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Goldman e Morgan Stanley ganham força no Brasil com crescimento de IPOs em NY

17/12/2018 18h41

SÃO PAULO (Reuters) - Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America Merrill Lynch estão recuperando influência no Brasil, uma vez que mais empresas do país têm preferido listar ações em Nova York em vez de na bolsa paulista.

Bancos dos EUA assessoram 56 por cento das ofertas de ações do Brasil neste ano, após terem ficado apenas 29,7 por cento no ano passado, segundo a Refinitiv. Isso significa que os bancos americanos captaram uma parcela muito maior dos 280 milhões de dólares em taxas pagas pelas empresas até o momento este ano.

Cerca de 27 por cento disso foi para o Goldman Sachs, que liderou os dois maiores IPOs do ano do país: os das empresas de pagamentos PagSeguro e Stone, listadas na New York Stock Exchange e Nasdaq, respectivamente.

A operação da PagSeguro Digital, em particular, foi essencial para convencer mais empresas brasileiras de que podem obter melhores avaliações no exterior, dizem executivos.

A PagSeguro é avaliada em 6,8 bilhões de dólares, à frente da líder do mercado Cielo.

Mesmo com a queda após balanço do terceiro trimestre, a PagSeguro continua sendo negociada a 24 vezes o lucro esperado, mais do que o triplo do múltiplo da Cielo.

A oferta mostrou o benefício dos EUA para listagem de empresas com forte componente de tecnologia. As bolsas oferecem preços mais comparáveis, como o PayPal, para ajudar a definir o preço das ações e o acesso de investidores a empresas de tecnologia, dizem os executivos.

"Estamos começando a ver as empresas do Brasil buscarem Nyse ou Nasdaq para seus IPOs, especialmente as empresas ligadas à tecnologia. Por isso é que os bancos norte-americanos levam transações com mais freqüência", disse Pedro Juliano, chefe de banco de investimento do JPMorgan no Brasil.

O cenário de melhoria do IPO reflete um otimismo mais amplo de recuperação dos mercados de capital no Brasil, o que tem levado os bancos a contratarem novamente após terem reduzido pessoal durante a recessão mais profunda do país.

O Goldman abriu escritório no Rio de Janeiro em outubro e contratou 15 executivos seniores em São Paulo nos últimos 18 meses.

As listagens têm taxas mais altas -geralmente mais de 4 por cento do IPO- que as brasileiras, que raramente superam esse percentual. A empresa de software educacional Arco pagou aos bancos 6 por cento do IPO na Nasdaq em setembro.

A mudança é um sinal de que também têm crescido empresas brasileiras menos dependentes dos bancos locais, que no passado.

"As empresas não precisam de tanto crédito e estão menos inclinadas a escolher os bancos para suas transações de ações com base em empréstimos", disse Hans Lin, diretor de banco de investimentos do Bank of America no Brasil.

Mas alguns bancos domésticos estão reagindo.

O Itaú Unibanco, coordenador global do IPO de 220 milhões de dólares da Arco, está trabalhando para ampliar a atuação com empresas de tecnologia no Brasil.

"É contra-intuitivo pensar que um banco brasileiro levará uma oferta de ações fora do país, mas é o caso de ofertas no Brasil que são vendidas mais a estrangeiros", disse Roderick Greenlees, diretor de banco de investimento do Itaú BBA.

Mas bancos locais podem ter mais dificuldade para acessarem grandes investidores, como a Berkshire de Warren Buffett e a filial do Alibaba Ant Financial, que participaram do IPO da Stone em outubro.

Um atrativo dos EUA para certas startups brasileiras são as estruturas de capital que permitem aos acionistas controladores manter a maior parte do poder de voto. PagSeguro, Stone e Arco usaram essas estruturas, que são barradas localmente.

(Reportagem de Tatiana Bautzer e Carolina Mandl)