Setor siderúrgico corta previsões para 2019, pressiona por regularização de oferta de minério
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de produção de aço do Brasil reduziu projeções de desempenho para 2019 após um primeiro trimestre abaixo do esperado, em meio à decepção com o ritmo da economia brasileira e aumentos de custos relacionados ao desastre da mina da Vale em Brumadinho (MG), em janeiro.
A nova projeção do Instituto Aço Brasil, que representa um setor composto por 30 usinas siderúrgicas, aponta crescimento de 2,2 por cento na produção de aço bruto do país, para 36,03 milhões de toneladas, ante estimativa divulgada em dezembro de expansão de 2,7 por cento.
Já a projeção para o consumo aparente, que reúne as vendas internas mais importações de aço, foi reduzida de alta de 6,2 para crescimento de 4,6 por cento, a 22,05 milhões de toneladas.
"A indústria siderúrgica opera hoje com uma utilização de 66,6 por cento da capacidade instalada o que mostra que mercado interno não avançou o que se esperava", disse o presidente-executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, a jornalistas.
A expectativa da entidade para as vendas no mercado interno é de alta de 4,1 por cento em 2019, a 19,6 milhões de toneladas de aço. No final de 2018, em meio ao otimismo do setor privado com a eleição do governo de Jair Bolsonaro, a previsão do IABr era de crescimento de 5,8 por cento nas vendas internas.
Os cortes ocorreram depois que o setor teve um primeiro trimestre fraco. A produção no período caiu 2,8 por cento, as vendas internas encolheram 0,1 por cento e o consumo aparente caiu 1,4 por cento na comparação com o mesmo período de 2018.
Ainda na entrevista, Lopes afirmou que o setor siderúrgico tem dialogado com o governo federal e o de Minas Gerais para acelerar a retomada das operações de minério de ferro da Vale no Estado, reduzidas após as mortes de mais de 200 pessoas causadas pelo rompimento de barragem em Brumadinho.
Lopes afirmou que se não fosse uma operação de "malabarismo logístico" e redução de ritmo de alto fornos da CSN e da Gerdau, que vão parar para manutenção em meados deste ano, o abastecimento de minério de ferro e pelotas para as usinas siderúrgicas do país ficaria prejudicado.
A Vale fornece 46 por cento do minério de ferro consumido pelas siderúrgicas do país e por 90 por cento das pelotas.
Os ajustes fizeram a Usiminas receber minério de ferro a partir de Corumbá (MS), Ternium Brasil e CSN ser abastecida via cabotagem a partir do Maranhão e a CSP, no Ceará, além de importar minério da África do Sul, disse Lopes.
"Essa logística não pode ser mantida por muito mais tempo porque significa mais 20 a 30 dólares" por tonelada nos custos das usinas, disse o presidente do IABr. Ele acrescentou que "é fundamental" que o complexo de pelotização de Vargem Grande, da Vale, em Minas Gerais, volte a operar.
Segundo Lopes, a expectativa do IABr é que em 15 a 20 dias as incertezas sobre a oferta de minério de ferro e pelotas da Vale sejam reduzidas, em meio à contratação pela mineradora do órgão responsável pelo licenciamento de barragens nos Estados Unidos, o US Army Corps of Engineers.
"Não tem brasileiro hoje que tenha coragem de atestar barragem em Minas Gerais", disse Lopes em referência ao forte nível emocional gerado pelo segundo desastre causado pela Vale no Estado. "A certificadora internacional vai reduzir o nível de emoção" em torno das discussões para retorno das atividades da mineradora, acrescentou.
Lopes afirmou que o setor siderúrgico estima investir no país 9 bilhões de dólares nos próximos cinco anos. Ele não detalhou de imediato o volume de recursos aportados no quinquênio anterior, mas citou que os investimentos do setor entre 2008 e 2018 somaram 26,8 bilhões de dólares.
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