PF investiga lavagem de dinheiro em exportação de máquinas agrícolas para PDVSA
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - A Polícia Federal deflagrou operação nesta segunda-feira no Rio Grande do Sul e em São Paulo para investigar lavagem de dinheiro na exportação de máquinas e implementos agrícolas do Brasil para a Venezuela envolvendo o braço agrícola da estatal da Petroleos de Venezuela (PDVSA) e duas exportadoras, uma brasileira e outra venezuelana.
Na operação, foi preso em Madri, com ajuda da Interpol, Arid Jiobanny Garcia Vargas, dono da Tracto América, empresa de trading na Venezuela, fornecedora de máquinas agrícolas para a PDVSA.
O esquema, que vinha sendo investigado pela PF e pela Receita Federal há três anos, teria sido usado para lavar dinheiro desviado da PDVSA através de superfaturamento na venda de máquinas agrícolas e teve uma movimentação superior a 200 milhões de reais entre 2010 e 2014.
De acordo com a PF, a Tracto América, fornecedora da PDVSA, comprava no Brasil, através da empresa gaúcha América Trading, máquinas agrícolas para serem entregues à estatal, a preços superfaturados. Os valores a mais eram redistribuídos através de várias empresas de fachada como pagamento de "consultorias" à trading e terminavam em contas no exterior.
"Tudo era feito como uma operação lícita, com pagamentos em contratos de câmbio. O dinheiro entrava na conta da exportadora e dali era mandado para várias contas, no Brasil e no exterior, a pretexto de pagamentos de consultorias. Em algumas ocasiões nem chegava a entrar na conta da exportadora, ia direto para essas empresas", disse o procurador da República Juliano Karam.
O pagamento de consultorias chegava a somar entre 30 e 40 por cento dos valores pagos pelas máquinas. Segundo a PF, eram várias camadas de lavagem de dinheiro que ainda não foram totalmente decifradas.
Apenas o movimento de lavagem de dinheiro identificado até agora chega a 200 milhões de reais entre 2010 e 2014, segundo a PF. No entanto, os investigadores dizem que não conseguiram até agora investigar todo o espectro do negócio.
"Em apenas um dia, três contratos cambiais de 50 milhões de reais foram pagos pela estatal venezuelana e nada chegou para os fornecedores", disse o procurador.
Os recursos eram pagos em contas bancárias no Brasil, mas principalmente no exterior, incluindo Panamá, Estados Unidos e Suíça.
De acordo com a PF, cinco empresas sediadas no Rio Grande do Sul forneciam máquinas agrícolas para o esquema. Há indícios que duas delas sabiam do esquema.
"Uma delas criou uma das empresas de fachada para prestar consultoria para a exportadora e também recebia comissão", disse o delegado Alexandre Isbarrola.
As investigações começaram há três anos depois que a Receita Federal detectou um crescimento de cerca de 20 vezes em um ano na receita da America Trading, uma empresa até então quase desconhecida localizada em Passo Fundo, no noroeste do Rio Grande do Sul.
"Além disso, a empresa tinha uma despesa muito grande no percentual de despesas na sua operação, em comissões pagas nas operações de exportação", disse Paulo Roberto Passos, superintendente da Receita no Rio Grande do Sul.
A fiscalização acendeu a luz vermelha e a PF foi acionada. A operação desta segunda-feira incluiu seis mandados de busca e apreensão em Porto Alegre e nas cidades gaúchas de Canoas, Passo Fundo e Erechim, além de São Paulo e Americana (SP), em sedes da América Trading e da Intersugar consultoria, uma das empresas usadas no esquema. Seis pessoas foram alvo de condução coercitiva e Arid Vargas foi preso em Madri.
A empresa de Vargas está sob investigação na própria Venezuela por crimes cambiais e contrabando. Em 2012, a empresa foi encampada, ainda no governo de Hugo Chávez. No entanto, o esquema teria continuado pelo menos até 2014, de acordo com informações prestadas pela PF.
A PF e o Ministério Público planejam agora abrir uma nova etapa de investigação com a colaboração do Ministério Público venezuelano. "Vamos fazer agora um pedido de cooperação, repassando as informações que temos e pedindo informações", disse o procurador.
A Reuters procurou a América Trading nos dois telefones que constam no site da empresa, mas ninguém respondeu. O mesmo ocorreu com as tentativas de contato com a Intersugar.
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