Petrobras negocia venda de refinaria nos EUA com Chevron, dizem fontes
RIO DE JANEIRO/HOUSTON (Reuters) - A Petrobras está negociando a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, com a norte-americana Chevron, de acordo com três fontes com o conhecimento do assunto.
Uma das fontes indicou que estão avançadas as negociações para a venda do ativo, que esteve no foco das investigações da operação Lava Jato sobre corrupção envolvendo a estatal brasileira.
A negociação ocorre no momento em que companhias de petróleo dos EUA estão buscando expandir as operações de refino para absorver os grandes volumes de petróleo de "shale" que estão sendo extraídos no país.
Segundo uma fonte da indústria de petróleo nos EUA, a companhia norte-americana "está muito perto de adquirir Pasadena", refinaria com capacidade de processamento de 110 mil barris por dia.
No Brasil, uma segunda fonte com conhecimento da situação, que também pediu para não ser identificada, confirmou as negociações com a Chevron.
"Pode ser sim, Pasadena pode ser vendida (para Chevron). Há conversas em andamento, e só posso dizer isso", disse.
O processo de venda de Pasadena --cuja compra pela Petrobras teria causado prejuízo para a estatal de mais de meio bilhão de dólares, segundo relatório do TCU (Tribunal de Contas da União)-- foi iniciado em fevereiro deste ano.
Em maio, a Petrobras iniciou a fase vinculante do processo de venda do ativo, em que interessados habilitados em uma fase anterior da negociação recebem cartas-convite com instruções detalhadas e orientações para realização de "due dilligence".
Depois disso, a estatal não divulgou mais informações sobre o processo de venda.
Procuradas nesta quinta-feira (25), a Petrobras e a Chevron não comentaram o assunto imediatamente. As fontes não falaram em valores que estão sendo negociados.
A venda da refinaria seria positiva para a Petrobras, que busca reduzir suas dívidas e tem enfrentado obstáculos para desenvolver seu programa de desinvestimentos de US$ 21 bilhões no biênio 2017-2018.
Uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, que exigiu que vendas de subsidiárias por estatais sejam aprovadas antes pelo Congresso, fez com que a empresa suspendesse a venda planejada de uma unidade de gasodutos no Nordeste avaliada em bilhões de dólares.
Boom do "shale"
Garfield Miller, executivo-chefe da Aegis Energy Advisors, disse que o boom do "shale oil", um tipo de petróleo não convencional, deu uma segunda chance às unidades dos EUA projetadas para processar os petróleos mais leves.
Há alguns anos a Petrobras não conseguiria vender a refinaria de Pasadena, pelo seu tempo de operação e incapacidade de processar petróleos pesados.
Mas isso mudou com o desenvolvimento da Bacia Permian, que está produzindo 3,5 milhões de barris por dia de petróleo, segundo os últimos números do governo.
"Qualquer um com petróleo na Permian pode logicamente querer comprar", disse Miller. "Esta refinaria hoje tem valor, enquanto oito ou nove anos atrás não tinha."
Pierre Breber, chefe de refino e produtos químicos da Chevron, disse neste mês que a empresa queria construir ou comprar uma refinaria ao longo da Costa do Golfo dos EUA para processar petróleo de suas operações do oeste do Texas.
A produção de "shale" da Chevron na região aumentou 51 por cento no segundo trimestre, para 270 mil barris de óleo equivalente por dia.
Ao expandir sua capacidade de refino para Houston, seria capaz de processar o petróleo mais próximo de onde é produzido.
Quando anunciou a venda de Pasadena, a Petrobras afirmou que o negócio incluiria todo o sistema de operações de refino, tanques com capacidade de armazenamento de 5,1 milhões de barris de petróleo e derivados, terminal marítimo e estoques associados.
Histórico polêmico
Há alguns anos, a Petrobras reconheceu, por conta dos problemas de corrupção, baixas contábeis de US$ 530 milhões relacionadas a ajustes no valor percebido da refinaria, em um caso que atingiu também a ex-presidente Dilma Rousseff, que na época da compra da refinaria era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Em 2014, quando questionada sobre os problemas na aquisição de Pasadena, a então presidente Dilma afirmou que recebeu informações incompletas das diretorias da Petrobras responsáveis pela negociação, que a induziram a aprovar o negócio, segundo ela.
Na época da compra de Pasadena, Dilma também era ministra da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao todo, a Petrobras pagou cerca de US$ 1,2 bilhão por Pasadena, em negócio que envolveu inicialmente 50% do ativo, por US$ 360 milhões, em 2005.
Após uma disputa em uma câmara de arbitragem com a sócia Astra Oil, a petroleira brasileira foi obrigada a desembolsar milhões de dólares adicionais pela outra metade do ativo.
(Por Rodrigo Viga Gaier e Erwin Seba, com reportagem adicional de Ron Bousso em Londres; escrito por Roberto Samora)
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