Diretor do BC diz que não há "preconceitos" sobre uso de instrumentos cambiais, destaca oferta de linhas
Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) - O diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra Fernandes, afirmou nesta quinta-feira que a autoridade monetária não tem "preconceitos" em relação ao uso de qualquer instrumento cambial, e deu destaque à possibilidade da oferta de linhas em meio à alta do dólar para a casa dos 4 reais.
"É importante registrar que não temos qualquer preconceito em relação a utilização de qualquer instrumento, quando e se as condições para tal estiverem presentes", disse ele em discurso em evento em São Paulo, segundo nota divulgada pelo BC.
"Entender o ambiente econômico em que estamos inseridos e, quando necessária, buscar a forma mais eficiente de intervenção, é dever do Banco Central", completou.
O dólar superou o patamar psicológico de 4 reais logo na abertura no pregão desta quinta-feira, e no meio da manhã tinha pouca variação. A última vez que a moeda norte-americana fechou na casa dos 4 reais foi em 1º de outubro do ano passado (4,0183 reais).
Fernandes citou como instrumentos de intervenção, sem prejuízo ao regime de câmbio flutuante, os swaps cambiais, a oferta de linhas em dólar e os leilões de spot, ressalvando que estes últimos vêm sendo pouco usados devido ao desenvolvimento do mercado brasileiro de câmbio.
O diretor destacou ainda que a perda de atratividade relativa do financiamento externo tem contribuído para a redução da liquidez em moeda estrangeira no país, afetando o seu custo, mas que ainda não está claro por quanto tempo irá durar essa mudança de ambiente.
"De qualquer forma, nosso colchão de reservas e as características dos instrumentos que temos disponíveis, em especial a oferta de linhas, nos dão bastante espaço para atuar neste mercado, de forma a atenuar os efeitos da maior escassez de liquidez em dólares no mercado local", disse ele.
Para ele, a percepção de segurança externa da economia brasileira garante a expectativa de aumento do influxo de investimentos internacionais no Brasil, desde que as reformas, destacadamente as fiscais, sejam aprovadas.
COMPULSÓRIOS
Fernandes destacou que uma definição de forma mais clara do papel dos compulsórios é algo a ser buscado agora pelo BC, após as simplificações realizadas nos recolhimentos nos últimos anos. O objetivo é atingir níveis mais compatíveis com o de outros países.
"O aprimoramento das linhas de assistência financeira de liquidez, com maior facilidade de acesso por parte dos agentes, pode ainda colaborar para reduzir a necessidade de manutenção de compulsórios como instrumento macroprudencial", disse.
CONVERSIBILIDADE
O diretor apontou ainda a conversibilidade do real como um dos principais objetivos do BC no momento, ainda que esse seja um processo de longo prazo e dependa de questões como a estabilidade monetária e a aprovação e implementação das reformas.
"Outro fator precedente, se não necessário, ao menos desejável, seria a reconquista do grau de investimento pelo Brasil", pontuou ele, citando o objetivo de incluir mais participantes no mercado de câmbio.
"Hoje temos 187 instituições autorizadas pelo Banco Central a operar moeda estrangeira no mercado à vista. A título de comparação, cerca de 1.000 instituições são autorizadas a prestar serviço bancário no país. Num mercado onde a moeda é conversível, não há sequer a necessidade de autorização específica para realização de operações de câmbio, sendo este de livre acesso", disse.
O primeiro passo a ser dado nessa frente, de acordo com Fernandes, é a reavaliação do arcabouço legal, dado que muitas das normas vigentes não acompanharam a evolução do mercado de câmbio.
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