BCE corta juros e promete estímulos "pelo tempo necessário"
Por Balazs Koranyi e Francesco Canepa
FRANKFURT (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) prometeu nesta quinta-feira um suprimento indefinido de novas compras de ativos e reduziu as taxas de juros para território ainda mais negativo, num esforço para sustentar a economia da zona do euro, em medidas que foram saudadas pelos mercados financeiros.
Nas últimas semanas de mandato do presidente do BCE, Mario Draghi, as medidas aumentarão a pressão sobre o Federal Reserve e o Banco do Japão (BOJ) para relaxar suas políticas monetárias na próxima semana, a fim de apoiar uma economia mundial cada vez mais marcada por baixo crescimento e ameaças protecionistas ao livre comércio.
No entanto, houve dúvidas imediatas sobre se as medidas do BCE --as poucas restantes em seu arsenal de política monetária-- seriam suficientes para impulsionar uma recuperação da zona do euro diante de uma guerra comercial entre EUA e China e possíveis novos reveses no processo do Brexit.
O BCE cortou sua taxa de depósito em 10 pontos-base, para uma mínima recorde de -0,5%; prometeu que as taxas permaneceriam baixas por mais tempo e disse que reiniciaria as compras de títulos a um ritmo de 20 bilhões de euros por mês a partir de 1º de novembro.
A diretoria do BCE "espera que (as compras de títulos) durem o tempo necessário para reforçar o impacto acomodatício de sua política monetária e terminem pouco antes de começar a aumentar as principais taxas de juros do BCE", afirmou o banco em comunicado.
Considerando que os mercados não esperam que as taxas subam por um período de quase uma década, essa formulação sugere que as compras podem continuar por anos --uma eventualidade que Draghi não desafiou.
"Temos uma margem de manobra relevante para continuar por muito tempo nesse ritmo, sem a necessidade de levantar a discussão sobre limites", disse ele em entrevista coletiva após a reunião.
As informações provocaram um rali nos títulos da zona do euro --o que reduziria o custo dos empréstimos no bloco de 19 países-- e empurraram o euro para abaixo de 1,10 dólar, alimentando expectativas de que a inflação possa subir.
O presidente dos EUA, Donald Trump --que nesta semana pediu ao Federal Reserve dos EUA que acompanhe outros bancos centrais na adoção de taxas de juros negativas-- acusou o BCE de buscar um ganho comercial ao depreciar deliberadamente o euro em relação ao dólar.
"E o Fed senta, senta e senta. Eles são pagos para pedir dinheiro emprestado, enquanto estamos pagando juros!", disse Trump no Twitter.
AJUDA PARA OS BANCOS
O corte da taxa de juros, no entanto, aumentará o custo para os bancos comerciais de deixar seus mais de 1 trilhão de euros em excesso de reservas no banco central. O BCE disse que compensaria os credores por parte desse encargo para garantir que eles continuem a emprestar à economia real.
O BCE também facilitou os termos de seu empréstimo de longo prazo para os bancos e disse que introduzirá um mecanismo de taxa de depósito de vários níveis para ajudá-los.
Draghi --cuja promessa em 2012 de que o BCE faria "o que for preciso" para salvar o euro é vista como o fator a ajudar a restaurar a estabilidade no auge de sua crise de dívida da região-- enfatizou que o bloco monetário precisava de mais apoio.
"As informações recebidas desde a última reunião do Conselho do BCE indicam uma fraqueza mais prolongada da economia da zona do euro, a persistência de riscos significativos de queda e as pressões inflacionárias silenciosas", disse ele.
De fato, o programa inicial, sem precedentes, de compra de títulos de 2,6 trilhões de euros do BCE desde a crise financeira teve sucesso limitado em estimular a atividade.
Dados divulgados mais cedo mostraram que a produção industrial da zona do euro caiu pelo segundo mês em julho, enquanto o instituto alemão Ifo previu uma recessão na potência econômica da Europa, a Alemanha, no terceiro trimestre.
"A postura mais agressiva do BCE fará diferença? Não muito", concluiu o analista Holger Schmieding, da Berenberg.
"Uma série de choques externos, notadamente a guerra comercial EUA-China e a bagunça do Brexit, tem prejudicado a recuperação da zona do euro. Em meio a essa incerteza generalizada, custos de financiamento ainda mais baixos para famílias e empresas não aumentam significativamente o consumo e/ou o investimento comercial."
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