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Em crise EUA-Irã, foco do BC é possível impacto sobre inflação, diz Campos Neto

09/01/2020 11h49

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - Na recente crise entre Estados Unidos e Irã, para o Banco Central o importante é avaliar como os eventos podem afetar o canal de transmissão para a inflação no Brasil, afirmou nesta quinta-feira o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

"Importante é olhar o impacto do conflito nas variáveis macroeconômicas e como nós entendemos que as variáveis macroeconômicas influenciam nossas projeções", afirmou ele, em coletiva de imprensa.

Campos Neto exemplificou que o petróleo havia subido no primeiro dia do "conflito recente do Irã", mas que já estava sendo cotado abaixo do patamar de antes do ataque de drone dos EUA que matou o poderoso general iraniano Qassem Soleimani em Bagdá no dia 3 de janeiro.

"A única coisa que podemos mencionar é que depende dos impactos que vão ter. Temos dois elementos que tiveram volatilidade grande: petróleo e carne. Para o BC o importante é como isso afeta canal de transmissão", afirmou ele.

O BC cortou os juros básicos em 0,50 ponto em sua última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de dezembro, à mínima histórica de 4,5%. O próxima encontro do colegiado ocorre em 4 e 5 de fevereiro.

Na mais recente pesquisa Focus, feita pelo BC junto a uma centena de economistas, a expectativa é de mais um corte na Selic no próximo mês, mas de 0,25 ponto.

Em sua fala inicial, Campos Neto afirmou que o BC vê a inflação ancorada no médio e longo prazo.

Já em relação ao cenário externo, o presidente do BC disse que há "princípio de consenso" sobre estabilização e início de melhora da expectativa de crescimento global.

AGENDA BC#

Durante a coletiva, Campos Neto expôs as metas do BC para a primeira metade do ano, frisando acreditar numa aprovação, ainda nos três primeiros meses de 2020, do projeto de autonomia formal da instituição e do projeto que moderniza o arcabouço legal ligado ao câmbio.

Particularmente sobre a autonomia, Campos Neto afirmou que há "ambiente legislativo propício" para análise da matéria, citando também o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Questionado sobre qual proposta contava com o apoio do BC, uma vez que há textos diferentes tramitando no Senado e na Câmara, ele afirmou que endossa a proposta da Câmara, que incorporou o projeto de autoria do Executivo sobre a autonomia.

Para além de refletir a visão do BC sobre como deve ser sua autonomia formal, o projeto relatado pelo deputado Celso Maldaner (MDB-SC) é mais extenso e complexo, contando também com alterações adicionais ao tema da autonomia, como a criação dos depósitos voluntários remunerados.

Sobre eventual mandato duplo estabelecido para o BC, contemplando também uma meta para crescimento econômico --proposta que não consta dos dois projetos em tramitação no Congresso--, Campos Neto disse ser contra a medida, reiterando que "a melhor forma de (o BC) contribuir com crescimento no médio e longo prazo é através do controle de inflação".

Também para o primeiro trimestre, o BC previu em apresentação um novo benchmark para gestão de reservas. Questionado sobre o assunto, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, afirmou que essa revisão foi feita algumas vezes nos últimos anos, mas destacou que o BC não divulga o benchmark adotado.

Dentre as várias ações listadas para o segundo trimestre pelo BC, estão medidas voltadas a um Sistema Nacional de Garantias, além de iniciativas para modernização de instrumentos financeiros, como notas comerciais, LIGs e fundos imobiliários.

A apresentação de Campos Neto também mencionou uma Lei das Infraestruturas do Mercado Financeiro para o período de abril a junho, bem como a regulamentação do arranjo do sistema de pagamentos instantâneos e normativos do sistema de open banking.

(Com reportagem adicional de Gabriel Ponte)