Em depoimento, Heleno diz que Bolsonaro tentaria trocar segurança pessoal, se estivesse falha
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro disse na reunião ministerial do dia 22 de abril que, se sua segurança pessoal estivesse falha, "tentaria trocá-la" e que, "se não conseguisse, trocaria o chefe podendo chegar ao diretor e até o ministro".
No depoimento de Heleno não há nenhuma menção expressa a eventual troca na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, conforme havia alegado o ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
A fala de Heleno segue a mesma linha do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, que afirmou que Bolsonaro, naquela reunião, havia revelado sua intenção de trocar a "segurança do Rio de Janeiro", referindo-se à segurança pessoal dele, a cargo do GSI, não tendo relação com a Polícia Federal. [nL1N2CV00E]
Moro acusa Bolsonaro de ter cobrado naquela reunião a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, sob ameaça de sua demissão assim como a do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo.
Os depoimentos dos ministros estão em linha com o que o próprio presidente disse na terça.
Em duas entrevistas, após a transmissão do vídeo a envolvidos no caso, Bolsonaro disse que em nenhum momento falou em Superintendência nem em Polícia Federal na reunião ministerial do dia 22, indicando uma estratégia para tentar se desvincular das acusações de Moro.
Em seu depoimento, Heleno disse que Bolsonaro fez uma cobrança de "forma generalizada a todos os ministros na área de inteligência" na reunião ministerial. Segundo ele, a queixa seria da "escassez de informações de inteligência que lhe eram repassadas para subsidiar suas decisões, fazendo citações específicas à sua segurança pessoal", mencionando a Abin, a PF e o Ministério da Defesa.
Augusto Heleno disse ter tido conhecimento que o presidente cobrava maior desempenha da PF no Rio no combate à corrupção, inclusive envolvendo hospitais federais.
O ministro do GSI disse ainda que a mudança do cargo de diretor-geral da PF é uma "atribuição indiscutível" do presidente, que deveria ocorrer sem traumas.
"INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA"
Também em depoimento no âmbito do mesmo inquérito, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse que por várias ocasiões Bolsonaro reclamou da velocidade e da qualidade dos relatórios que recebia do Serviço Brasileiro de Inteligência --que inclui a PF e a Abin, de acordo com documento a que a Reuters teve acesso.
Ramos disse ainda que, na reunião de 22 de abril, Bolsonaro cobrou todos os ministros e disse: "vocês precisam estar comigo". De acordo com o chefe da Secretaria de Governo, o presidente citou, a título de exemplo, que se estivesse insatisfeito com sua segurança pessoal no Rio de Janeiro trocaria o chefe responsável por ela e, se não resolvesse, trocaria o ministro, olhando neste momento em direção a Heleno.
De acordo com Ramos, em seu depoimento, Heleno estava sentado em lado oposto a Moro. Para o chefe da Secretaria de Governo, pode ter havido "interpretação equivocada" por parte de Moro da declaração de Bolsonaro na reunião.
De acordo com o depoimento, Ramos disse ainda que Bolsonaro não disse na reunião que se não pudesse trocar o diretor-geral da Polícia ou o superintendente do órgão no Rio de Janeiro, que trocaria Moro.
(Reportagem de Ricardo BritoEdição de Alexandre Caverni e Camila Moreira)
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