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Juros médios de financiamentos sobem em janeiro apesar de queda no cheque especial

27/02/2020 10h10

Por Marcela Ayres e Gabriel Ponte

BRASÍLIA (Reuters) - O estoque total de crédito no Brasil caiu 0,4% em janeiro sobre dezembro, a 3,463 trilhões de reais, num mês marcado por elevação dos juros médios apesar da queda acentuada no custo do cheque especial, divulgou o Banco Central nesta quinta-feira.

Em coletiva de imprensa, o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, atribuiu o recuo principalmente a fatores sazonais envolvendo determinadas linhas de operações de crédito livre para pessoas jurídicas, "como é o caso de desconto de duplicata e antecipação de fatura de cartão".

Entre outros fatores, ele também chamou atenção para a alta nas taxas do crédito livre para pessoas físicas --que engloba linhas de cartão de crédito e cheque especial. Considerando o segmento de recursos livres, no qual as taxas são definidas livremente pelas instituições financeiras, os juros médios subiram em janeiro a 33,7% ao ano, contra 33,4% em dezembro.

O spread --que mede a diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada a seus clientes-- ficou em 0,4 ponto percentual no mesmo período, a 28,3 pontos percentuais.

Por sua vez, a inadimplência em recursos livres subiu 0,1 ponto, a 3,8%.

Olhando para as modalidades mais caras, o cheque especial viu seus juros médios caírem 82 pontos percentuais sobre dezembro, a 165,6% ao ano, no primeiro mês em que passou a valer um limite para os juros do produto de 8% ao mês imposto pelo BC.

A taxa mensal do produto ficou em 8,5%, contra 10,9% ao mês em dezembro.

Em nota, o BC destacou que a estatística da taxa média de juros inclui os juros remuneratórios do cheque especial, que foram objeto da limitação anunciada no fim do ano passado, mas também os encargos fiscais e operacionais incidentes sobre a operação de crédito, bem como descontos decorrentes de benefício de prazo com isenção ou redução de juros na utilização do cheque especial.

Pela resolução editada pelo BC em novembro de 2019, que entrou em vigor em 6 de janeiro deste ano, limitando em 8% ao mês os juros cobrados sobre o valor do cheque especial utilizado por pessoas físicas e microempreendedores, em 12 meses, a taxa anual deveria girar em torno de 151,82%.

Questionado sobre a perspectiva de que os juros médios cobrados dessa modalidade recuem para esse nível, Rocha, do BC, disse "não esperar" ver essa queda pelos próximos meses porque o BC também contabiliza as despesas com o processo de adiantamento a depositantes, bem como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), encargos que acrescentam pontos percentuais no acumulado do ano.

Os juros médios no rotativo do cartão de crédito, por sua vez, sofreram ligeira variação para baixo, passando a 316,8% ao ano em janeiro, recuo de 2 pontos percentuais sobre dezembro.

HORIZONTE MAIS LONGO

Em 12 meses, a alta do crédito no país foi de 7%.

Para 2020, o BC previu em dezembro um crescimento de 8,1% no estoque de crédito, após elevação de 6,5% no ano passado.

Ao reduzir a taxa básica de juros a 4,25% neste mês, seu novo piso histórico, o BC avaliou que o maior papel desempenhado pelo crédito com recursos livres e pelo mercado de capitais devem impactar a transmissão da política monetária, parte da sua leitura de que o ajuste já feito nos juros básicos ainda vai surtir efeitos na economia à frente.

Em janeiro, o crédito livre passou a responder por 27,4% do PIB e o direcionado, a 20,1%. Um ano antes, esses percentuais eram de 25,3% e 21,6%, respectivamente.

Na semana passada, o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, também disse ser “natural” que, no atual ambiente econômico, boa parte dos 135 bilhões de reais liberados às instituições financeiras com as medidas de redução de compulsórios e ajuste nas regras de requerimentos de liquidez seja direcionada a empréstimos.