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Bitcoin começa a ser negociada em contratos futuros, mas natureza desregrada preocupa

07/12/2017 12h12

Por John McCrank e Anna Irrera

NEW YORK(Reuters) - Os fãs da bitcoin estão ansiosos pela legitimidade há muito aguardada para a criptomoeda que pode ser obtida quando as negociações no mercado futuro iniciarem neste fim de semana, mas especialistas estão preocupados com os riscos associados à natureza desregrada da bitcoin.

O primeiro contrato futuro de bitcoin começa a ser negociado no domingo às 21h (horário de Brasília) na Cboe Global Markets, seguido uma semana mais tarde pela CME, do CME Group.

A Nasdaq planeja abrir seu contrato no ano que vem, noticiou a Reuters.

Embora as bolsas Cboe, CME e Nasdaq ofereçam ambientes de negociação rigorosamente controlados, o mercado de bitcoins subjacente está cheio de bolsas de negociações de criptomoedas que carecem da mais básica supervisão.

Isto gera temores de manipulação de mercados, preços imprecisos e risco sistêmico para as câmaras de compensação.

"Eu fui surpreendido pelo que aconteceu nos últimos três meses", disse Richard Johnson, um analista da Greenwich Associates que possui moedas digitais e considera-se um otimista em relação a bitcoins. "Eu me preocupo que as coisas estão indo muito rápido."

O aumento de mais de 10 vezes do valor da bitcoin este ano gerou alertas de uma bolha por pessoas como o presidente-executivo do JPMorgan Chase & Co, Jamie Dimon, que a chamou a moeda "uma fraude" que eventualmente explodirá. Outros, como o conselheiro de Wall Street Tom Lee, esperam que a bitcoin supere 100 mil dólares.

Na quarta-feira, a hipervolatilidade da moeda estava em pleno vapor, com a bitcoin rompendo a marca de 13 mil dólares pela primeira vez na bolsa Bitstamp, com alta de 11 por cento no dia. Desde agosto de 2011, a bitcoin teve variação média diária de preço de quase 3 por cento, para cima ou para baixo, ante variação média diária da cotação do euro ante o dólar de menos de 0,5 por cento desde a estreia do euro em 1999.

"Talvez seja um mercado muito singular, que continuará subindo para sempre, levando os comprados (detentores da moeda) a ganhar dinheiro, e isso é otimo. Mas eu estou aqui há tempo suficiente para saber que isso não vai funcionar tão bem", disse John Lothian, presidente-executivo da empresa de consultoria John J Lothian and Company.

Como uma moeda virtual, a bitcoin pode ser usada para mover dinheiro ao redor do mundo sem a necessidade de uma autoridade central, como um banco ou governo, o que é uma faca de dois gumes, disse Steve Grob, diretor de estratégia de grupo da Fidessa.

     "Não tem sustentação. Se de repente amanhã todos decidirem que a bitcoin não tem valor, ela não terá valor. Não tenho certeza se as pessoas realmente pensam sobre isso", disse ele.

Se o mercado de futuros exceder o tamanho do mercado à vista, com o atual volume de negociação diário de cerca de 6 bilhões de dólares por dia, o preço subjacente poderia ser mais suscetível à manipulação, disse Kevin Zhou, co-fundador do fundo de criptomoeda Galois Capital.

À medida que os volumes aumentam, também há dúvidas sobre a robustez da tecnologia nas bolsas de bitcoins, disse Lothian.

A natureza volátil da bitcoin também pode representar um risco para as câmaras de compensação, disse Thomas Peterffy, CEO da Interactive Brokers Group Inc.

As câmaras de compensação atuam como intermediários entre as partes em transações no mercado futuro. Se há uma mudança muito brusca no preço da bitcoin e uma corretora menor não conseguir atender a chamada de margem, a câmara de compensação teria que assumir a posição, empurrando o valor ainda mais para cima, o que poderia levar outras corretoras a terem problemas, disse Peterffy.

     "Se isso acontecer em um momento em que bitcoin estiver subindo forte por qualquer motivo louco, pode haver uma avalanche", disse ele.

Perguntas como essas mantiveram, por enquanto, alguns operadores de contratos no mercado futuro à margem. A Intercontinental Exchange Inc, proprietária da Bolsa de Valores de Nova York e da ICE Futures EUA, optou por não se juntar a CME e Cboe na corrida para ser a primeira bolsa a lançar contratos futuros de bitcoin.

(Por John McCrank e Anna Irrera)