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Não sou favorável a BC imprimir dinheiro, diz Campos Neto

09/04/2020 16h48

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que não é favorável à ideia de o BC imprimir dinheiro como uma das soluções para a atual crise, já que isso poderia elevar os juros neutros.

"O argumento de que eu vou imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é um argumento perigoso", afirmou Campos Neto, argumentando que, ao imprimir dinheiro para tentar levar a inflação à meta, a autoridade monetária contribuiria para elevar o equilíbrio de juros neutro da economia.

Em entrevista por videoconferência ao portal UOL, ele afirmou que "a saída não é por aí", ao responder a pergunta sobre declaração do ex-presidente do BC Henrique Meirelles favorável à emissão de moeda.

Meirelles, hoje secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, disse à BBC Brasil esta semana que o BC poderia expandir a base monetária para recompor a economia sem correr o risco de alimentar a inflação porque a economia está muito fraca.

Campos Neto voltou a fazer um apelo para que contratos não sejam descumpridos durante a crise causada pelo coronavírus, frisando que isso será determinante para uma recuperação com mais força da economia à frente.

"O formato da nossa volta vai depender de muitos fatores, mas tem um fator que tem me preocupado e acho que é muito importante passar a mensagem, que é todos nós temos que cumprir contratos, é importante cumprir contratos na economia", afirmou.

Campos Neto afirmou que isso não quer dizer que as partes não possam renegociar, desde que assim entendam. Mas frisou que, se governos permitirem a quebra de contratos e se grandes empresas forem por esse caminho, a recuperação da economia será "muito mais lenta e muito mais sofrida".

PERDEDORES E GANHADORES

Sobre os setores mais prejudicados com a paralisação da economia por conta das medidas de isolamento para desacelerar o contágio do coronavírus, Campos Neto citou o de aviação e o de automóveis.

De acordo com o presidente do BC, na última reunião envolvendo integrantes do Ministério da Economia e do BNDES, houve entendimento que é importante ajudar a aviação pelo fato de este ser um setor que, com ruptura, demora a voltar.

Campos Neto também disse que grande parte dos setores de serviços vão ter problemas.

Na ponta dos ganhadores, ele afirmou que vendas de supermercados e farmácias até subiram ligeiramente, com o comércio online também crescendo pouco ou ficando estável.

Sobre o formato de eventual ajuda a grandes empresas, Campos Neto afirmou que os programas estão sendo "totalmente" desenhados e organizados pelo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, mas afirmou ter participado com ele de alguns debates.

Ecoando comentários feitos na véspera, o presidente do BC disse que estão sendo analisados dois formatos de ajuda para as grandes empresas.

Um desenho é o de first loss via uma espécie de fundo garantidor de crédito, para apoio do governo na contratação de crédito. Para as empresas com alto endividamento, ele voltou a ponderar a necessidade de um outro modelo, que envolva participação em ações nessas companhias.

"Para essas empresas muito grandes que têm muita dívida, não adianta você só ficar colocando dívida, em algum momento é necessário também colocar equity. Por que? Porque se você afeta demais a estrutura de capital da empresa, depois no pós-crise ela vai ter só dívida e vai ter dificuldade de captação."

Campos Neto destacou ainda que o BC não "dá dinheiro, não ajuda diretamente empresas" e que BNDES e Ministério da Economia estão analisando essas questões e olhando prioridades.

(Com reportagem adicional de Gabriel Ponte)