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Haddad volta ao Nordeste para tentar recuperar otimismo, mas campanha admite crise de ideias para bater Bolsonaro

17/10/2018 19h36

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Depois de duas semanas concentrado em São Paulo, em entrevistas e atos fechados, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, vai voltar às ruas este final de semana, em uma viagem ao Nordeste, para tentar recuperar o otimismo que desapareceu da campanha nos últimos dias e dar um rumo à campanha, que passa por uma crise de identidade.

Fontes ouvidas pela Reuters admitem que, depois do fracasso da criação de uma frente democrática em torno de Haddad, o comando da campanha ainda tenta encontrar um rumo para reverter a enorme distância entre Haddad e seu adversário no segundo turno, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira mostrou o presidenciável do PSL com 59 por cento dos votos válidos, contra 41 por cento do petista.

A volta ao Nordeste, onde Haddad teve quase todas suas vitórias no primeiro turno, atende a um pedido dos governadores e senadores eleitos na região. No sábado e domingo, Haddad deve ir a Juazeiro do Norte (CE), São Luiz, Teresina, Natal e Recife. Na sexta, irá ao Rio de Janeiro.

A ideia é trazer de volta o tom das ruas à campanha, e o otimismo de reunir centenas ou milhares de apoiadores em eventos, o que o PT não tem mais feito. De acordo com o senador Humberto Costa, ainda há votos a serem recuperados na região, de pessoas que se abstiveram, de candidatos que não estão mais concorrendo, e até de eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem não ter identificado Haddad como seu candidato no primeiro turno.

"Tem que voltar ao Nordeste, até como defensiva. Temos que reagir e a reação se faz primeiro com os teus, com o núcleo duro da militância para dar moral à tropa. Não vai se fazer isso só pela TV", disse à Reuters uma fonte que acompanha as conversas internas a campanha. "Em parte tem que fazer o que fez ontem, com a Frente Brasil Popular, e com o Nordeste, onde tem a força. Tem que partir de onde tem esse núcleo duro de apoio."

A ideia de que Haddad deveria viajar menos nesse segundo turno foi dada pelo senador eleito Jaques Wagner, que se associou ao comando da campanha depois do primeiro turno.

Wagner avaliava que Haddad deveria se concentrar em gravar programas, dar entrevistas e fazer conversas políticas para a formação de uma frente democrática, já que o segundo turno é curto --menos de três semanas-- e viagens tomam tempo. A estratégia, no entanto, não deu certo.

DIVISÕES

Fontes ouvidas pela Reuters admitem que o clima interno na campanha não é bom e não há um rumo claro do que deve ser feito. Troca de acusações sobre o fracasso dos números, que mantém Haddad muito atrás de Bolsonaro, já começaram.

"A verdade é que hoje não se sabe o que fazer. Precisaria de um fato extraordinário, mas não se sabe de onde viria isso", disse uma das fontes.

Outra fonte avalia que o partido errou ao tentar compor uma frente democrática contra Bolsonaro impondo um clima de obrigação de apoio a Haddad.

"A ideia de uma frente democrática ficou desgastada e foi incorretamente conduzida. Não podemos assediar moralmente ninguém para ter que provar que é democrata", disse a fonte. "Acabaram transformando a pauta democrática em uma pauta negativa para nós, uma coisa um pouco prepotente."

Fontes lembram as declarações da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, afirmando que quem fosse democrata tinha a obrigação de apoiar Haddad. A fala foi vista como míope por aliados, afirmações que não consideravam a resistência ao PT que existe na sociedade.

"A verdade é que se fecharam em copas, um pequeno grupo excluindo todos os outros, e isso dificulta qualquer colaboração", disse uma das fontes.