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Temer está preso por crimes que cometeu durante por toda vida, diz coordenador da Lava Jato no Rio

21/03/2019 18h50

Por Rodrigo Viga Gaier e Eduardo Simões

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O ex-presidente Michel Temer foi preso nesta quinta-feira por causa dos vários crimes que cometeu ao longo de toda a vida e estranho seria se não tivesse sido detido, disse o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, procurador da República Eduardo El Hage.

Em entrevista coletiva sobre a operação Descontaminação, que apura irregularidades na Eletronuclear e no âmbito da qual Temer foi preso mais cedo, procuradores da Lava Jato no Rio acusaram o ex-presidente de comandar uma organização criminosa que "assalta" o país há mais de 40 anos.

“Estranho seria se Michel Temer não tivesse sido preso. A prisão dele é decorrência lógica de todos os crimes que ele praticou durante uma vida inteira, pertencendo a uma organização criminosa muito sofisticada", disse El Hage.

"A forma como ele praticava os crimes --sempre por interposta pessoa, sempre utilizando contratos fictícios, pagamentos em espécie-- é algo que nos causou muita surpresa mesmo depois de três anos de Lava Jato”, acrescentou.

Para a defesa de Temer, a decisão de prender o ex-presidente se baseou em suspeitas calcadas numa delação premiada e não existem provas que a sustentem. [L1N2181RX]

“O presidente Temer está bastante tranquilo, ele confia na Justiça, como sempre confiou", disse o advogado Thiago Machado, após a entrevista coletiva da força-tarefa.

Na entrevista, El Hage fez questão de esclarecer que os procuradores pediram a prisão de Temer à Justiça na sexta-feira passada e que o pedido foi aceito pelo juiz federal Marcelo Bretas na terça, antes, portanto, do atrito entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) por conta da tramitação na Câmara do pacote anticrime proposto por Moro.

O ex-ministro Moreira Franco, também preso na operação Descontaminação, é padrasto da mulher de Rodrigo Maia, o que levantou suspeitas de que a operação desta quinta seria uma retaliação de Moro, a quem a Polícia Federal está subordinada, ao presidente da Câmara.

De acordo com os procuradores, a organização criminosa que seria chefiada por Temer atuou em vários órgãos públicos e a soma de propinas recebidas e promessas de vantagens indevidas somam 1,8 bilhão de reais ao longo dos vários anos que o grupo atuou desviando recursos públicos.

“São várias (entidades em que o grupo atuou), Ministério da Agricultura, Secretaria de Aviação Civil, Caixa Econômica Federal", disse El Hage.

"Como eu falei, essa é uma organização criminosa que vem assaltando os cofres públicos há décadas e não escolhia órgãos públicos. Todos os órgãos públicos onde houvesse influência do MDB, havia uma possibilidade, uma oportunidade de ganho espúrio”, disse.

De acordo com o coordenador, Temer atuava na área política enquanto o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo João Batista Lima Filho era um de seus operadores financeiros, responsável pelo recebimento de propinas.

“O Coronel Lima é um dos operadores financeiros, apenas um deles, um dos operadores financeiros do ex-presidente Michel Temer. E tinha como função arrecadar valores espúrios e de vantagens indevidas em razão de obras que eram contratadas com o governo federal”, disse El Hage.

Os promotores disseram ainda que a prisão preventiva de Temer se justifica para "garantir a ordem pública" e o andamento das investigações, já que afirmam ter indícios de que houve tentativas de atrapalhar a apuração.