Indústria tem oferta quase "normal" de café robusta com produtor disposto a vender
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Em contraste com a oferta de café arábica, a disponibilidade da variedade robusta para a indústria brasileira está em um nível de "quase normalidade", com cafeicultores dispostos a vender nos atuais preços após uma safra de recuperação nas principais regiões produtoras do país, disseram representantes do setor à Reuters.
O mais recente Índice de Oferta de Café para a Indústria (IOCI), calculado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) entre 9 e 13 de outubro, mostrou que a oferta de robusta, ou conilon, atingiu 6,90 pontos, perto da nota 7, a partir da qual o suprimento é considerado normal.
O índice vai de 1 a 9 e, quanto maior, melhor a disponibilidade do produto.
"Temos a impressão de que os vendedores de café conilon estão de uma certa forma ativos. A safra terminou de ser colhida há três meses e há café disponível no mercado, nas fazendas, nos armazéns. Em princípio, a falta desse café está descartada", disse o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.
Ele lembrou que, na virada de 2016 para 2017, ainda na esteira da seca que derrubou a safra no Espírito Santo, maior produtor nacional de robusta, o IOCI da variedade bateu em quase 2 pontos, indicando oferta crítica. Essa situação levou a indústria local a reiterar pedidos de liberação de importação de café verde naquela época, o que acabou não ocorrendo.
Com efeito, a produção de conilon em 2017 marcou uma recuperação após quase dois anos de estiagem no Espírito Santo e em partes da Bahia.
Pelas projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá produzir neste ano 10,7 milhões de sacas de robusta, expressiva alta de 34 por cento na comparação com as 8 milhões de 2016.
O conilon é muito utilizado pela indústria de café solúvel e também pela de torrado e moído para o "blend" (mistura) com o arábica, cujas indefinições sobre a safra do ano que vem e as cotações mais deprimidas vinham limitando a oferta dessa variedade mais cara para as empresas nas últimas semanas.
PREÇOS EM QUEDA
O fato é que a produção maior em 2016 tem pressionado as cotações do café robusta no mercado. E, mesmo assim, os produtores ainda se mostram interessados em comercializar.
"Há 30 dias (o conilon) estava em torno de 400 reais, hoje em 370 reais e, há um ano, em 500 reais por saca na praça de Vitória (ES)", disse Jorge Nicchio, presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), entidade que representa os exportadores do Estado, com 52 empresas.
"Está caindo porque há mais oferta do que procura, mas, mesmo com esse preço, ainda é rentável. Além disso, o produtor está olhando lá na frente, vislumbrando uma safra maior em 2018 e avaliando que o preço pode cair ainda mais", afirmou.
Nicchio comentou que há uma expectativa de que o Espírito Santo colha 10 milhões de sacas de café robusta em 2018, um salto ante as 6 milhões de sacas de 2017.
"O produtor entendeu que o nível de 400 reais não voltará agora, então, para fazer dinheiro, está vendendo essa disponibilidade", resumiu o diretor da consultoria Pharos, Haroldo Bonfá.
Já o preço da saca do café arábica (tipo 6, bebida dura para melhor, posto na cidade de São Paulo) está em 445,65 reais, ante 507 reais na mesma época do ano passado.
Embora a queda seja menos expressiva ante a do robusta, para produtores de café arábica os valores atuais não são interessantes para comercializar, segundo os especialistas, e a oferta segue mais escassa, com impacto nas exportações do produto de melhor qualidade, que tem sido fracas nos últimos meses.
Os embarques de café verde pelo Brasil caíram 24,2 por cento em setembro, para 2,04 milhões de sacas, em um desempenho considerado "inesperado" pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). As exportações brasileiras são compostas majoritariamente por grãos arábica.
O índice geral sobre disponibilidade de café da Abic (que inclui arábica e conilon, mas não destaca somente arábica) está em 5,23, indicando "suprimento seletivo", sendo puxado para baixo por conta da menor oferta de arábica, diferentemente do indicador do robusta.
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