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BC diz que repasse cambial tem se mostrado contido, mas reforça elevação de medidas de inflação

Marcela Ayres

25/09/2018 08h24

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central avaliou nesta terça-feira que o nível de repasse cambial tem se mostrado contido, com exceção de alguns preços administrados, mas reforçou que as medidas de inflação subjacente se elevaram para níveis apropriados, conforme ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira.

Nesse cenário, o BC destacou seu compromisso de conduzir a política monetária visando manter a trajetória de inflação em linha com as metas e apontou que isso "requer a flexibilidade para ajustar gradualmente a condução da política monetária quando e se houver necessidade".

Na semana passada, na última reunião antes da eleição do próximo presidente do Brasil, o BC manteve a taxa básica de juros em 6,50 por cento ao ano, seu menor nível histórico, mas apontou que pode subi-la adiante caso haja piora do quadro atual, conforme as incertezas ligadas às eleições vêm guiando uma escalada do dólar frente ao real.

"É possível que os ajustes de preços relativos ocorridos recentemente, em contexto com expectativas ancoradas, tenham contribuído para elevar a inflação para níveis compatíveis com as metas, sem constituir risco para a manutenção nesses níveis após concluídos os referidos ajustes", trouxe o BC na ata.

No documento, a autoridade monetária afirmou que seguirá acompanhando "possível impacto mais perene de choques sobre a inflação".

Também voltou a dizer que não há relação mecânica entre os choques recentes e a política monetária, indicando que não reagirá com alta dos juros à valorização do dólar a não ser que haja impacto secundário na inflação prospectiva.

Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Barbosa, a ata reforçou comunicação prévia do BC de que só elevará a Selic se houver piora adicional do balanço de riscos ou das expectativas de inflação.

"Como as expectativas de inflação permanecem bem ancoradas, e os efeitos secundários sobre os preços advindos de choques primários como a depreciação do real não têm se materializado, projetamos que a taxa Selic permanecerá estável em 6,5 por cento até o final de 2018", disse Barbosa em nota.

Por sua vez, o economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima, avaliou que o BC vem pavimentando o caminho para antecipar o início gradual da alta dos juros já neste ano, particularmente pela volatilidade trazida pelas eleições.

"Por enquanto, o grande peso tem sido a piora mundial, mas eu acho muito difícil que nos próximos dias o cenário eleitoral não afete os preços dos ativos", afirmou ele, citando o aumento do dólar já nesta sessão.

"À luz do que eles escreveram, eu acho que se há viés, o viés é de subir na próxima reunião porque eu acho que o comportamento do CDS (Credit Default Swap, uma medida de risco país) e do câmbio vai lançar dúvidas sobre o baixo repasse da variação do câmbio para a inflação", acrescentou José Francisco.

O próximo encontro do Copom ocorre em 30 e 31 de outubro, logo após o segundo turno das eleições.

Na semana passada, o BC já tinha indicado um ambiente menos favorável para a inflação, com riscos mais elevados, em referência à deterioração do cenário externo para emergentes e à possibilidade de frustração da continuidade de reformas econômicas no país.

Sobre a cena externa, o BC descreveu nesta terça-feira riscos associados principalmente à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e incertezas referentes ao comércio global.

Olhando para o cenário doméstico, reforçou que os ajustes e reformas econômicas "são fundamentais" para a sustentabilidade da inflação baixa, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia. E disse que a percepção de continuidade dessa agenda afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

Os mercados vêm reagindo às incertezas da corrida presidencial e a desdobramentos na cena externa ligados à subida dos juros nos Estados Unidos, guerra comercial e problemas na Argentina e Turquia. No ano, o dólar acumula um avanço de mais de 20 por cento no ano sobre o real.

O fortalecimento da moeda norte-americana pode aumentar os preços de importados e acelerar a inflação, embora o desemprego elevado e a alta capacidade ociosa das empresas deva limitar esse repasse.

Na ata, o BC destacou que o elevado grau de ociosidade na economia ainda prescreve política monetária estimulativa. Também ponderou que a intensidade do repasse cambial depende desse fator e também da ancoragem das expectativas de inflação, sendo que continuará de olho em ambos.

Na pesquisa Focus mais recente, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, as expectativas para a inflação subiram a 4,28 por cento este ano e a 4,18 por cento em 2019, tendo como pano de fundo projeções mais altas para o dólar.

Mesmo com a elevação as estimativas continuaram dentro da meta, cujo centro para este ano é de 4,50 por cento e, para 2019, de 4,25 por cento, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos nos dois casos.