Bons preços do café e temor com coronavírus antecipam vendas de colhedoras da Pinhalense
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de café arábica do Brasil anteciparam as compras de colheitadeiras na fabricante de máquinas Pinhalense em março, em um movimento que refletiu o bom momento de preços da commodity e também uma precaução de cafeicultores à colheita manual em tempos de coronavírus, segundo o presidente da empresa que é a maior fornecedora global de equipamentos para o setor cafeeiro.
Ainda que essa antecipação de compras de colheitadeiras de café não seja um movimento generalizado no mercado brasileiro, mostra algumas estratégias de produtores para lidar com a pandemia, diante da colheita de uma das maiores safras do país, estimada pelo governo neste ano em cerca de 60 milhões de sacas.
Uma máquina de colher café arábica, variedade que responde por 75% da produção nacional do grão, pode fazer o trabalho de mais de 100 pessoas em um dia, algo relevante em um contexto de medidas contra a doença que buscam reduzir aglomerações.
"Teve o efeito coronavírus. O produtor, receoso de receber um número elevado de pessoas na colheita... e muito preocupado com restrições governamentais ao transporte de empregados... ele antecipou suas compras para o mês de março quando veio o coronavírus", disse o presidente da Pinhalense, Reymar Coutinho de Andrade, em entrevista por telefone.
Segundo ele, a companhia que comercializa outras máquinas para a indústria do café, como secadoras e beneficiadoras, registrou aumento nas vendas de colhedoras de 30% na comparação com março de 2019, com muitos negócios antes esperados para abril e maio sendo realizados no mês passado.
E, diferentemente da maioria das fabricantes de máquinas em férias coletivas devido ao coronavírus, a empresa segue operando em suas três fábricas de Espírito Santo do Pinhal (SP), ainda que com menos funcionários, para atender a demanda e ao mesmo tempo seguir as recomendações sanitárias contra a disseminação do vírus.
Com o preço do café no mercado brasileiro avançando 15% em março, para patamares nominais nunca vistos, próximos de 600 reais a saca de 60 kg --diante de uma oferta apertada, preocupações com a logística de colheita no maior produtor e exportador global e de um dólar em máximas históricas, o que ajuda na formação dos preços na moeda brasileira--, produtores têm aproveitado para fazer negócios.
E isso ajudou nas vendas de equipamentos da Pinhalense, que cresceram 38% no primeiro trimestre, considerando todos os tipos de máquinas. "O produtor estava se remunerando mais neste primeiro trimestre... capitalizado e com capacidade de investir, com uma safra grande pela frente, então ele demandou por equipamentos", explicou Andrade.
OUTRA REALIDADE
Outra fabricante nacional de máquinas agrícolas, a Jacto, líder no mercado de colheitadeiras de café e pioneira no segmento, informou à Reuters não ter registrado antecipação de vendas, "mesmo com o café passando por um momento de melhores preços", uma diferença em relação à Pinhalense que pode ser explicada pelo modelo de negócio de cada empresa.
A Jacto, que produz também diversos tipos de máquinas agrícolas para outras culturas, disse que, normalmente, a produção de colhedoras de café ocorre no período entre novembro e março, e ressaltou que uma parada nas fábricas em função do coronavírus que vai se estender até o dia 13 não deve prejudicar os negócios, uma vez que a companhia faz sua previsão de vendas com antecedência.
"Acreditamos que os negócios vão se concretizar, que atingiremos nossos objetivos, mas numa velocidade menor do que esperávamos", disse diretor comercial da Jacto, Valdir Martins, sem dar detalhes.
Andrade, da Pinhalense, também ponderou que os negócios como um todo, não só de colhedoras, tendem a esfriar à medida que o coronavírus passa a afetar com mais força a economia.
Embora já tenha reduzido sua meta de vendas totais de aumento 10% para 5% no ano (incluindo todos os equipamentos), o presidente da Pinhalense não descarta que os negócios de colhedoras prossigam firmes, por tudo que o equipamento oferece ao produtor nesse momento. "Talvez eu possa chegar em maio e possa dizer que novas vendas ocorreram, que seja um movimento de mercado (e não somente uma antecipação)."
Segundo ele, a negociação recente de colhedoras, que custam cerca de 650 mil reais a unidade, esteve associada a áreas que ainda têm colheita manual, como o Sul de Minas e Mogiana, mas também envolveu produtores que estão renovando o maquinário e outros que geralmente utilizam equipamentos locados, mas que ficaram com receios de não encontrar a disponibilidade do serviço este ano.
A mecanização da colheita, segundo avaliação do Conselho Nacional do Café (CNC), já atinge cerca de 70% da área do Brasil, especialmente de lavouras de arábica, dominantes no país. No restante da safra, de grãos robusta (conilon), a colheita é manual ou semi-mecanizada, e as estratégias são outras, pelas características da variedade.
No conilon, já há alguma atividade de colheita precoce, enquanto no arábica só começa em maio, geralmente.
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