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Com mais incertezas, BC prefere não sinalizar próximos passos da política monetária, mostra ata do Copom

Patrícia Duarte

26/06/2018 08h18

SÃO PAULO (Reuters) - Diante das incertezas que rondam a economia brasileira, o Banco Central decidiu não se comprometer com sinalizações sobre seus próximos passos na política monetária, mas reafirmou que ela tem foco exclusivo na inflação, seus balanços de risco e atividade econômica.

"Em termos de sinalização futura, todos (os membros) concordaram que o maior nível de incerteza da atual conjuntura recomenda se abster de fornecer indicações sobre os próximos passos da política monetária", trouxe a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC divulgada nesta terça-feira.

E adicionou: "Os membros do Copom reiteraram a importância de reafirmar a atuação da política monetária exclusivamente com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica".

Na semana passada, o BC manteve a taxa básica de juros na mínima histórica em 6,50 por cento ao ano, como esperado e pela segunda vez seguida, citando piora no mercado externo e, ao mesmo tempo, recuperação "mais gradual" da economia brasileira neste ano após a greve dos caminhoneiros de maio, que afetou o abastecimento no país todo.

No Copom de maio, o BC chegou a dizer que o atual nível da taxa básica de juros deveria ser mantida nas suas próximas reuniões, referência que retirou na semana passada.

As projeções sobre o desempenho da economia têm se tornado cada vez mais pessimistas. Pesquisa Focus do BC, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, mostra que a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano estava em 1,55 por cento, depois de ter chegado a 3 por cento alguns meses antes.

Na ata, o BC reafirmou que a greve dificulta a avaliação sobre a atividade e que os dados de maio e possivelmente de junho deverão refletir os efeitos da paralisação. Mas acrescentou que, ao logo de julho e agosto, a evolução da economia "deve indicar com mais clareza o ritmo da recuperação, que poderá se mostrar mais ou menos intensa".

O BC repetiu ainda que o vê a continuidade do processo de recuperação da atividade, mas com ritmo "mais gradual" do que o visto antes da greve, que também vai gerar mais inflação no curto prazo. Mas, o "cenário básico antecipa que esses efeitos devem ser temporários, constituindo ajuste de preços relativos aos referidos choques".

"(Os membros do Copom) concordaram que, no curto prazo, deverá ser mais difícil verificar se a evolução da economia segue em linha com seu cenário básico para o médio e longo prazos", acrescentou.

O mercado, em geral, tem visto que a inflação provavelmente terminará o ano a 4 por cento, abaixo do centro da meta de 4,5 por cento pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, acelerando então a 4,10 por cento em 2019. E também vê que a Selic não será alterada até o final deste ano. Para o fim de 2019, a expectativa é de que ela vá a 8 por cento.

Sobre o cenário internacional, o BC informou que em seu cenário básico vê normalização gradual da política monetária nos países centrais e que há risco de maior impacto desse processo sobre economias emergentes, o que poderá reforçar os ajustes em preços de ativos e volatilidade nas condições financeiras no mercado internacional.

E reforçou que os "choques de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva" e que "não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária".

Desde do Copom em 16 de maio, o dólar chegou a saltar quase 7 por cento até o dia 7 deste mês, pico do período e quando fechou a 3,9258 reais. Em quatro meses até maio, a moeda norte-americana acumulou valorização de 17,5 por cento.

Diante disso, o BC intensificou ainda mais sua intervenção no mercado cambial e, deste então, o dólar tem se estabilizado ao redor do patamar de 3,75 reais.

(Por Patrícia Duarte)