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ANÁLISE-Produtores de petróleo da América Latina suam para cobrir custos em meio à crise

24/03/2020 15h22

Por Marianna Parraga

CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - Uma guerra de preços entre gigantes globais do petróleo está deixando muitos produtores na América Latina lutando para cobrir custos de produção, aumentando as chances de cortes e atrasos nos investimentos nos próximos meses.

Os índices de referência globais dos preços do petróleo estão sofrendo seus declínios mais acentuados em décadas, em uma tempestade perfeita, com queda da demanda diante da pandemia de coronavírus e o aumento da oferta depois que a Rússia e a Arábia Saudita não chegaram a um acordo para reduzir a produção.

O petróleo nos EUA (WTI) caiu 29% na semana passada, seu maior recuo desde a Guerra do Golfo de 1991. Nas últimas duas semanas, a referência de mercado dos EUA perdeu cerca de metade do seu valor, enquanto o Brent caiu cerca de 40%.

O petróleo pesado da América Latina, indexado principalmente a esses índices de referência e ao tipo Maya, do México, acumulou queda de 42% no mesmo período, deixando alguns tipos com preços de um dígito, segundo cálculos independentes.

Especialistas e analistas esperam uma contração da demanda global de pelo menos 10% neste ano.

"Não haverá uma recuperação rápida desses preços baixos", disse um trader de petróleo da América Latina, que pediu para não ser identificado.

"Agora estamos vendo a destruição da demanda e todos sabemos o que vem depois disso: demissões, cortes de produção e investimentos adiados."

O custo médio de extração da América Latina para um barril de petróleo é próximo a 13 dólares desde 2019, excluindo custos indiretos e impostos, de acordo com um cálculo da Reuters baseado em dados fornecidos pela colombiana Ecopetrol, equatoriana Petroecuador, mexicana Pemex e brasileira Petrobras, bem como especialistas que acompanham a venezuelana PDVSA.

Até o mês passado, esses custos essenciais eram cobertos pelos preços de venda.

Mas a guerra de preços está secando as vendas spot de tipos pesados da América Latina, derrubando valores de referência regionais como o mexicano Maya, enquanto arrastou o principal petróleo da Venezuela, Merey, para apenas 8 dólares por barril na semana passada.

Com a demanda de combustível nos Estados Unidos --o principal mercado de petróleo da América Latina-- diminuindo à medida que o país entra em isolamento, o apetite por petróleo pesado das refinarias do Golfo dos EUA caiu.

Em 18 de março, o Maya do México caiu para o nível mais baixo em 18 anos, com as vendas na Costa do Golfo dos EUA fechando abaixo de 13 dólares por barril, de acordo com a S&P Global Platts, criando pânico entre os vizinhos.

O envio de petróleo da América Latina para mercados mais distantes, como a Ásia, proporcionou alguma saída para o petróleo, mas se as tarifas de frete aumentarem em meio a uma demanda crescente por armazenamento flutuante, essa avenida também poderá fechar nos próximos meses, disseram traders.

Com poucas opções na mesa, as operações de produção mais caras podem ser forçadas a reduzir a produção ou encerrar.

Isso geralmente inclui empreendimentos marítimos, como alguns campos de águas profundas e rasas no Brasil, onde os custos de produção no ano passado foram de duas a cinco vezes superiores aos 5,6 dólares por barril registrados no pré-sal, segundo dados da Petrobras.

Também estão em risco o petróleo extra pesado que precisa ser aprimorado, como a produção da Venezuela de suas joint ventures no Orinoco Belt e projetos de xisto, como muitos na Argentina.

"A Petrobras deve ter um desenvolvimento mais lento em seus investimentos, enquanto a Ecopetrol e a YPF (da Argentina) enfrentariam dificuldades, pois têm um preço de equilíbrio de 30 dólares por barril e 40 dólares por barril, respectivamente", disse a empresa de investimentos UBS, em nota aos clientes.

(Reportagem adicional de Alexandra Valencia em Quito, Adriana Barrera, Stefanie Eschenbacher e David Alire na Cidade do México, Gram Slattery e Marta Nogueira no Rio de Janeiro)