussef, mas na realidade os valores das vantagens a serem pagas não tinham um limite, disse o ex-ministro Antonio Palocci em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro.

Segundo Palocci, a relação entre o governo do petista e a Odebrecht foi "movida a propina" em troca de vantagens para a empresa, e que ele tinha conhecimento porque era da cúpula do governo.

"Diria apenas que os fatos narrados nessa denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior, de um relacionamento que é uma história maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e a ex-presidente Dilma, que foi bastante intensa. Um relacionamento movido a vantagens e a pagamento de propina pela empresa a agentes públicos em forma de doação de campanha, benefícios pessoais, caixa 1 e caixa 2", disse Palocci.

O ex-ministro dos governos Lula e Dilma foi ouvido em Curitiba no processo que investiga a compra pela Odebrecht de um imóvel que seria doado pela empresa ao Instituto Lula. Palocci confirmou a denúncia e disse que foi parte de um pacote maior para melhorar a relação com o governo Dilma.

Palocci conta que, ainda durante o governo Lula, como ministra, Dilma liderou dois embates duros com a empresa --perdeu um, mas ganhou outro-- e com sua eleição a Odebrecht "entrou em pânico".

"Foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez um espécie de pacto de sangue com o ex-presidente Lula. Procurou o presidente Lula e levou um 'pacote de propinas' que envolvia esse terreno do instituto Lula, que já estava comprado, o sítio para uso da família do presidente Lula e também disse que ele tinha à disposição dele, para as atividades políticas, 300 milhões de reais", contou.

Palocci, no entanto, diz que não existia o limite de 35 milhões de reais somente para Lula citado por Marcelo Odebrecht em sua delação premiada. Aponta que talvez fosse algum limite do empresário, mas que na verdade não havia limites.

"Eu não tratava muito esses detalhes. Eu preferia não estabelecer limites porque a minha conta com ele não tinha limites. Não ia eu estabelecer parâmetros limitadores", afirmou. "Se eu precisasse de 50 milhões para o Instituto Lula eu tenho certeza que ele daria. Então porque eu estabeleceria 35? Eles tinham uma relação com Lula muito aberta, então não me interessava estabelecer limites, destinações."

PETROBRAS

Palocci disse ainda que Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras e, em algum momento, chegou a demonstrar preocupação com isso e tomaria uma providência porque estava repercutindo de uma forma muito negativa.

"Em 2007, o presidente Lula senta comigo e fala: 'tenho ouvido falar que a diretoria de serviços, a diretoria internacional, a diretoria de abastecimento está tendo muita corrupção. Isso é verdade?' Eu disse, isso é verdade. Eu sabia sim. E ele sabia também. Ele estava preocupado com isso", disse Palocci.

"Mas quando veio o pré-sal e aí vieram investimentos de todos os tipos ele perdeu as preocupações. E mais, ele chegou a encomendar que a partir daí os diretores fizessem mais reservas partidárias", acusou.

Segundo o ex-ministro, os diretores da Petrobras Jorge Zelada, Paulo Roberto Costa e Renato Duque não foram colocados nos cargos para fazer arrecadação de recursos para partidos, mas a operação começou em seguida.

"Os conheci por currículo e eles tinham currículos extremamente capacitados para função. Não acredito que tenham sido indicadas para isso, mas que logo começou a se estabelecer essa relação", explicou.

O ex-ministro, no entanto, acrescentou que Zelada foi uma exigência do PMDB, que tinha parado de votar com o governo porque queria a diretoria internacional.

Em nota, o advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nega as acusações e diz que o depoimento de Palocci é "contraditório com outros depoimentos" e que o ex-ministro está "preso e sob pressão" enquanto negocia um acordo de delação que "exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula".