"Índio é um ser humano igual a nós, tem coração", diz Bolsonaro
BRASÍLIA (Reuters) - Em mais uma declaração polêmica sobre a comunidade indígena, o presidente Jair Bolsonaro afirmou hoje que o "índio é humano como a gente, tem coração". Mais cedo, o governo anunciou que vai enviar uma proposta ao Congresso Nacional para regulamentar a mineração nas terras indígenas.
"Nunca é tarde para ser feliz, 30 anos depois. Espero que este sonho pelas mãos do Bento (Albuquerque, ministro de Minas e Energia) e pelo voto dos parlamentares se concretize porque o índio é um ser humano exatamente igual a nós, tem coração, tem sentimento, tem alma, tem necessidade e tem desejos e é tão brasileiro quanto nós", disse Bolsonaro, em solenidade que comemora 400 dias de ações de seu governo.
O presidente disse saber que a proposta do governo vai sofrer pressão dos ambientalistas e foi irônico. "Vamos sofrer pressões dos ambientalistas? Ah, esse pessoal do Meio Ambiente, né? Se um dia eu puder, eu confino-os na Amazônia, já que eles gostam tanto do meio ambiente", afirmou.
No fim do mês passado, o presidente se envolveu em outra polêmica com indígenas ao falar que eles são cada vez mais "um ser humano igual a nós". A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) informou que iria processar Bolsonaro por crime de racismo devido à declaração anterior.
"O índio mudou, está evoluindo, cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós. Então fazer com que o índio cada vez mais se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, é isso que nós queremos", afirmou ele, em vídeo exibido nas redes sociais no mês passado.
A coordenadora-executiva da associação, Sonia Guajajara, rebateu o presidente na ocasião. "Nós, povos indígenas, originários desta terra, exigimos respeito! Bolsonaro mais uma vez rasga a Constituição ao negar nossa existência enquanto seres humanos. É preciso dar um basta a esse perverso!", disse ela, em publicação no Twitter.
Desde o início do governo, Bolsonaro vem defendendo que as reservas indígenas sejam abertas à agropecuária e à mineração, como forma de incentivar o desenvolvimento econômico da Amazônia.
No entanto, indígenas e ambientalistas temem que os planos do governo irão acelerar a destruição da floresta. No mês passado, em um manifesto povos indígenas afirmaram, ao fim de quatro dias de reuniões na reserva do Xingu, que Bolsonaro ameaça a sobrevivência dos índios por meio de "genocídio, etnocídio e ecocídio".
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