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Oliveira Energia monta equipe para assumir distribuidora da Eletrobras em Roraima

24/09/2018 15h41

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - Especializado em geração de energia em regiões isoladas, o grupo Oliveira Energia tem buscado apoio de consultorias e especialistas à medida que se prepara para assumir em breve as operações da Boa Vista Energia, distribuidora da Eletrobras em Roraima, disse à Reuters o presidente da empresa com sede no Amazonas, Orsine Oliveira.

Até então pouco conhecida fora da região Norte do país, a Oliveira Energia foi junto com a distribuidora de petróleo local Atem uma das vencedoras de um leilão realizado pela Eletrobras em agosto para privatização de suas concessionárias de distribuição de eletricidade em Roraima, Acre e Rondônia.

A empresa, que atua em Roraima e no Amazonas por meio do aluguel de termelétricas, ainda não possui experiência em distribuição de energia, mas essa lacuna será rapidamente preenchida, segundo o executivo.

"Tem pessoas muito experientes que vão operar a área de distribuição. Não vai ser a Oliveira Energia diretamente, nem a Atem diretamente, vai ser um pessoal que está trabalhando nisso há meses. A empresa tem que ser profissionalizada, senão não funciona", disse Oliveira.

A equipe envolve a consultoria especializada Thymos Energia e ainda apoio técnico do ex-presidente de Furnas, subsidiária da Eletrobras, Flávio Decat, que também já passou pela estatal mineira Cemig e pelo grupo privado de distribuição Rede Energia, adquirido posteriormente pela Energisa, segundo ele.

"Esse pessoal é do setor elétrico há muitos anos... o setor elétrico é complicado para quem não conhece, mas esse povo todo tem conhecimento de causa", destacou.

A Thymos vem assessorando a Oliveira Energia desde antes do leilão, e após a vitória do grupo o foco passou a ser a busca por profissionais que possam montar o time da empresa para a área de distribuição, além de estudos sobre como lidar com os profissionais que a companhia herdará da Boa Vista Energia, disse à Reuters a diretora executiva da consultoria, Thais Prandini.

"Tem uma equipe que está sendo formada para entrar lá, vão ser contratados pela Boa Vista... e tem empresas de Recursos Humanos (RH) com quem a gente está conversando também para avaliar como vai ser feita, digamos, a renovação de pessoas, porque tem muitas pessoas com salário alto por lá", disse Prandini.

A princípio, segundo ela, a necessidade de investimentos na deteriorada rede de energia de Roraima poderá exigir até um aumento do quadro, entre pessoal próprio e terceiros, mas depois a tendência é de gradual redução em meio à busca por ganhos de eficiência.

Pelas regras do edital do leilão da Boa Vista Energia, os novos donos da empresa precisarão realizar até o final do mês um aumento de capital de cerca de 176 milhões de reais na empresa.

Segundo Thais, os novos controladores trabalham com a perspectiva de investimentos próximos de 200 milhões por ano na distribuidora nos primeiros anos de operação, que depois seriam reduzidos.

"O investimento pesado é realmente nos primeiros anos, depois esse valor vai caindo", afirmou a consultora. "A empresa está com investimento deficitário, e é importante que já no início se faça um investimento importante para melhorar a situação da rede, especialmente no interior", explicou.

Além desse aporte, os novos donos da Boa Vista Energia terão que pagar cerca de 297 milhões de reais ao Estado de Roraima e 320 mil reais à União pouco após assumir o controle da empresa, referentes à compra de ativos da antiga empresa estadual CERR incorporados pela Eletrobras.

O presidente da Oliveira Energia disse ainda que o grupo não terá problemas para fazer os pagamentos --o que poderá envolver uso de recursos próprios e eventualmente conversas com bancos.

"Esses investimentos foram previstos quando fizemos o projeto de aquisição... Estamos nos preparando. Não vai haver revés sobre isso, não vai haver nenhum choque negativo", garantiu Oliveira.

Ele disse que a Oliveira Energia será majoritária na Boa Vista, com 60 por cento, contra 40 por cento de sua sócia Atem.

RORAIMA SEM VENEZUELA

A Oliveira Energia já é responsável pelo fornecimento de energia térmica em Roraima, mas desde o início da semana passada as unidades alugadas pela empresa para atender à demanda local têm operado em regime contínuo.

O novo regime foi determinado pelo governo brasileiro para aumentar a segurança energética em Roraima, que até então importava boa parte de sua energia da Venezuela e usava as térmicas como apoio.

A mudança ocorreu após uma deterioração da crise econômica da Venezuela e em meio a dificuldades da Eletrobras em efetivar pagamentos pelas importações de energia devido às sanções contra o sistema bancário venezuelano, que geraram preocupação de que a oferta do país vizinho para Roraima poderia ser interrompida.

"Já está há uma semana com tudo rodando e não aconteceu nenhuma interrupção", disse Oliveira.

Ele explicou que os frequentes blecautes aconteciam antes porque a cada interrupção na oferta da Venezuela era preciso de 15 a 20 minutos para recompor a geração no sistema com apoio das térmicas.

"Agora a interrupção que pode ter é de distribuição, como quando um carro bate em um poste. (Contra) interrupção de geração, está coberto o Estado", adicionou.

Segundo ele, o atendimento à demanda em Roraima exige cerca de 700 mil litros de diesel por dia, um número que depende também de fatores que influenciam o consumo, como a temperatura.

"São mais de 10 carretas (de diesel) por dia. Mas não é nada de outro mundo... é nosso cotidiano aqui. E no interior é pior ainda, porque (o combustível) vai de balsa", explicou.

A energia mais cara decorrente do uso de diesel para térmicas é bancada por um fundo que custeia subsídios em energia, a chamada Conta de Consumo dos Combustíveis (CCC).

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estimou recentemente que o maior uso de térmicas em Roraima irá aumentar em cerca de 500 milhões de reais o gasto com o subsídio em 2018, com impacto em tarifas.

(Por Luciano Costa)