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Investidores em ações ficam mais seletivos após ganhos recentes

27/10/2017 16h28

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - Grandes gestores de fundos estão ficando mais seletivos em relação a ações à medida que cresce o ceticismo sobre a possibilidade de os ganhos que varreram a bolsa nos dois últimos anos se estenderem por 2018.

O Ibovespa disparou 75 por cento desde o fim de 2015, superando facilmente o avanço de 40 por cento do índice de mercados emergentes do MSCI.

Esperanças de que o presidente Michel Temer seria bem-sucedido em acertar as contas públicas, além do forte apetite por ativos de mercados emergentes em todo o mundo, alimentaram a demanda por ações brasileiras.

O índice brasileiro atingiu novos recordes neste mês, mas ainda não atingiu os picos de 2008 quando cotado em dólar ou ajustado para a inflação.

Mas investidores que surfaram essa onda estão ficando mais cautelosos. Gestores como a GAP Asset Management e Kondor Invest, que administram um total de 5 bilhões de reais em ativos, recentemente advertiram em cartas a clientes que estão recorrendo a estratégias mais "seletivas" de investimento em ações.

"Como a valorização foi muito rápida, algumas ações com uma história mais limpa acabaram indo a preços um pouco exagerados", disse à Reuters o gestor da Kondor Felipe Campos.

"Temos que ser cuidadosos ao escolher empresas que são de qualidade superior mas que também entregam resultados compatíveis com as expectativas do mercado".

As declarações sugerem que os ganhos acionários podem desacelerar à medida que as eleições de 2018 se aproximam e ameaçam despejar volatilidade no mercado.

Muitos acreditam na possibilidade de mais um rali se o próximo presidente prometer dar continuidade à plataforma de reformas econômicas de Temer. Mas alguns apontam para sinais de que os preços das ações não encontram justificativa na atual conjuntura.

Cálculos da Reuters mostram que a relação entre preço e lucro esperado de dois terços das empresas do Ibovespa está acima da média de 2016, um sinal de que as projeções de lucro estão baixas demais ou os preços das ações estão altos demais.

A Rio Bravo Investimentos reduziu em setembro sua posição em Itaú Unibanco, o maior banco do Brasil, após a relação entre os preços da ação e o lucro esperado atingirem um recorde.

Esforços do banco para reduzir a inadimplência e elevar os spreads ajudaram a impulsionar seu lucro, alavancando sua ação em 35 por cento neste ano, mas essa tendência não deve se estender, disse a Rio Bravo.

"Optamos por realizar uma redução tática nesta posição - e aguardar (torcer) por um novo momento de relação preço x risco favorável ao aumento," escreveram gestores da Rio Bravo em carta mensal.

Campos, da Kondor, citou a empresa de saneamento Copasa como uma escolha atrativa, com a possibilidade de pagamento de dividendos equivalentes a cerca de 8 por cento dos preços da ação.

A Copasa é vista como uma maneira de investir na recuperação econômica, mas apresentou desempenho inferior ao de outras ações semelhantes, como as de varejo e bens de consumo.

Os clientes dessas gestoras parecem apresentar a mesma tendência, embora costumem adotar mais cautela antes de fazer grandes mudanças em suas posições.

Dados da Anbima mostram que a captação líquida em fundos de ações referenciados caiu a 77 milhões de reais neste ano até setembro, contra 473 milhões de reais no mesmo período de 2016.

Fundos de índice com gestão ativa continuam apresentando resgates líquidos, mas eles desaceleraram dramaticamente a 94 milhões de reais, frente a 283 milhões de reais.