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Hidrelétricas devem voltar a receber chuva abaixo da média no próximo verão, diz CCEE

14/09/2017 16h41

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - As hidrelétricas do Brasil devem ver novamente um período chuvoso abaixo da média histórica entre dezembro deste ano e janeiro de 2018, mesmo após hidrologias desfavoráveis nos últimos quatro anos, disse à Reuters um especialista da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) nesta quinta-feira.

As usinas hídricas respondem por mais de 60 por cento da capacidade no país, com os maiores reservatórios no Sudeste e Nordeste. Chuvas fracas que não recuperam o nível dos lagos podem pressionar as contas de luz, que passam a ter um custo adicional quando há menor oferta de energia no sistema.

"Nossos estudos, que a gente tem feito nos últimos meses, apontam para atraso do início do período úmido. E deveremos ter ainda nessa virada de 2017 para 2018 um período úmido abaixo da média", disse o gerente de Preço da CCEE, Rodrigo Sacchi.

Ele afirmou que as projeções são apoiadas por dados de órgãos meteorológicos do governo e por uma consultoria, que sinalizam também nessa direção.

"Todos são unânimes no prognóstico de atraso do período úmido... então significa que provavelmente a gente deve ter um atraso aí de cerca de 15, 30 dias, pelo menos, no início do período de chuva", explicou.

De acordo com Sacchi, as chuvas geralmente começam em outubro e novembro, mas começam a efetivamente encher os lagos das hidrelétricas em dezembro.

A previsão da CCEE é de que em dezembro a chuva na área das hidrelétricas deverá representar apenas 70 por cento da média histórica, ante 75 por cento na temporada passada, já vista como desfavorável.

Em janeiro, a estimativa é de 65 por cento da média, contra 67 por cento no ano anterior. Em fevereiro, 71 por cento, ante 70; em março, 76 por cento, frente a 66 por cento na última temporada; e abril teria chuvas em 81 por cento da média, contra 68 por cento no período anterior.

Com o atraso estimado na entrada do período úmido, a CCEE espera que os preços da eletricidade no mercado spot, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), sigam até o final de novembro no teto permitido pela regulação, de 533,82 reais por megawatt-hora.

Esses preços, que sinalizam uma menor oferta de geração, provavelmente levarão as contas de luz a ter bandeira tarifária vermelha nesses meses, o que gera custos adicionais para os consumidores.

BELO MONTE AJUDA

O especialista da CCEE disse ainda que há uma expectativa de que as chuvas fracas sejam parcialmente compensadas pela entrada de mais capacidade de geração no sistema, principalmente com a perspectiva de a enorme hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, acionar mais máquinas.

Atualmente, Belo Monte não pode acionar novas turbinas devido à falta de linhas de transmissão, mas as obras de um linhão que ligará a usina ao Sudeste devem ser concluídas entre o final deste ano e o início de 2018.

"Isso pode favorecer o envio de energia do Norte para o Sudeste e o Nordeste. Isso favorece para o próximo ano... pode inclusive eventualmente até provocar uma redução do PLD... mais oferta hidráulica tende a diminuir o preço", disse Sacchi.

O gerente da área de Preço da CCEE disse ainda que o padrão climático negativo dos últimos anos pode significar que o país está prestes a uma virada de cenário no próximo período úmido, em 2018/19.

"Períodos assim, de alguns anos --três, quatro ou cinco-- com hidrologia adversa no Sudeste é comum, já aconteceu, mas não dura muito mais que isso. Então a perspectiva que a gente tem é que isso se reverta. Provavelmente não este ano, mas a gente torce e espera que já no próximo ciclo", apontou.

O Nordeste, que enfrenta uma seca muito mais forte, com chuvas ao redor dos 30 por cento da média nos últimos meses, também pode passar por uma virada, mas a situação na região é muito mais incerta.

"No Nordeste está bem ruim há alguns anos... lá a cada 20 anos, mais ou menos, tem 20 anos de bonança e depois mais 20 de adversidade. Pode ser que (esse ciclo ruim) esteja acabando, a qualquer momento encerre, mas é uma incógnita", apontou.

As projeções da CCEE para o PLD são realizadas com uso de tecnologia de redes neurais artificiais, um meio de construir operações matemáticas que busca se aproximar do funcionamento do cérebro humano.

A metodologia foi aplicada pela CCEE no setor elétrico para prever as chuvas, que são elemento chave na definição dos preços da eletricidade no mercado de curto prazo.