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ENTREVISTA-Copel não vê risco de interferência política em tarifas, diz diretor

20/08/2018 17h44

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A estatal paranaense Copel não vê riscos de o resultado das eleições para o governo do Paraná em outubro deste ano impactar a política tarifária da companhia, disse à Reuters nesta segunda-feira o diretor financeiro da elétrica, Adriano Rudek de Moura.

A fala do executivo vem após o deputado estadual Ratinho Junior (PSD), que lidera as pesquisas de voto para o governo paranaense, ter criticado duramente uma recente alta de cerca de 16 por cento nas tarifas da Copel autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Segundo informações do site de Ratinho Junior, ele pediu ao governo estadual a revisão do reajuste, alegando que a tarifa maior penalizaria a sociedade e a atividade econômica no Estado.

"Sinceramente, vejo com surpresa esses comentários, porque a Copel está muito blindada com relação a esses tipos de discursos demagógicos. Temos no nosso estatuto uma restrição, uma blindagem em relação a esse tipo de ação... não vejo nenhum risco, sinceramente, de que isso possa acontecer", disse Moura em entrevista à Reuters.

"Uma mudança dessas significaria mudar o estatuto, com aprovação de todos os sócios, não só o majoritário (o governo paranaense)... o risco é quase zero", adicionou o executivo.

Segundo o estatuto da Copel, cabe ao Conselho de Administração da companhia assegurar a "aplicação integral" das tarifas definidas pela Aneel.

A corretora Brasil Plural escreveu em relatório na semana passada que a Copel tem sido impactada por um "fluxo de notícias políticas negativas", incluindo a fala de Ratinho Junior sobre as tarifas da empresa.

"Nossos analistas recomendam que as eleições estaduais sejam acompanhadas de perto", apontaram eles, destacando que o resultado do pleito "é um interessante gatilho de valor para as ações da empresa."

DESINVESTIMENTOS

A Copel tem estudado a possibilidade de se desfazer de alguns ativos para reduzir o tamanho ou o prazo de seu endividamento, segundo o diretor financeiro, que disse que um plano mais detalhado sobre os desinvestimentos deve estar pronto em cerca de 90 dias.

Ele afirmou, no entanto, que a companhia já tem conseguido reduzir dívidas e que a necessidade dos desinvestimentos não é mais tão premente como num passado recente, quando foi encomendado um estudo sobre o plano.

"É um estudo, ele pode ser executado ou não. Não será executado neste ano, não vejo espaço para a gente fazer nenhuma venda neste ano", explicou.

Ele disse que serão levados em conta na análise ativos não-estratégicos da Copel, como a subsidiária de telecomunicações, por exemplo, e a atratividade deles no mercado, bem como o impacto financeiro que uma eventual negociação geraria.

"Temos aí uns três meses para concluir esse plano, e aí a gente vai começar uma discussão de alternativas", disse Moura.

Segundo ele, um dos fatores que reduzirá a pressão pelos desinvestimentos será a entrada em operação de parques eólicos e hidrelétricas da companhia entre a reta final deste ano e o início de 2019.

"A Copel vai começar a entregar investimentos que fizemos e isso vai adicionar uns 400 milhões de reais em caixa no ano que vem, com base nesses projetos que forem sendo terminados", apontou.

Com isso, ele disse esperar que a relação entre dívida líquida e alavancagem da companhia caia no ano que vem para "abaixo de 3 vezes, talvez um pouco acima dos 2,5 vezes", ante 3,1 vezes ao final do primeiro semestre.

NOVOS PROJETOS

Com a entrada de mais usinas em operação e a redução na dívida, haverá até espaço para a Copel se comprometer com novos investimentos, segundo o diretor.

Ele disse que a companhia poderá participar de um leilão do governo para novas usinas de geração, agendado para 31 de agosto, com projetos que somam entre 150 megawatts e 200 megawatts em capacidade instalada.

"Nós temos interesse em usinas eólicas e algumas pequenas centrais hidrelétricas. No ano que vem, talvez entremos também em alguns leilões na parte de transmissão", afirmou.

O leilão A-6 contratará usinas que precisarão iniciar operações a partir de 2024.