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Alta recente do dólar não bateu em canal de inflação, diz Campos Neto

Roberto Campos Neto, presidente do BC - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Roberto Campos Neto, presidente do BC Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Alex Alper e Marcela Ayres

Em Washington e Brasília

18/10/2019 11h42

WASHINGTON (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta sexta-feira que a alta recente do dólar frente ao real não bateu no canal de inflação e reiterou que a política monetária tem que ser estimulativa, com espaço para corte na Selic.

Em coletiva de imprensa em Washington, onde participou de eventos por ocasião da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), Campos Neto também afirmou que o câmbio é flutuante e que a autoridade monetária só faz intervenções quando há falta de liquidez no mercado.

Provocado a esclarecer comentários feitos por ele na véspera durante evento do JP Morgan sobre possíveis intervenções do BC no mercado de câmbio em caso de aumento excessivo do fluxo de dólares para o Brasil com a venda de ativos do governo, Campos Neto afirmou que as atuações acontecem em caso de "ruptura" no mercado, para baixo ou para cima.

Apesar de reconhecer que o real pode se apreciar com a entrada de recursos com a cessão onerosa e com programas de privatizações e de concessões, ele frisou que o câmbio é flutuante.

"O que nós sempre dizemos é que o banco central faz intervenções em momento onde tem gap de liquidez, ou seja, tem ruptura de um processo contínuo", afirmou.

Campos Neto afirmou que, no geral, os fluxos de recursos para os mercados emergentes como resultado do cenário de juros baixos nas grandes economias têm sido menores do que o esperado. "O Brasil viu um pedaço menor do fluxo do que nós gostaríamos", afirmou, ressaltando que o fluxo foi "cauteloso" e mais centrado na renda fixa de alta qualidade.

Questionado o porquê de o efeito do câmbio sobre a inflação ser menor, Campos Neto citou a queda dos preços das commodities como fator que ajudou a contrabalançar o impacto da alta do dólar, mas frisou que vários fatores afetam essa transmissão.

Sobre o crescimento da economia brasileira, o presidente do BC avaliou que o aumento de participação do setor privado começou a ter resultado.

"Se você hoje imaginar que o PIB brasileiro tem um pedaço público e um pedaço privado, o pedaço privado na ponta está crescendo a 2% e o público está caindo", disse.

"Então na verdade o que eu tenho dito é que o crescimento está um pouco mais lento, mas tem uma qualidade muito melhor", acrescentou.

COMPULSÓRIOS

Campos Neto afirmou que o BC vai seguir promovendo, no curto prazo, pequenas reduções do compulsório, que ele avalia estar estruturalmente elevado.

Uma diminuição mais expressiva do volume de recursos que os bancos são obrigados a recolher ao BC, contudo, só vai acontecer a partir da reestruturação do sistema de liquidez a instituições financeiras que está sendo preparada no BC, disse o presidente da autoridade monetária, acrescentando que o corte pode chegar a 100 bilhões de reais.

Nesse novo modelo, a ideia é que, em momentos de crise de liquidez, o BC ofereça empréstimos às instituições financeiras, tendo como colateral suas carteiras de crédito que terão sido previamente precificadas, disse Campos Neto.

"Se nós conseguirmos fazer um sistema de assistência de liquidez que funcione, que a gente consiga extrair liquidez do crédito privado em momentos de emergência, nós podemos trabalhar com um nível de compulsório muito mais baixo. Quando perguntado o quão mais baixo, acho que dá para usar o número de 100 bilhões", afirmou, acrescentando que o sistema de precificação dos créditos deverá estar pronta entre 2020 e 2021.

(Reportagem de Alex Alper em Washington, com reportagem adicional de Marcela Ayres e Isabel Versiani em Brasília)