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Desesperados, vulneráveis desafiam riscos e se aglomeram em filas para receber auxílio emergencial

27/04/2020 19h58

Por Rodrigo Viga Gaier e Ricardo Moraes

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Entre o risco de contrair o coronavírus e a necessidade de colocar comida dentro de casa, a diarista Ana Paula Santos não se importou em encarar uma fila longa na porta de uma agência bancária no Rio de Janeiro, durante várias horas, para tentar receber nesta segunda-feira o auxílio emergencial do governo.

Apesar das medidas de isolamento social estabelecidas pelo governo do Rio de Janeiro para deter o avanço da Covid-19, filas se formaram em agências bancárias em diversos pontos da capital fluminense no primeiro dia de pagamento em espécie do benefício de 600 reais concedido pelo governo à população vulnerável durante a crise do coronavírus.

Alguns, como Ana Paula, recorreram ao banco mesmo sem saber se conseguiriam receber o dinheiro, diante de diversos relatos de pessoas que tiveram problemas para se registrar no sistema.

"Estou precisando dessa ajuda. Sou mãe, tenho dois filhos e precisamos comer e pagar as contas", disse a diarista, de 36 anos, enquanto aguardava em uma fila em Copacabana.

O auxílio emergencial foi aprovado pelo Congresso no valor de 600 reais mensais durante três meses, em acordo com o governo federal, após a equipe econômica do governo Bolsonaro ter proposto inicialmente o valor de 200 reais para o benefício.

De acordo com a Caixa, o governo já pagou a primeira parcela a 39 milhões de cidadãos, mas o dinheiro só estava disponível para ser usado de forma eletrônica até esta segunda-feira, quando foi liberado o saque do primeiro grupo.

Segundo o banco, o total de beneficiários pode chegar a 60 milhões de pessoas. A Caixa disse que estabeleceu um calendário de saque em espécie "com o objetivo de evitar aglomerações nos pontos de atendimento, o que exporia empregados, parceiros e clientes ao risco de contágio do novo coronavírus".

Apesar da medida, muitas pessoas precisaram esperar por horas na fila. Sem emprego e com um filho bebê, Milayde de Oliveira esperou quase cinco horas, mas saiu com as mãos vazias. Ela disse que houve um problema com a documentação.

"Eu moro sozinha, preciso desse dinheiro. Eu fico assim, eles não estão nem aí. Está muito difícil, ficar pedindo comida para os outros", disse, chorando, em uma agência da Tijuca, na zona norte da cidade.

O vendedor ambulante Josinaldo Santos, de 52 anos, comemorou ter sido aprovado para receber o dinheiro, que representa um alívio diante de tantas dificuldades.

"Vim tirar o dinheiro porque tenho que pagar umas contas e uns materiais que comprei. Botei a máscara e seja o que Deus quiser.“

(Reportagem adicional de Aluisio Alves, em São Paulo)