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Após morte de cacique em reserva no Amapá, autoridades não encontram vestígio de invasão

29/07/2019 08h43

Por Eduardo Simões

(Reuters) - Autoridades da Polícia Federal e da Polícia Militar do Amapá não encontraram, até agora, vestígios de invasão de não-índios na Terra Indígena Wajãpi, após a morte na semana passada do cacique da tribo, Emrya Wajãpi, cujas circunstâncias também estão sendo investigadas, disseram a PF e o Ministério Público Federal no Amapá nesta segunda-feira.

"As investigações ainda estão em curso. Preliminarmente ainda não se encontrou qualquer vestígio (de invasão), isso passado pelas equipes responsáveis pela diligência, equipes altamente especializadas", disse o procurador da República Rodolfo Soares Ribeiro Lopes, procurador-chefe da Procuradoria da República no Estado do Amapá, em entrevista coletiva em Macapá.

"Esses são os resultados iniciais da diligência", acrescentou.

Em nota, entretanto, o Conselho das tribos Wajãpi disse que guerreiros da etnia indicaram aos policiais rastros dos invasores e os levaram para locais onde eles teriam se escondido na sexta-feira. De acordo com a nota, os policiais disseram aos indígenas que não poderiam adentrar na mata para seguir os rastros e alegaram que, por ser uma região de difícil acesso, não tinham condições de permanecer e manter as buscas à noite.

"Nós Wajãpi continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa Terra Indígena. Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras", acrescenta a nota.

O conselho diz ainda que autoridades disseram que analisarão imagens de satélite da região e, caso encontrem indícios, irão sobrevoar a área em busca dos alegados invasores.

Em memorando datado do sábado, ao qual a Reuters teve acesso, a Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmava que diversas fontes diziam que invasores, possivelmente garimpeiros, haviam sido vistos na terra Wajãpi e que inclusive teriam entrado em contato com os indígenas.

A Funai disse que, por se tratar de um local de difícil acesso, alertou os órgãos de segurança da área para se certificar da veracidade das informações.

"Neste domingo, após a chegada de servidores da Fundação, da Polícia Federal e do Bope, foi aberto inquérito pela PF para apuração da morte de um cacique que foi a óbito na semana passada", informou a Funai em nota.

De acordo com a fundação, servidores da Funai encontram-se no local e acompanham o trabalho da polícia. Também foi montado um gabinete de crise com representantes da Funai, Ministério Público Federal, Ministério Público estadual, Polícia Federal, Secretaria de Justiça e da Segurança Pública do Amapá e Exército.

BOLSONARO E BACHELET

A morte do cacique gerou reações do presidente Jair Bolsonaro, um crítico da demarcação de terras indígenas, e da alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, Michelle Bachelet, que classificou a morte do cacique como um "sintoma perturbador" da pressão exercida sobre os índios por mineradores, madeireiros e fazendeiros no Brasil.

Ao comentar o caso nesta manhã em Brasília, Bolsonaro --que disse recentemente que enviará ao Congresso um projeto de lei para legalizar o garimpo no país-- afirmou que o excesso de reservas indígenas no país está "inviabilizando o agronegócio", e levantou dúvidas sobre a morte do cacique Wajãpi. [nL2N24U0HQ]

"Nesse caso agora aqui... não tem ainda nenhum indício forte de que esse índio foi assassinado lá agora. Chegaram várias possibilidades. A PF está lá, quem nós pudermos mandar para lá já mandamos para buscar desvendar o caso e buscar a verdade sobre isso aí", disse o presidente em entrevista na saída do Palácio da Alvorada.

Bachelet, que é ex-presidente do Chile, por sua vez, manifestou preocupação com a morte do cacique no Amapá e fez um apelo para que Bolsonaro reconsidere sua posição de liberar mais áreas na Amazônia para a mineração. [nE6N22C07K]

"Eu apelo para que o governo brasileiro aja de forma decisiva para deter a invasão dos territórios indígenas e garantir o exercício pacífico de seus direitos coletivos sobre suas terras", disse Bachelet, acrescentando que o desmatamento agrava as mudanças climáticas.

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle em Brasília, Pedro Fonseca no Rio de Janeiro e Stephanie Nebehay em Genebra)