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Petrobras vê margem restrita para importar diesel após novo esquema de subsídio

31/08/2018 16h25

Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras avaliou nesta sexta-feira que a margem para realizar importações de diesel está mais apertada, mesmo após a vigência de um novo preço de referência para o pagamento do subsídio governamental, que garantiu um aumento de mais de 10 por cento no valor aos participantes do programa de subvenção ao combustível.

O ajuste nos valores para subvenção, que estavam congelados desde o início do programa, em junho, foram revisados com uma nova fórmula em vigência a partir desta sexta-feira, refletindo uma alta no mercado internacional de petróleo e um dólar forte.

Mesmo com o aumento nos preços para quem participa do programa de subsídios, importadores independentes afirmam que compras externas de diesel para eventualmente complementar a oferta da Petrobras estão praticamente inviabilizadas na condição atual.

Para a Petrobras, apesar de mais difíceis, importações ainda são possíveis.

"Cada companhia tem a sua PPI (custo do petróleo no exterior mais logística de internalização). A gente entende que ela está um pouco pior, um pouco mais restritiva do que a que vigorou... mas no limite, em alguns pontos, a gente acha que ainda dá pra fazer importação... apertada, mas dá", afirmou nesta sexta-feira o gerente-executivo da Petrobras, Guilherme França, durante evento no Rio de Janeiro.

"O cara vai dizer: 'a margem está tão pequena, como eu vou correr este risco?'", comentou ele.

Ele estimou que nos últimos dois meses a petroleira deve ter sido responsável por atender cerca 90 por cento de toda a demanda nacional de diesel.

"Antes do programa de subvenção, a participação do mercado na importação (na oferta do Brasil) era mais do que 10 por cento... agora está abaixo de 10 por cento", disse ele.

Antes da greve dos caminhoneiros, quando o mercado era livre, o número de players na importação de derivados de petróleo era crescente.

A concorrência para a Petrobras era tamanha que a companhia havia adotado desde meados do ano passado reajustes praticamente diários em suas refinarias, para lutar contra a concorrência.

No mesmo evento, o vice-presidente-executivo de Transporte, Distribuição e Trading da Raízen, Ricardo Mussa, afirmou que antes da greve as empresas privadas chegaram a importar cerca de metade das compras externas de derivados.

Mas a previsão, segundo o executivo da Raízen, importante empresa do setor, é de que a Petrobras responderá por algo entre 75 e 80 por cento do volume total em setembro.

"A fórmula como está é terrível e compromete investimentos", disse ele no mesmo encontro.

A Petrobras reconhece que tem tirado benefícios do programa de subvenção. No segundo trimestre, a empresa registrou ganhos em um mercado com preço controlado e mais restrito a importações.

Não bastasse o controle do mercado, poucas e pequenas empresas conseguiram receber o subsídio de até 0,30 real por litro prometido para as empresas que participam do programa. A Petrobras segue aguardando pagamentos.

Contudo, o mercado respondeu bem ao novo preço de referência do diesel, que permitiu à Petrobras anunciar um aumento de 13 por cento no preço médio nas suas refinarias, nesta sexta-feira. As ações da estatal subiram mais de 2 por cento.

Questionado pela Reuters se o reajuste seria repassado na íntegra aos consumidores, o presidente-executivo da Plural (associação das distribuidoras), Leonardo Gadotti, disse acreditar que sim.

"Vai como um todo (o repasse do reajuste), depende da política comercial, cada empresa tem a sua... Vai depender da condição do mercado, se vai ter espaço para isso, mas conceitualmente isso vai ser repassado", declarou ele.

CRÍTICAS DOMINAM

As críticas ao programa de subvenção do governo adotado em meio ao caos causado pela greve dos caminhoneiros foram acentuadas no evento promovido pela Fundação Getulio Vargas que discutiu o tema, no Rio de Janeiro.

"Não se atrai investimentos com intervenção. Isso afugenta... é perigoso e atrapalha o Brasil", disse Gadotti, no evento da FGV.

Segundo ele, o setor de combustíveis quer mudanças nos valores incluídos na fórmula para o cálculo do preço de referência do programa de subsídio.

"O que vai acontecer é uma interlocução para revisar esse número, para não levar a uma situação de impasse para o abastecimento, o Brasil não produz todo o diesel que consome", destacou ele, ressaltando que é preciso mudar para que o importador privado possa voltar a participar do mercado.

Ele destacou os números precisariam ser alterados o mais rápido possível, antes do fim do próximo mês, quando a fórmula de cálculo vai gerar novos preços para o programa de subvenção.

"Tabelamento, congelamento e ressarcimento colocam o Brasil num cenário ruim, num túnel do tempo. O governo errou... daqui até dezembro não se vai importar quase nada", acrescentou o especialista na área de óleo e gás Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, referindo-se ao prazo do programa.

Segundo o professor da UFRJ Helder Queiroz, "o desastre foi completo e esse programa de subvenção vai custar 50 reais para cada um dos brasileiros. "Todos pagam a conta", declarou.

Por meio de cortes em programas sociais, dentre outras medidas, o governo reservou um total de 9,5 bilhões de reais, até o fim do ano, para o pagamento de subvenções ao diesel.

As críticas ao programa vieram até do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

"A resposta do governo à crise dos caminhoneiros foi a pior possível", avaliou Cristiane Schmidt, representante do órgão antitruste presente no evento.

(Por Rodrigo Viga Gaier; com reportagem adicional de Roberto Samora)