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Economia brasileira encolhe 0,2% no 1º tri e tem primeira contração desde 2016

30/05/2019 09h10

Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A economia brasileira iniciou 2019 com contração no primeiro trimestre, com fraqueza em indústria, agropecuária e investimentos, na primeira queda trimestral desde o fim de 2016 e confirmando o quadro de dificuldades da economia e as preocupações com as perspectivas.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve recuo de 0,2% no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses de 2018, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa é a primeira contração trimestral desde os três últimos meses de 2016, em meio à profunda recessão de 2015-2016, da qual a economia ainda não conseguiu se recuperar. Agora, o país corre risco de sofrer nova recessão, aumentando a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro.

O economia também enfrentou choques, com a produção industrial sofrendo abalo na esteira do rompimento de barragem da Vale em Brumadinho (MG), no fim de janeiro.

A atividade econômica havia terminado o ano passado com crescimento de 0,1% nos três meses entre outubro e dezembro na comparação com o trimestre anterior, encerrando o ano com expansão de 1,1%.

Na comparação com o primeiro trimestre de 2018, o PIB apresentou alta de 0,5% este ano. Os resultados ficaram em linha com a mediana das expectativas em pesquisa da Reuters.

O início de 2019 tem sido marcado pelos esforços em torno da reforma da Previdência, considerada crucial para colocar as contas públicas em ordem. As incertezas em torno do processo, entretanto, com destaque para uma falta de confiança na articulação política, tem afetado a confiança de forma generalizada.

"O que temos visto é um compasso de espera. As empresas estão postergando as opções de investimento. No momento em que dermos sinal claro de que vamos avançar na reforma da Previdência... entraremos em um ciclo produtivo e a economia vai deslanchar", avaliou o secretário especial de Produtividade e Emprego do Ministério da Economia, Carlos da Costa, em entrevista à Globonews.

Apesar de a inflação e os juros terem permanecido em patamares baixos, a esperada retomada do consumo e da indústria não se concretizou da maneira esperada, em meio a um desemprego ainda elevado.

"Depois de 2014 houve queda no PIB e podemos dizer que a economia não recuperou o que perdeu na crise econômica", avaliou a gerente de contas trimestrais do IBGE, Cláudia Dionisio.

Os dados do IBGE mostram que, do lado da produção, a indústria e a agropecuária apresentaram recuos no primeiro trimestre sobre o período anterior.

O setor agrícola teve contração de 0,5%, primeiro resultado negativo desde terceiro trimestre de 2017, pressionado por quedas nas produções de soja e arroz, além de perda na produtividade, segundo o IBGE.

Já a indústria caiu 0,7%, depois de ter terminado o ano passado também em queda. O maior peso foi exercido pela queda de 6,3% da indústria extrativa, sob o impacto da paralisação após o rompimento da barragem de Brumadinho, no maior recuo desde o quarto trimestre de 2008.

Somente os serviços cresceram, mas apenas 0,2%, no nono resultado positivo no azul.

CONSUMO

Na ótica das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, teve forte queda de 1,7%, ainda que menos intensa do que o recuo de 2,4% visto no quarto trimestre de 2018.

"(A queda dos investimentos) está muito em linha com a confiança dos empresários. A expectativa (com o novo governo) não se concretizou, foi sendo frustrada à medida que o governo não foi entregando da forma que era esperada", avaliou a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest Fernanda Consorte.

Foi o consumo que impediu uma queda maior no PIB, já que as despesas das famílias e do governo aumentaram, 0,3% e 0,4% respectivamente.

"O consumo das famílias salvou o PIB, mas mesmo ele sofreu uma desaceleração", alertou Cláudia.

A pesquisa Focus realizada pelo Banco Central junto a economistas vem mostrando constante redução nas expectativas para a economia este ano. O levantamento mais recente mostra estimativa de crescimento de 1,23%.

A queda acontece em meio a um alto grau de ociosidade na utilização de recursos, com as reformas econômicas, em especial a da Previdência, sendo consideradas imprescindíveis para melhorar o sentimento entre mercado, empresas e consumidores.

O próprio BC já havia indicado "probabilidade relevante" de recuo no primeiro trimestre, e na semana passada o governo reduziu suas contas para a expansão da atividade a 1,6%, de 2,2% antes.

(Reportagem adicional de Laís Martins)