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Bullard, do Fed: 'fissuras' no crescimento podem moldar debate do banco central dos EUA em 2019

27/11/2018 13h57

Por Howard Schneider

ST. LOUIS(Reuters) - Por quase dois anos o Federal Reserve avançou com altas estáveis de juros em uma economia que se saiu melhor do que o esperado, impulsionada por gastos do governo, cortes tributários e crescimento global que fizeram as escolhas políticas do Fed parecerem quase uma nota de rodapé.

    A parte fácil pode ter acabado, afirmou o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, em entrevista, à medida que possíveis fissuras na recuperação dos EUA começam a moldar o debate do banco central sobre onde o Fed está em um ciclo de alta de juros que começou em dezembro de 2015, e quão mais longe ele deve ir.

    No momento em que altas anteriores do Fed começam a conter o mercado imobiliário e outros, e o estímulo de cortes tributários e gastos do governo começa a se dissipar, o Fed pode enfrentar um ano de decisões difíceis, com juros ainda baixos para os padrões históricos, mas o crescimento diminuíndo.

    "Se há ou não fissuras na performance da economia dos EUA é um dos maiores desafios para o Fed avançar", disse Bullard, que se torna num membro votante do Fed em janeiro. "Eu não tenho nenhuma razão para duvidar que a economia vai desacelerar em 2019 e 2020. Seria muito mais difícil para o Fed continuar a elevar juros nesse ritmo em uma economia em desaceleração com relação a aonde estivemos."

    O Fed elevou juros seis vezes nos últimos dois anos, com uma nova alta esperada para o fim deste mês.

    Os últimos dois anos foram "só rosas" para as economias mundiais e dos Estados Unidos, disse Bullard, com o crescimento dos EUA esperado para superar 3 por cento no ano em 2018. Ele disse sentir que a economia e o mercado de trabalho continuam fortes.

    Mas ele disse que é provável que a tendência de crescimento de longo prazo do país de 2 por cento ou ligeiramente menos continue.

    Isso se tornou um tema emergente no banco central.

    Em setembro, o chairman do Fed, Jerome Powell, falou com entusiasmo sobre uma economia onde o baixo desemprego, baixa inflação e crescimento estável persistiriam. Algumas semanas depois, nova volatilidade apagou os ganhos do mercado acionário no ano, preocupações sobre crescimento global ganharam força, e dados dos EUA mostraram fraqueza no mercado imobiliário e investimento em negócios.

De fato, projeções de diretores do Fed esperam crescimento de 2,5 por cento para o próximo ano, ante 3,1 por cento neste ano.

Essas mesmas projeções também mostram os juros continuando a subir três vezes em 2019, além de uma alta esperada para dezembro, um cenário que Bullard disse levantar uma questão mais fundamental: se o crescimento desacelera, a inflação continua perto da meta de dois por cento do Fed, o mercado de trabalho está forte, qual a necessidade para juros mais altos?

“As boas notícias não duram para sempre, e se o crescimento potencial realmente está em 1,8 por cento a economia vai voltar para algum nível como esse”, disse Bullard. “A questão na minha cabeça é o que estamos tentando controlar? Já fomos preventivos... Tomamos todas essas ações que nos colocaram em boa forma”, com a inflação perto da meta e expectativas de mercado sobre inflação talvez um pouco fracas.

As oito altas do Fed desde o fim de 2015 colocaram a taxa de juros em uma faixa de 2,00 a 2,25 por cento, o que Bullard vê como um nível quase perto do neutro, que não estimula mais gastos e investimentos.

Eleve os juros, sem uma aceleração inesperada no crescimento, e a política começa a se tornar mais restritiva. A visão central no Fed é de que a taxa neutra é um pouco mais alta, e que altas de juros deverão ser garantidas até 2020, para até 3,4 por cento.

Bullard se tornará um membro votante da política do Fed a partir de janeiro, e em posição para formalmente divergir de novas altas de juros. Ele tem defendido há dois anos que os Estados Unidos estavam presos em um ciclo de baixo juros, baixa inflação e baixa produtividade, e que os juros não precisavam subir até que algo mude.

Ele reconhece que os dois últimos anos desafiaram essa visão – e de fato disse que, caso estivesse votando sobre juros neste período, teria defendido sua elevação.

Mas isso apenas porque o inesperado aconteceu, resultado do aumento de confiança e investimento que sucedeu a eleição de 2016, melhor crescimento no exterior e uma alta no gasto do governo federal que elevou o crescimento ao menos no curto prazo.

O próximo ano pode ser bem diferente.

“Se não tivéssemos tido essas surpresas positivas, a minha história pareceria melhor que parece, olhando em retrospectiva”, disse Bullard. “Como cenário básico, muitas previsões têm a economia desacelerando. Essa é a estrutura mais básica com que estaremos trabalhando ao entrar em 2019.”